9 desenhos animados que falam de diversidade, representatividade e gênero
No mês passado, a revista norte-americana "The Hollywood Reporter" anunciou que o Disney Channel exibirá a primeira história de um personagem gay em um seriado infantojuvenil, "Andi Mack". Segundo a reportagem, a protagonista Andi (Peyton Elizabeth Lee) e seu amigo Cyrus (Joshua Rush) descobrirão que estão apaixonados pelo mesmo colega da escola, Jonah (Asher Angel). A novidade, como era de se esperar, causou revolta nos telespectadores mais conservadores - inclusive no Brasil, onde a série vem sendo exibida desde setembro -, que querem boicotar a emissora.
A questão é que "Andi Mack" não é pioneira entre as atrações infantojuvenis ao tratar de temas pertinentes como gênero, homoafetividade, famílias contemporâneas e diversidade. Talvez os pais mais tradicionais venham fazendo vista grossa ou ainda não tenham reparado, mas em vários desenhos animados que estão no ar esses assuntos vem sendo abordados de algumas formas sutis - e outras nem tanto. Veja alguns exemplos:
The Loud House (Nicklodeon)
É, provavelmente, o desenho animado com maior abrangência de temas ligados à representatividade. A animação fala do dia a dia de um garoto de 11 anos, Lincoln Loud, e sua enorme família composta por dez irmãs, com idades que variam de 15 meses a 17 anos. Cada qual com seu estilo e temperamento próprios, as meninas provam que as garotas não são todas iguais. Há a gótica, a esportista, a nerd, a piadista, a princesinha, a que ama se sujar na terra, etc. Os pais dividem igualmente as tarefas, as despesas e as responsabilidades e, em um episódio bem-humorado, são expulsos de um hotel após terem sido flagrados "brincando" pelados na piscina depois de a prole ter ido para a cama. Outro destaque: Clyde, o melhor amigo de Lincoln, é filho adotivo de um casal gay e interracial, Howard e Harold McBride. O amor homoafetivo também foi destaque no episódio "L do Amor", quando é revelado que a personagem Luna, de 15 anos, é bissexual e está apaixonada por uma amiga.
Clarêncio, o Otimista (Cartoon Network)
O protagonista é um menino cujo perfil simboliza a essência da infância: curioso, alegre, usa mais o coração do que a cabeça, não vê maldade em nada e, como o próprio título indica, enxerga o lado bom de todas as coisas, sempre. Ele é criado pela mãe, que é a chefe da família (tanto no quesito financeiro quanto no poder de tomar de decisões), e pelo padrasto, com quem se dá muito bem. Jeff, um de seus melhores amigos, tem duas mães, uma mais feminina e a outra masculinizada. Isso é mostrado no decorrer dos episódios de forma natural, sem pontuar se ele foi adotado ou se é filho biológico de uma delas. A curiosidade infantil pela vida sexual dos adultos também faz parte do enredo, principalmente quando Clarêncio tenta arrumar um parceiro para sua professora.
Gravity Falls - Um Verão de Mistérios (Disney Channel, Disney XD e Netflitx)
O desenho tem um quê de "Sessão da Tarde". Por abordar enigmas, personagens desajustados, acontecimentos sobrenaturais e descobertas típicas da pré-adolescência, lembra muito filmes de aventuras como "Os Goonies" e "História sem Fim" e o seriado "Stranger Things". Os protagonistas são os gêmeos Mabel e Dipper, de 12 anos, que são forçados a passar as férias de verão na estranha cidade de Gravity Falls com um tio-avô esquisitão e um tanto suspeito - por quem acabam se afeiçoando, sendo que o amor é mútuo. Mabel se destaca por ser totalmente empoderada: não abaixa a cabeça para ninguém, vai atrás do que quer, trata qualquer ser masculino de igual para a igual e não tem o menor pudor ou vergonha de tomar a iniciativa ao paquerar os garotos. Em vários diálogos, perceptíveis para as crianças mais atentas, os dois únicos policiais locais se tratam como um casal, com direito a declarações e até DRs.
Doutora Brinquedos (Disney Junior, SBT e Netflix)
Em um universo até então povoado por personagens femininas brancas, "Doutora Brinquedos" inovou ao mostrar uma protagonista negra. E não só isso: ela brinca de ser médica porque se espelha positivamente na profissão exercida pela mãe - uma vitória, se lembrarmos da forma com que até hoje os negros são representados em produções adultas, na maioria das vezes em funções tidas como menores ou subalternas. A importância da divisão de tarefas domésticas também é lembrada: em alguns episódios, a mãe ajuda a filha a traçar seus diagnósticos enquanto o pai está na cozinha preparando lanches para o filho caçula. Recentemente, foi levado ao ar nos Estados Unidos um episódio com um casal homoafetivo e interracial formado por duas bonecas da Doutora Brinquedos. A relação homossexual foi mostrada com naturalidade e não foi o tema do enredo, que abordava a proteção contra terremotos.
Peppa Pig (Discovery Kids, TV Cultura e Netflix)
O desenho queridinho das crianças menorzinhas também se mostra conectado com as questões de igualdade de gênero. É recorrente ver Papai Pig fazendo alguma tarefa doméstica enquanto Mamãe Pig mexe em seu computador, subvertendo os antigos papéis de "homem provedor" e "mulher dona de casa". Outras personagens femininas, como Dona Coelha, também costumam surgir em funções tidas como tradicionalmente masculinas, na pele de bombeiras e pilotas.
O Show da Luna (Discovery Kids)
Criada pelos brasileiros Célia Catunda e Kiko Mistrorigo (os mesmos de “Peixonauta”) em 2014, o desenho também mostra uma personagem que passa longe das figuras tradicionais de princesas, fadas e feiticeiras. Luna tem 6 anos de idade e ama Ciências. É uma garota carismática, curiosa, envolvente e aventureira que buscas as respostas para o quer saber no mundo que a cerca e nas experiências práticas. Ao lado do irmão menor e do furão de estimação, ela levanta questões sobre o funcionamento das coisas e lança mão de métodos científicos para encontrar as respostas que deseja. E os temas são vários: botânica, zoologia, astronomia, física, química... Num país em que as meninas têm desempenho inferior ao dos meninos em Matemática e Ciências, segundo dados do Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos) de 2015, Luna é mais do que bem-vinda para mostrar que potencial independe de gênero, mas precisa de incentivo e oportunidade. É necessária.
Hora de Aventura (Cartoon Network e Netflix)
Cultuado também por adolescentes e até por adultos, "Hora de Aventura" aborda as peripécias do adolescente Finn e do cachorro Jake na pós-apocalíptica Terra de Ooo. São muitos os personagens extravagantes do desenhos, entre os quais se destacam as princesas bem diferentes do conhecido (mas em reposicionamento) padrão Disney. Elas são fortes, guerreiras, mandonas, valentonas e briguentas, numa alusão direta ao femininismo. Outro tema que vale a pena mencionar é o alerta em relação ao abuso sexual: o Rei Gelado sempre tenta tirar uma casquinha das meninas sem consentimento e, em um episódio, é advertido por Jake: "Seu assédio constante ao sexo feminino me enoja!". E, embora nem todas as crianças percebam, já que tanto o visual quanto a linha narrativa beiram o nonsense, Hora de Aventura tem um subtexto sutil sobre tolerância e respeito à diversidade sexual. Há um episódio, por exemplo, com um biscoito transsexual. Existem, ainda, várias pistas que indicam que a Princesa Jujuba e Marceline, a Rainha dos Vampiros, são bissexuais e foram namorados no passado.
Steven Universo (Cartoon Network e Netflix)
Desenvolvido por Rebecca Sugar, a primeira criadora solo de um desenho animado. Rebecca, que participou da produção de "Hora de Aventura", conta a história de Steven, um garotinho que acaba de se unir às Crystal Gems, um grupo de guardiãs mágicas que protegem a Terra. Ele é filho de um humano "normal" e de uma Crystal Gem, que morreu para trazê-lo à vida. As gems possuem poderes especiais, sendo que o da fusão, que representa as relações humanas, é o principal. Garnet, uma das protagonistas, é a fusão de duas outras gems, Safira e Ruby, e quando conta a Steve como suas “duas partes” se conheceram acaba deixando implícito algum tipo de romance entre as duas.
Apenas um Show (Cartoon Network e Netflix)
A fragilidade e a infantilidade masculinas pontuam vários episódios. Mordecai e Rigby, os protagonistas, vivem se metendo em confusões ao tentar escapar do trabalho e são mostrados como folgados e preguiçosos. Nas relações amorosas, não é raro se sentirem inferiores às suas parceiras - que, em contrapartida, são apresentadas como maduras, empoderadas, inteligentes, estudiosas e destemidas.
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