Madrastas e mães unem forças para criar crianças felizes
Quando a pesquisadora de elenco Renata Medeiros, 41, fica presa no trabalho até mais tarde, ela não tem dúvidas: liga para Valeska Zamboni, 40, madrasta de sua filha e pede que busque a Maria Laura, 13, na escola. "Não tem isso de competição, ela é minha aliada. Afinal, a gente está no mesmo barco", diz a mãe.
Na relação delas, não existe espaço para a ideia de madrasta má. E elas não são as únicas. "A relação entre mães e madrastas está mudando. Já não predominam mais essas ideias de que elas não podem se dar bem ou de que a madrasta é ruim", diz Gabriela Malzyner, mestre em psicologia pela PUC-SP. Uma mudança que beneficia todo mundo, principalmente as crianças.
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Todo mundo sai ganhando
Lorenzo, 13, tem a guarda compartilhada entre os pais: passa 15 dias com a mãe, Gaia Passarelli, e 15 com seu pai e a madrasta, Érika Brandão, 46. Como o pai trabalha fora, Érika acaba sendo quem "pega mais no pé" no dia a dia. "Eu não assumo o papel de mãe, mas ajudo a desenvolver os valores dele", diz ela.
Para Gaia, o filho só tem a ganhar com a boa relação entre elas. "Crianças aprendem principalmente por exemplo. Se você quer criar um humano capaz de se relacionar bem com as pessoas, o trato diário com as mais próximas é um dos melhores que você pode dar", defende a mãe.
As especialistas ouvidas pela redação concordam com ela. Segundo a psicóloga Ellen Moraes Senra, o cenário de competição entre as mulheres pode ser prejudicial para os pequenos. "A mãe é a principal figura de apego da criança. Se vê que existe uma outra que faz mal para ela, o filho se sente na obrigatoriedade de não gostar da madrasta. Isso o deixa confuso", explica.
O restante da família também se beneficia com a parceria: a colaboração na educação diminui o peso de tarefas como cobranças e broncas, ao mesmo tempo em que a mãe passa a contar com mais uma aliada na distribuição dos afazeres práticos. Considerando que ainda são as mulheres as principais responsáveis pelas crianças, a ajuda de outra parceira diminui o fardo.
Além disso, as duas podem compartilhar questões que nem sempre os pais entendem. Como diz Valeska: "eu sei pelos problemas que ela passa, ela sabe dos meus. Ser mulher, cuidar da casa trabalhar fora. O olhar é mais de cumplicidade". As duas estão cada vez mais próximas e hoje as conversas nem sempre giram em torno de Maria Laura.
É preciso alinhar as regras
A parceria entre madrastas e mães não quer dizer que ambas assumem o mesmo papel, mas o contrário: que existe um diálogo aberto para compartilhar e conversar sobre a criação dos pequenos.
"Cada uma tem suas peculiaridades, é claro, mas tem coisas que a gente combinou, para que tenha um fio condutor na educação dela", diz Renata sobre o combinado com Valeska. Entre elas não há nenhum problema em ligar para tirar dúvidas ou contar algo que aconteceu com a menina. "Antes nosso contato era por meio do meu marido, mas hoje a gente se fala direto. Às vezes a Renata me liga, pedindo para eu buscar a filha, porque ficou presa no trabalho. Eu sou um backup para ela", conta Valeska.
Para Ellen Moraes, esse diálogo é essencial. "Formas de educar e punir têm que ser bem alinhadas entre todas as partes", diz ela, explicando que se não houver alinhamento pode se criar uma situação em que uma das pessoas se torne a boazinha, mais permissiva, enquanto a outra se torna a brava, responsável pelas broncas. "Esse mesmo acordo tem que existir com os pais e padrastos, todo mundo na mesma página".
"Ela não é minha inimiga"
Essa mudança na relação pode ter vários motivos. Para a psicóloga Gabriela Malzyner, a principal razão está nas novas configurações familiares. "Estão sempre surgindo modelos e papéis nas famílias e as relações vão mudando", diz.
As entrevistadas também citam uma mudança no olhar das mulheres umas para as outras. Ao invés de enxergarem como inimigas em uma competição pelo homem, elas estão passando a se ver como parceiras. "O que mais mudou foi a cabeça das mulheres. Antes tinha essa coisa da mãe achar que a madrasta quer roubar seu lugar, ao mesmo tempo em que a madrasta queria impor o seu espaço. Agora não, a gente está vivendo um tempo de dividir, entender que somos parceiras e não inimigas", explica Valeska.
Segundo Ellen Moraes, essa rivalidade era vista como natural até recentemente. "Hoje, eu vejo que a preocupação com o bem-estar da criança também está superando isso".
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