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Mais do que mal à saúde, essas pessoas perderam trabalho por roer as unhas

O hábito de roer as unhas não é inofensivo; pode causar infecções na pele e alterações na gengiva - Getty Images
O hábito de roer as unhas não é inofensivo; pode causar infecções na pele e alterações na gengiva Imagem: Getty Images

Carolina Prado e Letícia Rós

Colaboração para o UOL

23/01/2018 04h00

Algumas pessoas simplesmente não conseguem, sozinhas, parar de roer as unhas. E, além dos prejuízos para a saúde, o hábito pode trazer consequências negativas para a vida social e profissional.

Conheça histórias de quem passa por isso há muito tempo.

“Levei uma bronca em uma entrevista de emprego”

“Assim que parei com a chupeta, com quatro anos, comecei a roer as unhas. É involuntário. Tanto não percebo, que fui surpreendida com uma bronca em uma entrevista de emprego, no final de 2015. Eu estava doida atrás de trabalho e mandei currículos para vários lugares. Finalmente, uma empresa me chamou para uma entrevista. Foram dois dias praticando, na frente do espelho, o que falar. A seleção foi na sede da empresa. Cheguei quase uma hora adiantada e pediram para aguardar em uma sala, com uma recepcionista. Fiquei cerca de meia hora roendo as unhas, de tão tensa que estava. Quando fui chamada para a entrevista, a mulher não disse nem ‘bom dia’ e já falou: ‘Nessa empresa, precisamos de pessoas que saibam lidar com todo tipo de situação, e não deixem o nervosismo atrapalhar’. Aí, eu tentei impressionar, falando que ela estava falando com a pessoa certa. E ela disse: ‘Por que, então, você estava quase arrancando os dedos?’, e apontou para uma TV, que mostrava imagens da sala em que eu estava esperando. Saí de lá ainda meio boba por esse vacilo. Nunca me ligaram dessa empresa.” Victoria de Oliveira Chaves, 19 anos, técnica de enfermagem.

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“Ouvi que meus dedos não eram bonitos”

“Minha mãe sempre pega no meu pé por eu roer as unhas. Os meus amigos também. Mas é mais forte do que eu. Desde os meus oito anos, já fiz inúmeras tentativas de parar. Quando adolescente, minha mãe até me levou a uma psicóloga. A profissional me indicou aulas de violão, pois eu gostava muito de música e passaria mais tempo com as mãos ocupadas. Até hoje toco o instrumento, mas continuo a roer. A prática me acalma e faz com que desvie o pensamento de uma situação que esteja me causando ansiedade. Passei por situações chatas por conta disso. Recentemente, fui fazer um book de fotos para uma seleção de ator e ouvi que, além do meu perfil não bater com o que precisavam, os meus dedos não eram tão bonitos. Nesse processo seletivo não poderia ter nada de ‘anormal’ no escolhido. Quando eu era mais novo, lembro da minha mãe passando produtos com gosto amargo e pimenta nos dedos, mas não adiantava. Ao longo do dia, o gosto saía e eu acabava roendo. Uma vez, ela chegou a colocar esparadrapo em todos os meus dedos. Tive de ir para a escola assim. Morri de vergonha.” Jean Lucas Almeida Pino, 25 anos, ator.

“Por mais hipócrita que pareça, já deixei de ficar com pessoas que roíam as unhas”

“Já deixei de ser recepcionista de um cabeleireiro por roer as unhas. É um lugar onde as pessoas vão para ficarem mais bonitas, e os funcionários não poderiam estar fora do padrão. Acho que tenho o hábito desde sempre. Sinto um grande alívio ao levar as mãos à boca. Sou fumante e é praticamente a mesma sensação de acender um cigarro. Meus amigos vivem chamando a minha atenção. Contudo, por mais hipócrita que pareça, já deixei de ficar com pessoas que roíam as unhas. Eu não deixaria uma pessoa que tenha a unha extremamente curta, por roer, tocar minha genitália. Já ouvi médicos que, quando roemos as unhas, criam-se cavidades que acumulam sujeiras, e é mais difícil de limpar.” Adriana Novais, 24 anos, guia turística.

Palavra do especialista

Também chamado de onicofagia, o hábito de roer as unhas não é inofensivo, como muita gente pensa. Ele pode causar perda do esmalte dentário, alterações de gengiva, encurtamento irreversível das unhas e infecções de pele, segundo o dermatologista Caio Lamunier, da SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia) e do Hospital das Clínicas de São Paulo.

Além disso, não é um hábito higiênico. “Quem leva mais a mão à boca entra em contato com diversas bactérias e vírus e acaba adoecendo mais”, diz o médico.

Para se livrar do hábito, a principal recomendação é uma avaliação psicológica ou psiquiátrica. “A onicofagia está relacionada com transtornos psiquiátricos e estresse emocional. Devemos sempre ficar atentos a sinais de ansiedade nas pessoas que roem unhas. Em crianças, isso é ainda mais importante, porque elas têm dificuldade de entender o motivo real do seu estresse”, afirma Lamunier.