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Filme exibe reencontro da própria diretora com tio, hoje tia, após 27 anos

Cena de "Quarto Camarim", onde o próprio cinema medeia a relação da diretora Camele e sua tia Luma, que conheceu na infância como tio Roniel, hoje travesti, cabeleireira e performer - Divulgação
Cena de "Quarto Camarim", onde o próprio cinema medeia a relação da diretora Camele e sua tia Luma, que conheceu na infância como tio Roniel, hoje travesti, cabeleireira e performer Imagem: Divulgação

Natacha Cortêz

Da Universa

29/04/2018 04h01

O reencontro, depois de 27 anos, da diretora baiana Camele Queiroz com o seu tio Roniel – hoje com o nome de Luma – é a história que guia o documentário "Quarto Camarim", também dirigido por Fabricio Ramos. O filme é exibido em São Paulo no dia 30 de abril, segunda-feira, no CineSesc, às 20h30. 

Em "Quarto Camarim", o próprio cinema medeia a relação entre Camele e Luma, que a diretora conheceu, ainda na infância, como tio Roniel, e que agora é travesti, cabeleireira e performer. Nesse reencontro, a diretora questiona se essa busca se limita ao objetivo de fazer um filme ou acontece por razões afetivas. 

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Universa: Qual a sua relação com a tia antes de reencontrá-la? 
Camele:
Não existia relação. Na última vez que nos vimos, antes desse reencontro, eu tinha seis anos de idade. O que existia era uma lembrança desse tio. Na época eu chamava a minha tia Luma de tio Roniel, porque era assim que ele era tratado na casa de minha avó. Da infância, eu tenho a lembrança de um tio afetuoso e de expressão marcantemente feminina. Desde então, eu sabia que esse “tio” existia, mas não sabia mais nada dele. Não sabia nem onde ele vivia, lugar ou cidade.

Por que você quis filmar essa história?
Resolvi porque faço um cinema a partir da vida mesma e porque percebi nessa história pessoal dimensões e questões sensíveis que poderiam falar a outras pessoas. Me envolver pessoalmente numa história com meus familiares trouxe contextos difíceis de prever. Primeiro, resolvi procurar a minha tia, saber dela, e só depois de reencontrá-la pessoalmente é que, intimamente, fui consolidando a proposta de fazer um filme com ela, não sobre ela, mas sobre nosso reencontro. Quando falei do filme, a Luma topou participar. Depois houve idas e vindas que ameaçaram a existência dele. E esses desencontros, inclusive, participam do filme sobre o nosso reencontro. 

Conte algo que você aprendeu com o filme?
As complexidades dessa experiência, como pessoa e como cineasta, foi meu maior aprendizado. O desafio foi conciliar uma experiência intensa, pessoal, familiar e forte impacto emocional, com a preocupação de compor uma obra cinematográfica que lidasse com as contingências, mas sem domá-las, buscando vivenciar o encontro e também criando situações. Também ser filmada me fez pensar muito sobre as relações humanas, afetos familiares e sobre o próprio cinema como forma de expressão e seus limites. E os potenciais de contar algo que, mesmo sendo apenas uma história, envolve a vida real das pessoas. Luma me convocou para dentro do filme. Topei o desafio.

Quarto Camarim - Divulgação  - Divulgação
Imagem: Divulgação

Produzido pelo edital Rumos Itaú Cultural 2015-2016, o longa-metragem já foi exibido em festivais no Canadá (Vancouver), Venezuela (Ilha de Margarita) e República Dominicana (Santo Domingo). 

Após a sessão no CineSesc, haverá debate com os diretores e mediação da pesquisadora em Cinema e Audiovisual, professora do Centro de Estudos Latino Americanos sobre Cultura e Comunicação da USP (CELACC), Luiza Lusvarghi. O CineSesc fica na Rua Augusta, 2075. A entrada para o filme é gratuita e a distribuição de ingressos acontece a partir das 19h30. 

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