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8 razões para não fazer a divisão "brinquedo de menina e de menino"

Getty Images
Imagem: Getty Images

Heloísa Noronha

Colaboração para o UOL

11/10/2017 04h00

Menina pode brincar de casinha, de fazer comidinha, de cuidar do bebê. Menino pode brincar de carrinho, de salvar o mundo, de explorar a floresta. Ideias ultrapassadas, que reproduzem padrões do passado, quando as únicas atividades destinadas (e permitidas) às mulheres eram cuidar da casa e dos filhos, enquanto o homem trabalhava. As funções mudaram no século 21, mas alguns conceitos ainda persistem. Veja, a seguir, motivos para deixar de lado de uma vez a história de que existe brinquedo de menina e de menino.

1. Não ensine ou reforce preconceitos

Crianças não têm preconceitos de gênero e parecem saber intuitivamente o que, na prática, é verdade: ela pode brincar do que quiser. Quando brincam com outras crianças, meninos e meninas não estão nem aí para papéis construídos culturalmente. São os adultos que esperam que ajam de um jeito ou de outro. Consequentemente, devem brincar dessa ou daquela forma. Quando limitamos os papéis dos filhos ("isso pode", "isso não pode"), interferimos no processo de aprendizagem e estimulamos preconceitos futuros, como "mulher só pilota fogão" ou "homem que é homem não chora".

2. Fantasiar estimula as habilidades emocionais e a criatividade

Ao terem a chance de desempenhar diferentes papéis nas brincadeiras  –pais, filhos, super-heróis, vilões, cozinheiros, caminhoneiros, professores, monstros, bombeiros, caixas de supermercado etc., meninos e meninas acabam desenvolvendo melhor suas habilidades emocionais e o poder de criação. Fantasiar é um importante mecanismo que estimula a imaginação, a ficção e a idealização que ajuda a construir uma visão do mundo, das emoções e de si próprio.

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3. Brinquedo é apenas um objeto

Sim, que nas mãos dos pequenos ganha vida, cor, som, narrativa, sentido... Quem atribui gênero aos brinquedos são os adultos, o comércio, a publicidade. Os estereótipos estão no mundo que os cercam, sobretudo nos adultos com os quais convivem, que têm a função de modelos e, portanto, agem diretamente na internalização de estereótipos, preconceitos, desrespeito à diversidade. A criança vai aprender a ler o mundo da mesma forma com que vê seus modelos identificatórios fazerem.

4. É uma oportunidade de rever os próprios preconceitos

Muitos adultos continuam a fazer distinção entre brinquedos "de menino e de menina" porque aprenderam que isso era o certo, por pura falta de oportunidade de vivenciar experiências sociais mais ricas em diversidade. Porém, nunca é tarde para mudar a forma de pensar.

5. Brinquedo não tem nada a ver com orientação sexual

Não são poucos os pais que morrem de medo de que os filhos, no futuro, tenham uma orientação sexual diferente do sexo biológico. É importante que se compreenda que o fato de um menino brincar com uma boneca e de uma menina brincar com carrinho significa apenas uma nova vivência que desenvolve o cérebro e o aprendizado de habilidades humanas, como as de cuidado, autonomia, trabalho em equipe, organização, generosidade, amizade, empatia, criatividade, entre outras.

6. Quem brinca com o que quer cresce mais livre

Ao brincar com todos os brinquedos que desejam, os pequenos não deixam que ideias, costumes e hábitos limitem suas formas de conhecer e vivenciar o mundo, determinando o que devem ser, o que devem pensar e que espaços deverão ocupar socialmente no futuro.

7. Brincar é uma forma de aprender o mundo

Principalmente, o dos adultos. Isso inclui ações que tanto o pai quanto a mãe desempenham: trabalhar fora, cuidar de um bebê, dirigir, preparar comida. E, diante de uma nova realidade onde os papéis entre o masculino e feminino se misturam, o brincar de casinha ou de lavar um carro torna-se ainda mais importante para a criança, pois a prepara para uma vida adulta emocionalmente saudável e isenta de preconceitos.

8. As coisas estão mudando, ainda bem!

Ainda são muitas as marcas e lojas de brinquedos que ainda acreditam que os brinquedos "ativos" (helicópteros, caminhões de bombeiro, naves espaciais) agradam aos meninos, enquanto os "passivos" (bonecas, penteadeiras, geladeiras) servem para as meninas --uma demonstração clara e cruel dos papéis que a sociedade espera que assumam no futuro. A passos lentos, mas significativos, isso vem mudando: já é possível ver nas lojas imagens de meninos e meninas brincando harmoniosamente em embalagens de fogõezinhos, geladeiras, kits de química e de blocos de construção.

 FONTES: Ana Paula Loureiro e Costa, pedagoga, psicopedagoga, membro da Diretoria e do Conselho Nacional da ABPp (Associação Brasileira de Psicopedagogia); Cássio Frederico Veloso, psicólogo ligado à SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria); Cristiane Moraes Pertusi, doutora em Psicologia do Desenvolvimento Humano pela USP (Universidade de São Paulo); Dora Lorch, psicóloga e autora do livro "Como educar sem usar violência" (Summus Editorial), e Liubiana Arantes de Araújo Regazzoni, neuropediatra e presidente do Departamento Científico de Pediatria do Desenvolvimento e Comportamento da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria)