Aos 14 anos, ela vive com doença crônica e sonha ser modelo profissional
Desde os 8 meses de idade, Natasha Olubusayo enfrenta uma rotina disciplinada de consultas, remédios e tratamentos por causa de um diagnóstico de anemia falciforme — uma doença crônica que afeta suas hemácias e, consequentemente, a oxigenação das células do seu corpo.
Mas isso tem impedido que Natasha dê os primeiros passos rumo a uma carreira fashion. À Universa, ela falou sobre como tem superado as dores pelo corpo e desafios para conquistar, aos poucos, seu espaço na profissão que escolheu — contou como foi conhecer finalmente alguns dos estilistas que admira em sua primeira visita à São Paulo Fashion Week.
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Do hospital para os estúdios
Complicações da doença já forçaram a adolescente de 14 anos a se submeter a duas cirurgias e a passar por cerca de 30 internações em um mesmo ano, quando viveu um dos períodos mais duros na luta pela sua saúde. "Sentia muita dor e sempre variava o lugar. Poderia ser na perna, nos braços, na coluna. Já fiz duas cirurgias. Uma por conta de uma osteomielite, uma infecção que eu tive na mão quando eu era bebê. E [outra] quando eu tinha 4 anos e tive que retirar a vesícula", relembra.
Apesar de hoje conseguir manter a doença sob controle com medicação, o que a permite estudar e se exercitar normalmente, Natasha conta que o constante entra-e-sai dos hospitais já afetou sua autoestima. "Os momentos mais desesperadores para mim são sempre aqueles em que estou internada. Fico revoltada, com a autoestima muito baixa mesmo. Não consigo falar com as pessoas. Me sinto muito mal porque não posso sair, fico no quarto, com dor, tomando remédios muito fortes, dopada quase 100% do tempo. Quando não estou dormindo, estou chateada. É complicado".
A moda, então, apesar de ter parecido um sonho distante, também funcionou como válvula de escape. "Desde pequena, sempre gostei muito [do universo fashion]. Acompanho a Fashion Week e gosto de ler revistas como a 'Vogue' desde os 11 anos. Mas era um sonho de criança, porque eu tinha outras prioridades. Não pensava muito, na verdade, porque minha mãe também não tinha muito dinheiro nem tempo para investir em mim. E também como eu ficava muito internada, não dava para cogitar isso. Só que, de uns dois anos para cá, em todo lugar que eu vou, as pessoas sempre me param e perguntam: 'por que você não tenta ser modelo?'. Foi aí que eu me toquei que devia começar a correr atrás".
No entanto, foi justamente dentro da rotina estrita do hospital que ela encontrou uma ponte para realizar esse sonho. "Lá no Itaci [Instituto de Tratamento do Câncer Infantil, onde ela se trata, em São Paulo] tem uma professora que se chama Angelita e por meio dela consegui fazer um book com o pessoal da agência 40º, no Rio de Janeiro. Foi um book que me deram, gratuito. Eles foram receptivos comigo, me maquiaram, arrumaram meu cabelo e eu tirei as fotos. Gostei, porque me deram dicas de poses e um workshop de dois dias com o Sergio Mattos, dono da 40º. De lá, me encaminharam para a Closer [Models], que é a agência aqui de São Paulo".
Natasha conta que ainda não conseguiu trabalhar por meio da nova agência por ser menor de 16 anos, idade mínima para topar os trabalhos adultos, mas que já teve uma experiência importante no currículo: seu primeiro desfile.
"Ano passado, participei da primeira edição da semana de moda de Osasco. Foi maravilhoso, porque lá eles tinham um projeto um pouco diferente da SPFW: eles preparavam as modelos. Fiquei cerca de quatro meses tendo aulas de passarela com eles, de fotogenia, vários ensaios. Depois teve o casting com os estilistas e aí eu passei [foi aprovada] por três. Foi a primeira vez em que tive a experiência de estar em um backstage, ser maquiada, passar pela correria, fazer prova de roupa. Na época, eu não sabia desfilar tão bem, mas agora a minha passarela já está bem melhor do que antes e vou torcer bastante para que um dia eu possa estar desfilando na SPFW".
Um dia na SPFW
"Quando eu soube que ia à SPFW, surtei pensando nas roupas. Mas uma amiga me ajudou, me emprestou um vestido dela. Foi maravilhoso! Dois fotógrafos me pararam para tirar fotos minhas, um de Belo Horizonte e outro de Santa Catarina. Tirei foto com o estilista Walério Araújo, que é um ícone, com o Dudu Bertholini... Gostei muito de assistir ao desfile da Apartamento 03. Sou muito ligada em passarela, ver passarela, desfilar passarela, a coisa que eu mais olhava era se elas estavam fazendo a parada... Foi perfeito pra mim".
Depois de assistir à apresentação da coleção, em que também foram gravadas cenas da novela o "Outro Lado do Paraíso" e de ter ficado morrendo de vontade de tietar Iza, Natasha foi ao backstage. "Eu amei de verdade falar com o Luiz [Claudio, estilista mineiro da Apartamento 03], ele foi superfofo e gentil. Foi o melhor dia da minha vida".
O que podemos esperar dela depois dessa? "Eu tenho uma inspiração, a [modelo angolana] Maria Borges, que é Angel da Victoria's Secret. Ela é uma referência pra mim, mas em questão de estilo, gosto de ter a minha própria personalidade. Ser eu mesma. Sonho em desfilar na NYFW um dia e também de sair em um editorial da Prada ou da Dior", conclui.
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