'Se a roupa é muito barata, desconfie', diz especialista em moda consciente
Você sabe de onde vem sua roupa? Em tempos de debates acalorados sobre impacto ambiental e trabalho escravo, é esse o mote do Brasil Eco Fashion Week, uma semana de moda sustentável que acontece em São Paulo, entre os dias 22 e 24, e tem como proposta questionar a origem das peças.
Para Fernanda Simon, coordenadora nacional da iniciativa sustentável Fashion Revolution e uma das idealizadoras do evento, ao lado de Rafael Moraes, é chegada a hora de repensar a produção e também o consumo fashion.
“Já sabemos que a indústria da moda é uma das que mais poluem”, diz. “Além do impacto ambiental, que vai da extração da matéria-prima até o processo de confecção da roupa, tem toda a problemática social, que diz respeito à mão de obra. No Brasil, ainda temos trabalhadores escravizados produzindo roupas. Isso é muito sério.”
Descubra de onde vem sua roupa
Tomar para si a iniciativa de questionar as marcas é, segundo ela, um passo importante no caminho de uma moda mais sustentável. Por isso, ela incentiva os consumidores a questionarem as marcas sobre origem e processo de trabalho, na loja ou nas redes sociais. “A gente incentiva que elas sejam cada vez mais transparentes”, conta.
Como exemplo, ela usa a nordestina Catarina Mina, especialista em bolsas artesanais. “Eles divulgam no site toda a planilha de custos”, elogia Fernanda. “Assim, o cliente entende o valor do produto e para onde vai o seu dinheiro.” A especialista destaca ainda como conduta positiva o envolvimento das corporações com projetos sociais.
Entre as ferramentas disponíveis para esse tipo de investigação existe o aplicativo “Moda Livre” (Android / IOS), que investiga grifes e varejistas a fim de incentivar o consumo consciente. “Esse aplicativo é para quem adora andar bem-vestido, mas não quer que alguém tenha sido explorado para costurar sua calça ou saia”, diz a descrição.
Um relatório batizado de “Fashion Transparency Index” também está disponível no site da Fashion Revolution, e lista cerca de cem maiores marcas do mundo de acordo com seu nível transparência.
Marcas que viraram exemplo
Entre as etiquetas nacionais que têm cumprido importante papel nesse processo de conscientização, Fernanda destaca a Grama, Natural Cotton Color, Comas, Vert Shoes, Mescla e Catarina Mina. “É importante incentivar quem faz um trabalho correto”, diz. “As roupas podem e devem representar histórias boas e bonitas que façam bem às pessoas e ao planeta.”
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“Se a roupa é muito barata, desconfie”
Para Fernanda, é preciso ainda redobrar a atenção diante de quem comercializa roupas muito baratas. “Claro que não significa que, se a peça é cara, o dinheiro foi usado de maneira correta. Mas quando o valor da roupa é muito baixo, já pode desconfiar”, alerta.
Daí a importância de se manter informado sobre o assunto. “Existem marcas que estão sempre sendo repetidas nas denúncias e investigações”, conta.
O que fazer no dia a dia?
O consumidor final, segundo a especialista, não só pode como deve adotar práticas mais conscientes no dia a dia, como o armário-cápsula, que prioriza combinações à quantidade, e a troca de peças usadas. “Hoje, existem bazares e bibliotecas de roupas dedicados a isso. Destaco a Lucid Bag, Blimo e a Roupateca”, conta.
Quando o assunto é reaproveitamento, ela chama atenção ainda para a questão do desperdício. “Diariamente são descartadas 26 toneladas de retalhos só na região do Brás e do Bom Retiro (polos de confecção em São Paulo). Tudo poderia ser reaproveitado ou mais bem produzido. Essa é uma falha de design. A mudança precisa acontecer nos dois extremos da cadeia fashion.”
Para quem quer se informar mais sobre o tema, ela sugere os documentários “River Blue”, que será transmitido no evento, e também o “The True Cost”, disponível na Netflix.
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