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Adeus, 50 Tons? Livros eróticos começam a ter mulheres nada submissas

Josy Stoque, autora da trilogia "Puro Êxtase": "Demorei a me assumir como feminista" - Divulgação
Josy Stoque, autora da trilogia 'Puro Êxtase': "Demorei a me assumir como feminista" Imagem: Divulgação

Marcos Candido

Do UOL, em São Paulo

30/09/2017 04h00

Você se lembra de "Cinquenta Tons de Cinza"? A obra de E.L. James influenciou dezenas de novos escritores de literatura erótica, mas o enredo protagonizado por Anastasia Steele e Christian Grey (a moça frágil e o galã milionário) já não é a principal referência entre autores do gênero. No Brasil, cresce o número de ficções com heroínas abertamente feministas: elas experimentam na cama, mas também mostram às leitores maneiras de detectar comportamentos abusivos.

'Pornografia para mulher'

Adepta da nova abordagem, a escritora Josy Stoque, autora de 15 livros eróticos, diz que após ter se assumido como feminista, passou a tomar cuidados para retratar a sexualidade das personagens. “Ela é 100% individual. Nada do que ela faz é por imposição do outro”, explica.

“Elas leem e se veem como sexualmente ativas durante uma relação sexual, e que podem opinar e transar como preferir”, diz. “A literatura é como se fosse uma pornografia para mulheres”.

“Muitas leitoras tiveram relacionamentos abusivos e começaram a falar que nós, autoras, somos formadoras de opinião"

O sucesso dos livros fez Josy abandonar a carreira como publicitária, em 2015, para viver da venda de e-books e livros impressos. As histórias foram vertidas para o inglês pela gigante do e-commerce Amazon. 

Influenciadora

É difícil mensurar, de maneira específica, o tamanho do mercado de livros eróticos no Brasil. "Grey", último livro da série "Cinquenta Tons", teve mais de 270 mil cópias vendidas entre o lançamento em 2015 e 2016. Também há grupos no Facebook, exclusivos para mulheres, com milhares de leitoras fãs do tema --o que dá uma ideia do sucesso do tema e da influência sobre quem escreve.

“Muitas leitoras tiveram relacionamentos abusivos e começaram a falar que nós, autoras, somos formadoras de opinião e precisamos mostrar para a galera, por vezes má instruída sobre sexualidade, o que é comportamento abusivo e o que não é”, explica S. Miller, heterônimo usado pela escritora Ivânia Gomes.

Em um dos últimos livros, Ivânia criou uma personagem negra e feminista para discutir violência e racismo. Ela também já descreveu como um estupro afetava uma de suas personagens. “Mostro o lado da vítima”. 

Os livros de literatura erótica feminista custam bem barato: há cópias que saem por apenas R$ 2. Ivânia diz que o valor é estratégico. “É importante ser acessível a qualquer mulher”, conclui.