#SóMulherSabe: 'Ganhava R$ 1.800 a menos do que um colega na mesma função'
Em 15 anos de carreira, a engenheira mecânica e de segurança do trabalho Giselle Patrícia, 37, enfrentou inúmeros episódios de discriminação por ser mulher.
Desde descobrir que ganhava significativamente menos do que um colega na mesma função a ouvir que era uma mãe mercenária e desnaturada, ao voltar ao trabalho depois da licença maternidade. A seguir, Giselle conta como superou as adversidades na carreira.
“Era chamada de mãe mercenária e desnaturada por trabalhar e deixar meu bebê
“Trabalhei em uma empresa que tinha uma cultura machista. Os homens faziam piadas e gracinhas diariamente. Eles me perguntavam se eu estava de TPM e se batia no meu marido.
Quando outras mulheres passavam, faziam comentários desagradáveis na minha frente. Tentavam se justificar falando que era apenas brincadeira, que nós, mulheres, éramos muito sensíveis.
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Nas confraternizações, os chefes e líderes do alto escalão aproveitavam a situação para me cantar e pedir beijos e abraços. Fingia que não que não era comigo e saía.
Estava grávida e meus colegas me chamavam de gorda
Um dos piores momentos foi quando engravidei. Meus colegas diziam que eu estava gorda, vigiavam tudo o que comia e falavam que, quando eu tivesse meu filho, iria ficar com tudo caído.
Ficava com muita raiva e me sentia desrespeitada. Rebatia com ironia que eles não deveriam me comparar aos exemplos que tinham em casa.
Quando voltei da licença maternidade, eles faziam piada de que eu era uma mãe mercenária e desnaturada, que abandonava meu bebê para ir trabalhar.
Aquilo me doía, porque sonhava em ser mãe e me cobrava de não poder ficar com o meu filho como gostaria. Chorava todos os dias em casa. No tempo em que fiquei lá, vários homens se tornaram pais e nunca houve comentários desse tipo. Só via felicitações e zoeiras entre eles.
Trabalhava muito mais do que ele e tinha uma qualificação superior. Não havia explicação para a desigualdade salarial
Outra situação bem desagradável foi quando descobri que ganhava R$ 1.800 a menos do que um colega, que tinha o mesmo cargo e função que eu.
Na época, era engenheira sênior e meu salário era R$ 7.000. Por acaso, encontrei o contracheque dele na impressora. Quando vi que ele ganhava R$ 8.800, senti-me uma idiota e imbecil.
Trabalhava muito mais do que ele e tinha uma qualificação superior. Tecnicamente falando não havia explicação que justificasse a desigualdade salarial.
Anos sem promoção
Em sete anos de empresa, nunca consegui uma promoção. Questionava o meu gerente o que era necessário para subir de categoria. Ele sempre dava alguma desculpa falando que era a vez de fulano ou que não havia verba.
Teve uma ocasião que três vagas para supervisão foram abertas. O convite era feito pela chefia, não havia processo seletivo.
Na equipe, existiam três engenheiros, incluindo eu e mais dois homens. Meus dois colegas conseguiram as posições e a terceira foi ocupada por um engenheiro de outro setor.
Meu sentimento é de que não havia motivo para eles não me convidarem a não ser o fato de eu ser mulher.
Era a mais qualificada de todos, incluindo os três supervisores que havia na equipe. Tinha quatro pós-graduações, todos eles tinham apenas uma. Era a única que falava inglês fluente, que tinha cinco cursos de extensão e uma certificação da área. Naquele momento, percebi que ali não era o meu lugar.
Ao longo desses 15 anos de carreira, dei o melhor de mim independentemente de ganhar menos do que os homens e da falta de oportunidade.
Se aceitasse a discriminação que sofri de cabeça baixa, estaria me desrespeitando e sendo conivente com aquilo. Ser mulher só me deu forças para ser melhor sempre.”
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