Crise impede que professora evite suicídio de policiais militares no Rio
Por que policiais cometem suicídio? Foi com essa pergunta que Dayse Miranda, hoje pós-doutora em Ciências Políticas da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), decidiu pesquisar o porquê dos índices de suicídio entre policiais militares atingirem patamares até quatro vezes maiores ao da população geral.
Entre 2010 e 2013, ela pesquisou o tema. No ano de conclusão da pesquisa, já havia conseguido mobilizar psicólogos e colaboradores da própria polícia para formar o Grupo de Estudo e Pesquisa em Suicídio e Prevenção (GePESP), responsável pela cartilha “Por que policiais se matam?”.
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No estudo, Dayse mostra como a rotina de intenso estresse, longas escalas de trabalho e convívio com a violência pode afastar os PMs do convívio social com amigos e família, agravando casos de saúde mental que podem levá-los a tirar a própria vida.
Suicídio é comum entre forças policiais
Causar a própria morte é comum em forças policias civis e militares, além da polícia federal. Em março, o Sindicato dos Servidores da Polícia Federal informou que 42 agentes se mataram entre 1999 e 2015. O último ano sem registro de suicídio na corporação foi 2004.
No Rio, a professora acredita que exista a média de cinco casos notificados ao ano -- o número pode ser maior. O episódio mais dramático aconteceu há cerca de um ano, quando um policial militar transmitiu a própria morte ao vivo pelo Facebook.
Por ter casos similares por todo país, a cartilha da professora hoje é usada em núcleos de prevenção ao suicídio no Paraná, no Espírito Santo e na Bahia.
Crise empaca prevenção e aumenta chance de suicídio policial
No fim do ano passado, Dayse propôs ao núcleo de psicologia da Polícia Militar do Rio de Janeiro o treinamento de policiais militares para ministrarem palestras de prevenção ao suicídio na corporação. A ideia era criar 500 ‘multiplicadores’, que iriam aos batalhões apresentar métodos para detectar se um colega poderia cometer o ato.
Uma troca no comando da polícia congelou o andamento do projeto. Segundo Dayse, a crise econômica, política e de segurança pública que consumiu o Rio em 2017 foi um dos fatores essenciais. Somente neste ano, mais de cem policiais foram assassinados no Estado.
“Como vou treinar um policial para ajudar o outro a não se matar em um momento de precariedade? Como esse policial iria dizer para outro não se matar se ele também sente vontade?”, questiona. “O policial que perde um colega em combate tem três vezes mais chances de desenvolver sofrimento emocional. Hoje, para se compreender o suicídio de policiais é preciso levar em consideração a crise do Estado. Ela deteriora a saúde mental de policiais, que enfrentam precariedades nas condições de trabalho”, diz.
Número de casos pode ser maior
Uma rede de informações informais na PM fluminense aponta cinco casos de suicídio e mais cinco de tentativas entre agentes. O dado pode ser maior, alerta a estudiosa. “Isso é fruto de uma falta de governança e de políticas públicas de gestões fracassadas, como a do do atual governador [Luiz Fernando] Pezão (PMDB-RJ)”.
Em 2018, Dayse pretende colaborar com estudos técnicos para ajudar a treinar profissionais da saúde da Polícia Militar do Rio, além de buscar novos colaboradores para a rede de ajuda a prevenção na corporação.
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