"Só não amamento", diz pai que fica com filhos para mulher sustentar a casa
Na casa do músico Eduardo Rodrigues, 37, e da funcionária pública Deborah Schmidt, 31, quem cuida a maior parte do tempo de Elisa, de 3 anos e 8 meses, é ele, e quem sai para trabalhar é ela. “Sou pai e só estou fazendo o que tem de ser feito, não há nada demais nisso”. Em entrevista ao UOL, o casal conta como tem sido essa experiência e os preparativos do produtor artístico que, em poucas semanas, assumirá os cuidados do filho Ian, de 5 meses, quando terminará a licença-maternidade da mulher.
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“Depois que a Deborah voltou ao trabalho, me adaptei no emprego e cuidei da Elisa por dois meses, enquanto não abria vaga na creche. Nesse tempo, pensamos bem e vimos que seria melhor um dos dois parar de trabalhar para ficar com ela nesse início. Na escola, ela estaria com pessoas desconhecidas e ficaria mais vulnerável a adoecer. Decidimos que quem ganhasse mais continuaria trabalhando, que era a Deborah”, diz Eduardo, que pediu demissão da produtora onde trabalhava há 10 meses.
A funcionária pública lembra que ficou bastante ansiosa e se segurou para não ficar ligando para o marido na primeira semana. “Sabia que se fizesse isso ia deixá-lo inseguro. Ele fazia um diário com as atividades dela e me mantinha informada por mensagem, avisando se ela já tinha dormido, acordado, comido”.
Brinco de boneca com a minha filha, conta o pai
Apesar de apreensivo, o músico diz que que não teve dificuldades na rotina com Elisa: “Assistíamos à TV, desenho, brincávamos de boneca, ouvíamos música, íamos ao parque. Até hoje, ela adora que eu conte histórias, principalmente aquelas em que ela é uma das personagens”, conta Eduardo, que, atualmente, divide as tarefas com a mulher, enquanto ela está de licença da segunda gestação. “Ao chegar do trabalho, dava banho, comida, conversava. Era uma forma de participar da educação dela e compensar a ausência do dia”, relata a mãe.
Segundo o casal, eles nunca se eximiram de suas responsabilidades e sempre foram parceiros. “Temos a liberdade de pedir a ajuda um do outro. Meu marido tem mais facilidade e calma para fazer as crianças dormirem. Eu corto a unha, pois ele tem medo de machucá-las. Esses dias até brinquei: ‘Ainda bem que a mamãe corta a unha, se fosse depender do papai, vocês teriam a unha do Zé do Caixão’”, diz Deborah rindo. Outro momento família é o banho coletivo. “A relação que um pai cria com o filho é a partir de experiências como essa, isso ajuda a estreitar o vínculo”, afirma o músico.
Quando o homem cuida, é herói; quando é a mulher, não fez mais do que obrigação
Segundo Eduardo, existe um problema cultural quanto à paternidade ativa. “Quando um homem cuida de uma criança, ele é considerado um pai fantástico, um super-herói. A mulher faz a mesma coisa e as pessoas acham que ela não está fazendo mais do que sua obrigação. Eu acho isso errado”. Deborah concorda: “Quando a mulher volta ao trabalho, ela é questionada com quem deixou o filho. Quando é o homem, ninguém pergunta”.
De acordo com o produtor, há um estigma na sociedade de que o pai é o provedor e a mãe é a responsável pela criação dos filhos. “A maioria das pessoas acredita que um homem não é capaz de educar uma criança. Uma vez eu estava na feira com a Elisa e uma mulher me ofereceu ajuda só pelo fato de me ver sozinho com ela. Ela perguntou onde estava a mãe, eu respondi que estava trabalhando e que eu era o cuidador. Isso me incomodou bastante, porque eu sei que dou conta dos meus filhos. Só não posso amamentar, o resto faço tudo, isso vale para todos os homens”.
Não me arrependo de continuar trabalhando, diz mãe
No lar do casal, os afazeres domésticos também são divididos. Enquanto Eduardo cozinha, lava a louça e vai ao mercado, Deborah se encarrega da roupa e da limpeza geral. Agora eles se preparam para as últimas semanas da funcionária pública antes de terminar a licença. “Não me arrependo de continuar trabalhando, embora já tenha me sentido culpada algumas vezes. O que me tranquiliza é saber que meu marido ama nossos filhos e que estão sendo bem cuidados por ele”, comenta Deborah, que admite não ter perfil para ficar em casa.
“Eu me inspiro na dedicação da minha mulher, já tenho a experiência de criar um filho e agora vou ter de dois”, afirma Eduardo, que já pegou dicas de pais que trocam conhecimento no grupo “Paternando”, no Facebook. “Estava preocupado com a relação da Elisa e do Ian, dela tratá-lo mal por ciúmes ou por querer chamar atenção. Achava que o caminho era intervir o tempo todo, mas falaram para deixar rolar, observar e só intermediar se necessário. Funcionou. Ser pai não é só fazer as coisas legais, é errar, acertar e aprender sempre”.
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