Intercâmbio após os 50 é remédio para se sentir mais jovem
Nos últimos anos, uma novidade tem chamado a atenção nas agências de intercâmbio: o aumento da procura desse tipo de viagem por pessoas acima dos 50 anos. Se antes, essa faixa etária anunciava o início da velhice. Agora, ela é vista como o momento de resgate dos prazeres antes restritos à juventude. E viajar sozinho para o exterior a fim de aprimorar o idioma e realizar um sonho antigo tem sido o objetivo de muitos dessa geração.
“Fazer intercâmbio é como tomar um remédio para se sentir mais jovem”, diz a carioca Raimara Pires, 63, que já viajou para a ilha de Malta e Dublin, capital da Irlanda. Ela não é um caso raro. No último ano, as agências Student Travel Bureau e a CI Intercâmbios e Viagem observaram um crescimento de 20% a 30% na procura por intercâmbio nessa faixa etária.
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“Eles costumam ser divididos entre dois grupos: aqueles que querem melhorar o idioma para acompanhar as demandas da empresa onde trabalham e os que estão interessados na troca cultural”, afirma Tereza Fulfaro, diretora educacional da CI.
Entre os destinos mais procurados por eles estão Inglaterra, Malta, Espanha, Itália e Estados Unidos. E as mulheres são as mais interessadas. “Elas são mais corajosas”, diz Rui Pimenta, diretor de vendas da STB. “Muitas realizam o sonho que não foi possível na juventude.”
Aqui, Raimara, a baiana Eunice Freitas, 62, e o carioca Ruyter Bernardino, 82, relatam suas experiências.
“Conheci um ‘paquera’ 26 anos mais jovem”
“Desde os 18 anos, trabalhei na área de aviação. Viagem sempre esteve no meu DNA. Só que, de tanto trabalhar, deixei de curtir. Então, assim que me aposentei, decidi fazer as malas. Minha família achou uma loucura. Perguntavam o que eu iria fazer no meio de tanto adolescente. Eu? Só fui. Completei meus 61 anos no intercâmbio, em Malta. O primeiro de muitos. Passei 60 dias passeando e estudando. A idade nunca me impediu de fazer nada. O mais legal é que lá ela também não fez a menor diferença. Além dos vários amigos dos quatro cantos do mundo, encontrei também um paquera, nativo de Malta. Ele tinha 25 e, quando descobriu minha idade pelo Facebook, disse que meu pai havia errado a data do meu nascimento no registro. Foi tão gostoso, somos amigos até hoje. No ano seguinte, parti para Dublin. Fazer intercâmbio é transformador. É como tomar um remédio para se sentir mais jovem. A gente volta mais bonita, com a autoestima lá em cima. Hoje, todo mundo me aplaude. Depois dessas duas experiências, para me manter ativa, comecei a receber estrangeiros na minha casa, em Copacabana [Rio de Janeiro]. Mas isso só até chegar a próxima viagem.”
Raimara Pires, 63, que agora inspira as amigas a seguirem seus passos
“Fui o primeiro aluno da sala”
“Meu maior sonho sempre foi assistir a um filme sem legendas. Foi com isso em mente que me despedi da minha mulher e embarquei para Manchester, na Inglaterra, aos 81 anos. Saí daqui com um enorme complexo de inferioridade, achando que fosse ser sacaneado. Nada disso aconteceu. O caminho não foi dos mais fáceis, confesso. Enfrentei algumas desventuras de um viajante mal informado: o voo atrasou, a mala extraviou, passei a noite em um bar, fiquei dias incomunicável, levei dias para descobrir que não estava hospedado no campus da escola e achei a comida horrorosa. Mas o intercâmbio sempre foi meu sonho antigo. Cheguei como o mais velho da turma, saí como o primeiro da sala. Descobri que idade não é impeditivo para nada. Muita gente me olha e me julga, diz que está na hora de parar. Parar o quê? Parar para quê? Até o final da vida quero viver novas histórias.”
Ruyter Bernardino, 82, que ainda não assiste a filmes sem legenda, mas viveu um enredo digno de Hollywood
“É o melhor investimento que você pode fazer por você”
“Quando jovem, estava muito ocupada trabalhando e ganhando dinheiro. Só que, de repente, a gente se dá conta de que precisa diminuir o ritmo, dar prioridade ao que gosta, porque seu tempo está passando. Sou representante comercial do setor de moda, casada e tenho uma filha. Ela fez o primeiro intercâmbio aos 14 anos. Eu? Aos 55. Sempre fui aventureira e gostei muito de viajar. Mas a experiência de estudar um idioma e conviver mais de perto com uma nova cultura veio na terceira idade. O primeiro destino foi a Itália. Aprimorei o idioma e aproveitei também para fazer um curso de culinária, minha paixão. Estudei durante 45 dias em uma sala com alunos de 16 a 60 anos. Todos com um denominador comum: a sede de trocar experiências. De cara, o bichinho intercambista me picou. No ano seguinte, embarquei sozinha para o Canadá, onde passei dois meses estudando inglês. Meu mantra sempre foi ‘quero, posso, vou’. Sou casada há 13 anos. Mas meu marido não é muito animado para isso, e, como ninguém é dono de ninguém, fiz minhas malas e fui viver meu sonho. Viajar é o melhor investimento que se pode fazer por si mesmo. Viajar abre a cabeça, dá uma sensação de liberdade inexplicável. É quando sua única responsabilidade é consigo mesma. Hoje, afirmo com toda a certeza: sinto como se tivesse 30 anos.”
Eunice Freitas, 62, que em breve deve embarcar para a Nova Zelândia ou Austrália
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