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Mulheres contam as maiores culpas que surgiram com a maternidade

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Imagem: Getty Images

Thais Carvalho Diniz

Do UOL, em São Paulo

06/10/2017 04h00

Por mais injusto que possa parecer, o sentimento de culpa é algo que chega junto com a maternidade. Os motivos vão dos mais comuns, como os planos de parto e amamentação não saírem como o desejado, até aqueles que surgem depois do período de licença, como o fato de deixar o filho para voltar ao trabalho.

Cada uma segue e lida com suas dores de uma forma. E é bom que seja assim. Segundo Anna Mehoudar, psicanalista do Gamp 21 (Grupo de Apoio à Maternidade e Paternidade), ser mãe [e pai] é um aprendizado contínuo, que não termina no primeiro mês ou ano dos filhos.

"No começo da vida materna, a mulher precisa lidar com a ambivalência de ter nos braços algo que sempre quis (ou não necessariamente) e sofrer por tê-lo. O conflito psíquico está presente. Nesses momentos, o entendimento de que a figura dela como pessoa não se desfez com a chegada do bebê é essencial."

Além disso, a especialista cita a pressão da sociedade, que idolatra a infância e faz a mãe se sentir culpada por não cuidar da criança da forma "ideal". "É perfeitamente aceitável que os pais queiram dar tudo do bom e do melhor, mais do que tiveram e o famoso discurso de não cometer os erros daqueles que os criaram. Entretanto, não é possível ter controle de tudo e, muitas vezes, os planos não saem como previstos e o filho está 'muito bem, obrigada'".

Diante de todos esses embates, é preciso procurar ajuda, seja especializada, na terapia, ou em grupos para que encontre semelhantes.

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A seguir, conversamos com cinco mulheres sobre as culpas que as acompanham na caminhada da maternidade. 
 

Terapia me fez entender que não posso fazer o papel do pai

"Desde que meus filhos tinham 2 e 3 anos, sou separada do pai e me sinto muito culpada pela responsabilidade de cria-los sozinha. Preciso responder pela educação, valores e tudo o que tange a formação deles como ser humano, e não sinto que faço com excelência. Tento dividir esses conflitos com meu ex-marido, que só convive com as crianças de 15 em 15 dias, mas sou ignorada. Além dessa falta de apoio do pai deles, conto com a cobrança dos familiares. Quando me vi sem ânimo, paciência e descontando nos meus filhos toda essa frustração, comecei a fazer terapia. Estava enxergando o meu papel como 'o chato' da vida deles, mas, hoje, também com a ajuda de grupos relacionados à maternidade, consegui ampliar minha visão sobre o assunto. Sigo sem apoio e reconhecimento, mas entendi que não posso deixar de fazer o meu papel de mãe, mas que não sou o pai. A responsabilidade é dele e não devo me culpar pela atitude dos outros", Daniela, 34, mãe de duas crianças, de 7 e 8 anos.


Minha filha estava abaixo do peso por minha culpa

"Ser mãe é a experiência mais legal e sofrida que o ser humano pode viver. É uma mistura de sentimentos. Ao mesmo tempo que amo minha filha de uma forma indescritível, já tive (e tenho) pensamentos de arrependimento por ter decidido tê-la. Então, no primeiro sorriso, vem a culpa de ter sentido isso. Eu não tive o parto que desejei, passei por uma cesárea depois de cerca de sete horas em trabalho de parto. Fiquei muito frustrada. Depois disso, quando ela estava com três meses, em uma consulta com o pediatra, descobri que meu leite não era o suficiente. Aquilo me arrasou. Minha filha estava abaixo do peso porque eu não era capaz de alimentá-la da maneira correta? Até hoje não consigo entender como tinha tanto leite, ouvia o choro e não percebia que era fome porque ela tinha acabado de passar mais de uma hora no peito. Acho que esse remorso seguirá para sempre, mas também penso que faz parte dessa loucura que é a maternidade", Sandra, 32, mãe de uma menina de 2 anos. 


Não senti nada quando vi meu filho pela primeira vez

"Eu vejo muitas mães falando sobre o imenso amor que sentiram na primeira vez que viram seus filhos. Eu não senti nada. Agora, quase um ano depois do nascimento, sinto amor por ele, muito, mas não consigo aceitar a maternidade. Passei a gravidez inteira chorando, foi --e é-- muito complicado. Tudo aconteceu num susto. Eu tinha muitos planos e está sendo difícil abrir mão, principalmente porque me tornei dependente financeiramente por não poder voltar a trabalhar ainda. Penso que ter um filho é uma grande responsabilidade que devemos escolher ter em nossas vidas. A culpa de sentir e pensar tudo isso vem mais de mim do que dos outros. Eu me julgo. Mas comecei a fazer terapia e acredito que irá me ajudar", Aline, 18, mãe de um menino de 11 meses. 


Não consegui criar a sonhada rotina e me culpo por isso

"Minha filha vai completar dez meses e eu ainda não conseguir a tal rotina que tantos falam que o bebê precisa. Ela dorme, toma banho e faz as refeições em horários diferentes. Por isso, o sono dela é difícil, demora demais para conseguir dormir e fica estressada por isso. Não sei se isso interfere na forma como ela se alimenta e sempre me culpo por achar que ela poderia comer melhor. Por mais que eu me esforce e faça as comidinhas de variadas formas, não tenho o retorno que gostaria. Tudo isso serve de munição para os palpiteiros de plantão, que vivem dizendo o que eu deveria fazer sem sequer perguntar minha opinião ou conversar para ajudar de fato", Laila, 25, mãe de uma menina de dez meses. 


Deixei minha filha morando com a avó para voltar a estudar

"Minha filha nasceu quando eu tinha 18 anos. A maior culpa que sinto é de ter parado de amamentar quando ela tinha 1 ano e 4 meses. Precisei deixa-la morando com a avó e fui estudar e trabalhar em uma cidade que fica cerca de 100 km de distância. Não tive o apoio do pai, que só aparecia em casa à noite, quando nós duas já estávamos dormindo. Foi muito triste passar por esse processo, ver minha filha chorando porque queria meu peito. Mas eu tinha que seguir a outra parte da minha vida. Nunca deixamos de conviver, sempre que é possível, estamos juntas. Entretanto, tenho que lidar com o sentimento de que eu deveria ter deixado tudo para trás para poder ficar com ela", Camila, 23, mãe de uma menina de cinco anos.