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Existe vida além do trabalho? Veja o que dizem os workaholics de plantão

Getty Images
Imagem: Getty Images

Carolina Prado e Gabriela Guimarães

Colaboração para o UOL

28/11/2017 04h00

Todo mundo conhece aquela história de que “o trabalho dignifica o homem”. Mas tem gente que atualizou a definição do verbo trabalhar. São os chamados workaholics, ou simplesmente, viciados em trabalho, que parecem não desligar um minuto sequer da vida profissional. Conheça alguns deles e veja o que dizem alguns especialistas.

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Sem freio

“Comecei a trabalhar aos 16 anos, como professora de inglês, porque não queria depender dos meus pais para pagar meu cabeleireiro. Quando entrei na faculdade, deixava de ir às aulas para trabalhar. Pra mim, nunca foi problema entrar antes de todo mundo e sair depois que todos fossem embora. Eu tinha turmas de alunos das 7h30 até às 22h15, com uma pausa para o almoço. Trabalhava muito porque queria, não porque me cobravam. Quando me tornei empresária, achei que colocaria o pé no freio, mas não. Trabalho da hora que acordo, às 6h, até quando vou dormir, nunca antes das 23h. Meu celular é quase meu cérebro e nunca está longe. Vira e mexe, viajo com meu computador, para montar estratégias para os meus clientes e para minha empresa. Quando não estou no computador, estou lendo livros sobre empreendedorismo ou trabalho. Acho que a questão toda é que me cobro demais para dar certo. Preciso que a empresa prospere, que meus pais tenham orgulho do que estou construindo, que meus clientes se sintam felizes. Eu acho que devo produzir constantemente.”

Tatiana Fanti, 34 anos, empresária.

De bobeira? Jamais!

“Dificilmente alguém me verá sem fazer nada ou dormindo por muitas horas. A minha rotina de trabalho geralmente começa às 6h e, teoricamente, termina às 22h. Algo bem distante da realidade, pois jamais vou dormir antes de reler vários artigos para me manter atualizada na minha área. Distribuo essas horas entre consultório, plantões, clínica de ultrassonografia e também trabalho na rede municipal. São, ao todo, sete lugares diferentes. Além disso, tenho também que conciliar as palestras que ministro, com a participação em congressos e minha pós-graduação. Abro mão de muita coisa, perdi muitos Natais. Costumo trocar o final de semana com a família para ir ao hospital acompanhar pacientes operados. Mas o retorno é sempre gratificante. Não tenho qualquer arrependimento da minha escolha de profissão. No dia de amanhã, talvez tenha de me repensar a rotina, mas agora não penso nisto. “

Paula Oshiro, 34 anos, ginecologista e obstetra.

Quase vinte horas no ar

“Se eu tiver uma rotina, ela é almoçar e jantar em família. Algo que faço muita questão. Acordo por volta de 5h40, levo meus filhos ao colégio e sigo para a academia, onde faço uma hora de atividades físicas para me manter firme. Isso, é claro, quando não tenho centro cirúrgico, pois quando acontece, chego por lá às 7h e fico o dia todo. Quando não há cirurgias, começo o atendimento na clínica por volta das 8h e fico até a hora do almoço. Retorno e permaneço até o final do dia. Minhas consultas são distribuídas em três clínicas diferentes, entre duas cidades. Em janeiro, vou atender numa terceira cidade. Quando termino o atendimento de consultório, sigo para o hospital para passar visitas e dar alta aos pacientes. Uma semana por mês, também atendo em Porto Velho, Rondônia. Lá, passo o dia todo revezando entre cirurgia e atendimento clínico. Ao final do expediente, volto do trabalho para jantar em família. Aproveito o horário de descanso para rever a literatura médica. Nos intervalos de uma consulta e outra, acompanho palestras pela internet e também, sempre que posso, vou participar dos congressos para me atualizar. Mas ainda acho que sempre poderia trabalhar mais. Me cobro quando vejo que meus colegas têm rotinas que consomem cerca de 20 horas do dia. Mas, como preciso de umas 6 horas de sono, me dou ao luxo de descansar um pouco mais.”

Paulo Miranda, cirurgião plástico especialista em transplante capilar


Lazer em segundo plano

“Faço faculdade integral, sou empresária júnior, bolsista de iniciação científica, professora particular e faço trabalho voluntário. Quando estou em momentos de lazer, não largo o celular, ou fico pensando nas coisas que tenho para resolver assim que chegar a casa. Eu me sinto bem, e muito viva, trabalhando. Sou remunerada na bolsa e nas aulas particulares. Na empresa júnior, deixei para marcar meu período de férias depois e nunca o fiz. Eu trabalho sempre. Até deixo de ficar com família e amigos para trabalhar. Minha família já tentou falar que depois eu ficarei sem eles, essas coisas, mas não adianta. Meu ex-namorado falava que eu arrumava muita coisa para fazer e não tinha tempo para ele. Hoje, acho que isso pode ter colaborado com a minha decisão de terminar.”

M.O., 22 anos, estudante
 

O que dizem os especialistas

Segundo Elizama Belém, coach de carreira e presidente do Instituto Emet - Instituto de Desenvolvimento Humano, trabalhar muito nem sempre indica produtividade. “O workaholic pode render menos, porque compromete a sua qualidade de vida”, conta. Entre os prejuízos do vício em trabalho estão o afastamento das pessoas queridas, desgaste físico, psicológico e emocional, angústia e até mesmo síndrome de abstinência quando não está trabalhando. Se você não sabe se é workaholic, a especialista em comportamento humano Alessandra Canuto conta os sinais:  “Ele continua trabalhando em outros momentos do dia, quando já deveria estar cumprindo outras tarefas do cotidiano; seu único assunto com as pessoas é trabalho; perde o sono por questões profissionais; tem dificuldade recorrente em desconectar; muda de humor com frequência; ignora outras áreas da vida, como filhos, família, amigos, hobbies etc.” Caso, perceba que está se excedendo, o ideal é procurar um especialista. “O que pode ajudar, a princípio, é fazer uma lista de atividades que possam proporcionar tanto prazer quanto trabalhar, e inseri-las na rotina o quanto antes”, sugere Alessandra.