A liberdade com o corpo agride, mas não deveria, diz Iza, do hit "Pesadão"
Iza se descobriu negra aos seis anos de idade, quando ainda vivia e estudava em Natal, no Rio Grande do Norte. Filha de um oficial da Marinha Mercante e de uma professora de música, levava uma vida que podemos chamar de classe média. Isso, naquela época e naquela região, significava frequentar espaços povoados por pessoas brancas e ser o único estudante negro em um colégio particular.
“Brincando na rua, ouvi um comentário chato, feito por um menino, sobre a minha pele. Corri para dentro de casa. Minha mãe, muito sábia, explicou o motivo. Antes disso, nunca havia pensado que pudesse existir quaisquer distinções entre as pessoas”, explica ao UOL.
Duas décadas depois, os locais que frequenta são mais calorosas a Isabela Lima, 26, a dona do hit “Pesadão”. A música com participação de Marcelo Falcão tem mais de 54 milhões de visualizações no YouTube e ficou entre as 50 mais ouvidas no Spotify. Um mês após o lançamento do clipe, Iza abriu o show do Coldplay, em São Paulo, diante de 40 mil pessoas.
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Nesta semana, ela também conquistou 1 milhão de seguidores no Instagram, espaço onde é referência de beleza. “Nos últimos anos, senti que houve um ‘boom’ de autoconhecimento e aceitação da beleza negra. Quando ando na rua, meninas negras, com tranças, sorriem para mim. Eu sorrio de volta”.
A vida antes do "Pesadão"
Diferentemente de artistas como Anitta, Ludmilla e Pablo Vittar, que antes dos 25 fazem sucesso no país, Iza viveu o início da vida adulta de um jeito bem mais comum: formou-se em publicidade pela PUC-Rio, arranjou emprego em um escritório, ao lado de uma equipe de marketing.
Quando largou o emprego para viver de música, a fase na qual passava não era a das mais fáceis.
Primeiro: a relação entre os pais desmoronava com um divórcio. Segundo: a carreira como publicitária a fazia se sentir incompleta. Ela pediu as contas, mas o pai saiu de casa na semana seguinte. Aí vem o terceiro motivo: sem salário, a grana começou a faltar.
“Foi uma fase complicada e muito delicada, na qual precisei de muita persistência para que eu pudesse correr atrás desse sonho”, avalia.
O jogo virou quando ela mesmo produziu um vídeo no qual canta “Hello”, da inglesa Adele, e jogou o vídeo no YouTube. Enviou um link a um executivo de Warner Music. Tempos depois, assinou o contrato com a gravadora.
Autoestima
Iza se recorda da infância e da adolescência como um processo contínuo de autoconhecimento. Aos 20, passou a manter os cabelos sem alisá-los. Botou tranças e se lançou definitivamente em uma transição capilar. Passou a se admirar cada vez mais como mulher.
“Às vezes, quando eu posto foto de biquíni por exemplo, muitas mulheres me dizem que eu não preciso ‘disso’. Mas aí eu digo: ‘não preciso do quê? Não é uma questão de precisar: é uma questão de querer mostrar o meu corpo. É uma questão de eu me sentir bem comigo mesma”.
O corpo da mulher negra ainda é muito sexualizado.
É uma coisa, infelizmente, quase cultural no Brasil. Eu já me privei de usar muitas roupas que eu queria usar por causa das minhas pernas. Cansei disso”, diz.
Iza explica que, como mulher negra, entendeu que era preciso se libertar da objetificação do corpo da mulher. "Mas entendi, também, que quem transforma o corpo em objeto é a sociedade. A liberdade com o corpo, por vezes, agride aos outros. Mas eu acho não deveria. É só o meu corpo”, defende.
E os planos para esse ano?
Para 2018, Iza pretende seguir essa mesma filosofia de vida para lançar seu trabalho de estreia, ainda no primeiro semestre. “O álbum ainda precisa de alguns ajustes... Sou virginiana, né? Sabe como é: aquela coisa de ser perfeccionista...”.
Em 2018, ela quer é cantar ainda mais. “E, para o Brasil, mais sabedoria e empatia... Por que tá difícil, né?”
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