Perdeu o emprego? Saiba como contar aos filhos
Se uma demissão nunca aconteceu com você, pode ser um problema futuro, ainda mais em tempos de economia instável. Quem tem filhos pequenos precisa saber colocar a situação de uma maneira que não afete o dia a dia de forma desesperadora. Cada faixa etária, porém, pede um tipo de abordagem, que explicamos abaixo. Uma regra é padrão para todas as fases: a notícia deve ser dada com calma, paciência e sob perspectiva otimista.
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Dos 3 a 5 anos
Na primeira infância, o cérebro absorve muitas informações e é bastante sensível a influências do ambiente. Adultos que se desestruturam emocionalmente com a perda de emprego podem afetar a relação com a criança, pois experiências tidas agora vão influenciar toda a vida.
Até por volta dos 5 anos, a criança não tem entendimento de temas como desemprego, mas é capaz de perceber que algo estranho está acontecendo na família. Então a regra é sempre contar a verdade -- afinal, não saber pode trazer mais angústia do que ter a informação verdadeira.
Além disso, a criança vive um certo tipo de egocentrismo, ou seja, acha que tudo acontece por causa dela. É muito importante que se explique de forma que ela entenda, para que não se sinta responsável vendo os pais tristes ou nervosos.
A linguagem precisa ser bem simples. Basta dizer que a mamãe não trabalha mais naquela empresa. Não é preciso contar detalhes. O mais importante é dizer o que aconteceu de forma direta, explicando que existem coisas que não temos controle.
Se precisar, dê exemplos de situações que ela viveu, como um passeio no parque que não aconteceu pela chuva imprevista.
Entre 6 e 8 anos
Esteja calmo e tenha paciência, para não criar uma atmosfera de desespero e ansiedade, formando um cenário que venha interferir na construção do significado do trabalho para a criança.
A tranquilidade é necessária, pois a criança tem uma percepção enorme da comunicação não verbal, o que pode gerar uma atmosfera de desconfiança se o que for falado for diferente da forma que o corpo se manifestar.
A notícia deve ser dada de maneira informal, para que os pais expliquem que aquele é um momento de mudanças, pois papai ou mamãe saiu do emprego e que todos precisarão, juntos, trabalhar alguns pontos.
Pode até falar sobre a contenção de gastos e a colaboração da família (que algumas contas serão ajustadas, alguns itens devem ser deixados de lado por um tempo), pois isso fará que todos se ajudem, até que ele ou ela volte a trabalhar.
Deixe claro que o prazo não está determinado, porque conseguir ou não o emprego não depende só da vontade do adulto. É fundamental que a criança se sinta "parte" dessa parceria, porque assim, sendo “importante” dentro do contexto, vai entender de uma maneira muito mais fácil todas as mudanças dentro da rotina da casa.
Podem surgir perguntas e temas delicados, provavelmente por curiosidade. É fundamental estar preparado. Receba bem toda iniciativa empática da criança, que pode se dispor a ajudar oferecendo atenção, afeto ou até mesmo sua força de trabalho, simbolicamente, dando sua contribuição.
Esse é um momento ótimo da formação do vínculo entre pais e filhos, bem como chance de mostrar um significado positivo do mundo do trabalho.
9 a 11 anos
A criança já é capaz de entender o impacto financeiro de uma demissão. É preciso ser sincero e explicar que, mesmo que momentaneamente, alguns gastos deverão ser cortados e projetos, adiados.
Como o filho é mais maduro e entende melhor a vida em torno dele, vale uma conversa mais assertiva, dizendo que vão analisar com mais cuidado os gastos para se adequarem à situação do momento. E dizer que será preciso deixar de fazer algo (como passeios ou algum entretenimento que cause um custo alto mensal) durante determinado tempo.
Vocês podem, inclusive, fazer juntos uma análise do que gastam, avaliando as prioridades e o que é supérfluo. Mas é preciso também tranquilizar o filho e dizer que irá procurar outro emprego, não apenas pelo fato financeiro, mas também pelo fato de gostar de trabalhar e que isso o deixa feliz. Assim, já vai explicar a importância de trabalhar e de escolher assertivamente uma profissão.
Acima de 12 anos
Nessa fase, quando a criança já tem total entendimento da realidade, é muito importante falar a verdade, mas trazendo otimismo, com linguagem positiva. Se o pai se mostrar muito preocupado e sem rumo, só vai conectar mais uma pessoa da família ao problema, ao desespero e à falta de perspectiva.
Além disso, se agir de forma contrária, mesmo que for para "poupar" o adolescente da situação, é como se inconscientemente dissesse que ele não tem condições de lidar com a realidade.
Fale que o ciclo encerrou, mas que um novo vai começar em breve. Mostre que é um momento de explorar novas possibilidades, de se reinventar. E esta é uma boa oportunidade de os pais passarem para os filhos como se lida com problemas e dificuldades da vida adulta.
Fontes: Erika Lotz, psicóloga, coaching e professora da Faculdade Estácio Curitiba; Glaucia Dinis, psicóloga em terapia cognitivo comportamental; Isabela Cotian, psicóloga e coach de mães; Lívia Marques, psicóloga organizacional e clínica, com foco em terapia cognitiva comportamental; Luciana Brites, psicopedagoga do Instituto NeuroSaber; Luiz Francisco Jr., psicólogo, life coach e professor universitário da FADISP; Luisa Bauke, psicóloga e coaching; e Salma Cortez, psicóloga.
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