No cinema nacional, atrizes negras estão em apenas 4% dos filmes
Brasil, o segundo país com a maior população negra do mundo - só perde para a Nigéria - não demonstra negritude em seu cinema. Se falamos das brasileiras negras, essas são sub-representadas; seja na frente das câmeras ou atrás delas.
Um estudo feito pelo Gemaa (Grupo de estudos multidisciplinares da ação afirmativa) entre 1995 e 2016 mostrou que apenas 4% dos elencos dos dez filmes nacionais de maior público de cada ano foi de atrizes negras. Mostrou ainda que nenhuma mulher negra esteve na direção e na autoria dos roteiros desses filmes. "Os resultados indicam que na última década o cinema nacional foi majoritariamente feito por homens brancos", concluiu o boletim divulgado pelo grupo.
Há um ano, a roteirista e diretora paulistana Carol Rodrigues, 33, fez um curso de programação de sites para tentar começar a corrigir o "prejuízo histórico" que é a ausência de mulheres negras no audiovisual nacional. Dali, criou o Mulheres negras no audiovisual brasileiro, um espaço na internet de visibilidade e apoio para mulheres negras que atuam no mercado.
No site, existe a ferramenta "buscar por profissionais", onde Carol disponibiliza um inventário de profissionais femininas - todas obrigatoriamente negras ou pardas - de todo tipo de especialidade dentro da indústria. Há roteiristas como ela, diretoras, produtoras, diretoras de arte e fotografia, editoras e até mesmo professoras e críticas de cinema. Além desse banco de profissionais, há a divulgação de programas de bolsas e cursos com descontos.
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"Não conseguimos entrar no mercado, portanto não acumulamos experiência. Ao mesmo tempo, não conseguimos acumular experiência porque não estamos no mercado. E então é válido questionar: por que não estamos? Somos subestimadas por nossos currículos mas também por nossa capacidade intelectual. Somos ainda estereotipadas para os papéis de atuação; ou nos dão os de escravas ou os hipersexualizados", explica Carol.
Para ela, além da importante vitrine que seu site é, ele tem outra função indispensável para que mais mulheres negras adentrem no mercado: a rede de apoio. “A gente enfrenta a questão da insegurança o tempo todo. Por isso estarmos conectadas e indicarmos umas às outras é tão importante. Eu mesma só consegui entrar em uma sala de roteiro porque a chefe da sala me indicou e garantiu aos chefes dela que eu daria conta”, diz.
Indique uma mulher negra
Abaixo, Carol faz sua lista das cinco brasileiras negras que "estão mudando a cara do audiovisual brasileiro". Ela aposta em roteiristas, diretoras e uma dramaturga atriz.
- Renata Martins - é uma das idealizadoras da websérie documental "Empoderadas" junto com outras dez mulheres negras. É também diretora de "Aquém das Nuvens", filme premiado e exibido em mais de dez países. Além disso, é roteirista colaboradora na nova temporada de “Malhação", "Viva a diferença!", que foi elogiada por ser mais inclusiva e diversa.
- Jéssica Queiroz - a cineasta cresceu na periferia paulistana, em Ermelino Mattarazo, e leva a cultura periférica no cinema que faz. Em 2015. lançou o curta "Número e Série", que fala sobre escolas públicas e, no mesmo ano, no centenário da escritora e catadora Carolina Maria de Jesus dirigiu "Vidas de Carolina", que traça um paralelo entre Carolina e a vida de mulheres catadoras de resíduos recicláveis em São Paulo.
- Grace Passô - a dramaturga mineira Grace Passô já teve peças traduzidas para seis idiomas. Também atriz, se destaca pelo arrojo de suas experimentações e por fazer de suas cenas campo de enfrentamento da intolerância.
- Yasmin Thayná - é fundadora do canal de streaming colaborativo "Afroflix", curadora da Festa Literária das Periferias e diretora de "Kbela, o filme", curta que fala sobre o embranquecimento na sociedade e a difícil tarefa das mulheres negras em se adequarem aos padrões e suprimirem sua identidade.
- Joyce Prado - é codiretora, editora e captou imagens para o documentário "Okán Mímó: Olhares e palavras de afeto", que retrata experiências de racismo religioso, afetividade e amor vivenciados por adeptos de religiões de matriz africanas.
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