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12 passos para lidar com um filho que pratica bullying

Getty Images
Imagem: Getty Images

Heloísa Noronha

Colaboração para o UOL

08/11/2017 04h00

A criança ou adolescente que comete bullying nem sempre é um vilão. O comportamento agressivo pode ser um pedido de ajuda, um sinal de baixa autoestima, desejo de ser escutado e, principalmente, reflexo das atitudes da própria família. Se você descobriu ou chegou à conclusão que o seu filho é o valentão da escola, reflita através dessas orientações:

Sinais entregam um "valentão"

Observar sempre os filhos ajuda a perceber mais rapidamente mudanças de comportamento. Apesar de, na maioria dos casos, o bullying acontecer entre os muros da escola --e ser informada à família pelos professores ou pela direção, há algumas atitudes que "entregam". Crianças e adolescentes do tipo "valentões" agem com pouca empatia com os outros, não se preocupam em agradar a ninguém, têm um modo de falar sarcástico, não obedecem figuras de autoridade e querem impor suas vontades.

Face brincalhona e sarrista

Por outro lado, os que praticam bullying podem ser sedutores, engraçados, divertidos... E ainda mentirosos e dissimulados. Outras ações recorrentes: costumam se mostrar corajosos, desqualificam atitudes corretas, fazem julgamentos ridicularizando ações de respeito ao próximo e desmerecem quem mostra sensibilidade com o sofrimento alheio.

Veja se um irmão pode ser um fator detonador

A agressão com o outro pode surgir a partir de uma humilhação sofrida em casa, imposta por um irmão --uma maneira meio torta de se "vingar" desse mau trato seria passá-lo adiante. Porém, o irmão também pode ser uma vítima e alvo de agressões, ciúme, inveja. É preciso prestar atenção se há rivalidade fraterna e numa possível linguagem de violência que pode predominar na relação entre os irmãos.

Reveja a dinâmica familiar

Em boa parte dos casos, a criança ou o adolescente que pratica o bullying não tem em casa, na mesma proporção, o amor e o limite. Uma das hipóteses é que trata-se de um ambiente onde há omissão, desvalorização e/ou excesso de autoridade com base em maus tratos. A criança percebe que não há justiça, respeito, amor e repete esse comportamento fora do lar. Por outro lado, pais muito permissivos acham que estão transmitindo amor, mas na verdade a impressão que passam é que pouco se importam. Ao se darem conta de que o filho é um bully, o ideal é que revejam a conduta como pais.

Você estimula esse comportamento sem perceber?

meninos que são incentivados pela própria família a serem “machos”, no sentido de depreciar as meninas e a serem o “valentão” da turma. É preciso que entrem em sintonia com a carência afetiva do filho. Reflita sobre as próprias insuficiências e deficiências e se mostre aberto ao diálogo. Às vezes, o bullying é praticado por questões internas do filho que vão além da conduta dos pais. Nem sempre os pais são responsáveis por tudo.

Ouça o que a escola tem a dizer

Evite justificar o comportamento da criança ou do adolescente, culpar os colegas ou insinuar que os professores estão “de marcação” com seu filho. Muitos pais se surpreendem porque não observam condutas agressivas do filho em casa. Embora alguns sinais sejam bem evidentes, não é raro que crianças e adolescentes apresentem comportamentos diferentes em diversos contextos de convivência.

Nem tudo é brincadeira, não

Muitos autores de bullying se justificam dizendo que estão apenas brincando e que os amigos não sabem brincar. No entanto, brincadeiras que ofendem, humilham ou intimidam os outros não são brincadeiras, são padrões de agressão. Para romper esse padrão, é fundamental seguir as orientações e a política da escola.

Encare o comportamento do seu filho como um pedido de ajuda

Agredir colegas nada mais é do que meninos e meninas que estão chamando a atenção para si de forma bem desequilibrada e negativa. O bullying, via de regra, está intimamente ligado à autoestima. Por trás de toda violência há carências e necessidades afetivas que não foram atendidas. o garotos cheios de raiva e mágoa. A força, a perspicácia da maldade e a negatividade são as ferramentas que arrumam para ganharem o reconhecimento e a aceitação do grupo.

Converse de cabeça fria

Coloque-se sempre ao lado de seu filho, dizendo que quer e vai ajudá-lo. Deixe as frases moralistas de lado, pois elas só prejudicam. Humilhar, xingar, castigar e/ou intimidar não favorecem o diálogo nem a expressão de pensamentos. Porém, mantenha a firmeza e explique a gravidade da situação. A criança ou o adolescente tem de saber as consequências dos atos que vem praticando, pois, caso contrário, pode se tornar alguém que bate, espanca ou comete atrocidades piores na idade adulta só por não suportar as diferenças.

Saiba escutar

Outro ponto importante: escute seu filho. A raiva e a revolta que motivam condutas agressivas costumam encobrir a sensação de não conseguir se destacar ou obter atenção de outra forma a não ser com comportamentos inaceitáveis. Quando são escutados, os filhos podem refletir melhor sobre o que fizeram e descobrir o que poderiam ter feito em vez de ações de humilhar ou maltratar alguém. 

Perdoe, de verdade, a atitude da criança ou do adolescente

Isso não significa “passar a mão na cabeça” nem negar o que aconteceu. Mas é bom exercitar a compreensão e dar um voto de confiança. Onde não há perdão, não há amor nem a possibilidade de acontecer a construção de uma boa autoestima.

Avalie a necessidade de medidas mais efetivas

Em parceria com a escola, cheque se é preciso o apoio de um psicólogo para ajudar seu filho a lidar melhor com os próprios sentimentos. Em algumas circunstâncias, a prática do trabalho voluntário e/ou com a comunidade ajudam a exercitar a empatia e a compaixão, principalmente se a criança ou o adolescente contar com a companhia dos pais nessas situações.

FONTES: Ana Cássia Maturano, psicóloga clínica e psicopedagoga, de São Paulo (SP); Luciana Barros de Almeida, presidente do Conselho Nacional da ABPp (Associação Brasileira de Psicopedagogia); Maria Tereza Maldonado, psicóloga, palestrante e autora dos livros "Bullying e cyberbullying – O que fazemos com o que fazem conosco? (Ed. Moderna) e "A face oculta – Uma história de bullying e cyberbullying" (Ed. Saraiva); Rosa Bertholini, pedagoga e diretora da escola Teia de Aprendizagens, em São Paulo (SP), e Sheila Maria da Rocha Antony, professora fundadora do Instituto de Gestalt Terapia de Brasília (DF) e autora do livro "A clínica gestáltica com crianças: caminhos de crescimento" (Ed. Summus)