Mulheres celebram fim de relações abusivas com festa, DJ e doces eróticos
Drinks afrodisíacos, docinhos em formatos eróticos, bolo, bexiga, música e amigas... O cenário é de festa, mas o clima da comemoração é um tanto incomum. O ambiente foi preparado no bairro de Boa Vista, em Recife, para receber uma “New Life Party”, ou melhor, uma Despedida de um Relacionamento Abusivo. A celebração foi há uma semana, idealizada e organizada pela pernambucana Kesia Salgado, 29, dona da La Dolceta, primeira doceria erótica do país. Mas a estrela da noite não era ela, era Katia*, 43, recém-separada.
“Eu já trabalhava com uma consultoria de produtos eróticos, que tem como missão desconstruir tabus e estimular o autoconhecimento feminino. Normalmente, os brinquedinhos e itens dessa área têm como proposta a satisfação masculina ou a salvação de relacionamentos, que muitas vezes são abusivos e não precisam ser salvos”, conta. “Ao me dar conta do risco que nós mulheres corremos nas relações, decidi organizar um tipo de festa que pudesse acolher quem já passou por isso.”
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Foi então que Kesia divulgou nas redes da empresa uma promoção: durante 20 dias estaria aberta a receber relatos de mulheres decididas a virar a página depois de tanto sofrimento. Uma delas seria contemplada com a tal festa. Nesse período, recebeu 22 histórias, cujos relatos tinham um ponto em comum: a construção de um amor romântico padronizado, que culminou em uma relação violenta.
“Nós, mulheres, somos criadas tendo nossa autoestima minada e sob a falsa necessidade de estar com um homem. Isso é terrível”, conta ela, que escolheu Katia para a primeira edição da festa. A profissional da saúde viveu durante quatro anos um relacionamento abusivo. Relembrar detalhes da experiência ainda é emocionalmente caro a ela, que rompeu em junho, mas enfrentou durante seis meses uma crise depressiva profunda por conta disso.
“Nunca houve violência física, mas houve abuso psicológico, que acabou com a minha autoestima. Por diversas vezes, duvidei da minha própria capacidade. Fui usada sexualmente. Era uma relação sem afeto por parte dele”, conta ela, que há uma semana pode celebrar de vez o fim e a sensação de liberdade que sente agora. “Quando escrevi, me sentia ainda de luto, mas precisava comemorar minha liberdade.”
Nada de tristeza
Entre as convidadas de sua New Life Party estavam uma amiga e mais quatro mulheres que já passaram por experiências semelhantes as suas. Katia não conhecida nenhuma delas. “Mas a gente se encontrava em uma mesma história com final feliz. Foi como participar de um grupo de apoio. As pessoas que mais nos entendem nestes momentos são aquelas que já viveram o mesmo que a gente”, conta.
E para quem pensa que o clima não era dos mais alegres, se engana. Katia recorda que ninguém ficou tocando nas feridas do passado. “Trocamos abraços, bebemos e rimos do quanto a vida pode ser boa”, recorda. “Ganhei ainda um ‘cacetinho’ e um cupcake de ‘pinto’ delicioso, por sinal. É uma proposta muito legal e inovadora. Uma forma de acolhimento para vítimas de uma violência ainda invisível.”
Por muito tempo, Katia participou de grupos de apoio virtuais. Ainda assim, diz, se sentia sozinha. “A festa teve um efeito quase medicamentoso. O contato humano realmente faz uma diferença imensa”, conta.
Por que não comemorar esta nova etapa?
Por enquanto, Kesia organiza a New Life Party só em Recife. O preço varia de acordo com o número de convidadas. Os pacotes começam a partir de R$ 350. Além de uma mesa decorada com bolo, salgadinhos e docinhos –bombom de catuaba, brigadeiro com gengibre e doce de leite com canela--, são oferecidas bebidas e uma equipe de Dj. Entre as atrações, destaque para a roda de acolhida, onde todas declaram publicamente a importância daquela que é a estrela da festa.
*O nome foi trocado a pedido da entrevistada
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