"Minha irmã realizou meu sonho de ser mãe sendo minha barriga solidária"
Aos 26 anos, a empresária Vanessa Vargas descobriu um câncer no colo do útero quatro meses antes de casar. Após o tratamento, ela recebeu a notícia que tanto temia: não poderia engravidar. Num ato de amor, a irmã dela, Fabiana, ‘emprestou’ sua barriga e gerou Lavínia por nove meses. “Minha irmã foi minha barriga solidária e realizou meu sonho de ser mãe”. Leia o depoimento de Vanessa, 36 anos:
“Em 2008, faltando quatro meses para me casar com o Alexandre, descobri um câncer no colo do útero. Tive um sangramento, fui ao ginecologista, e após fazer alguns exames, veio o diagnóstico. O médico informou que eu precisaria fazer uma cirurgia o quanto antes para retirar as trompas, o útero e os ovários. Fiquei sem chão.
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Às vezes achava que eu ia morrer, mas tinha fé em Deus e acreditava que passar por aquilo tinha um propósito. Foquei nos preparativos do casamento e isso me ajudou bastante. Busquei a opinião de um outro especialista, e ele retirou apenas um pedaço do colo do útero. Não houve a necessidade de tirar os outros órgãos. Depois da cirurgia, casei, fui para a lua de mel e quando voltei comecei a fazer quimioterapia, radioterapia e braquiterapia. Foi uma fase difícil, tinha dias que não levantava da cama.
Fiquei arrasada de saber que não poderia engravidar
Apesar do mal-estar causado pela doença, meu maior temor era não poder ter filhos. Numa das consultas, conversei com meu ginecologista e ele explicou que como o meu útero e endométrio haviam diminuído de tamanho por causa do tratamento, eu não poderia engravidar. Fiquei arrasada e saí chorando do consultório.
Um tempo depois, foi constatado que eu não tinha mais o tumor. Como ainda tinha esperança de ter filhos, cinco anos após o câncer, eu comecei a tentar engravidar pelo método convencional, mas não consegui. Paralelamente a isso, iniciei um tratamento para estimular o crescimento do útero e do endométrio. Meus órgãos responderam bem e aumentaram de tamanho. Procurei uma clínica de fertilização in vitro e demos início ao procedimento. Conseguimos coletar cinco óvulos, mas quatro fecundaram.
Fizemos duas tentativas da fertilização em mim e não deu certo. Na terceira, o médico advertiu que eu poderia ter algumas complicações na saúde por causa do tumor que eu havia tido. Meu marido achou melhor pararmos.
Meu desejo era ver minha barriga crescer
Contamos aos meus pais o que estava acontecendo e para minha surpresa, minha mãe me disse que estava vendo o processo para ‘emprestar’ a barriga dela para gerar um bebê para mim. Na época ela tinha 54 anos e já estava na menopausa. Ela teria que tomar remédios para voltar a menstruar. Agradeci, mas não queria colocar a vida dela em risco.
Dias depois marcamos um almoço de família, conversamos com a minha irmã, a Fabiana, e ela se ofereceu para ser minha barriga solidária. Ela me disse: ‘Tenho dois filhos e sei o quanto isso é maravilhoso. Não importa o que eu tiver de passar, farei o que for preciso para te ver feliz. Vou gerar uma criança para você’. Fiquei emocionada, choramos e nos abraçamos.
Estava feliz com a atitude da minha irmã, mas confesso que não era o que eu queria. Meu desejo era ver a minha barriga crescer, ver a transformação no meu corpo e poder gerar e parir minha filha. Conversei com o Alexandre e aceitamos a proposta dela.
Me perguntaram se eu não tinha medo que minha irmã não entregasse a Lavínia
Minha irmã fez a fertilização com o meu terceiro óvulo e o sêmen do meu marido. Quinze dias depois, descobrimos que ela estava grávida e ficamos muito felizes.
Durante os nove meses, nos dedicamos bastante à gestação da Fabiana. Na época, ela estava solteira e morava perto da minha casa. Eu a visitava todos os dias e a acompanhava em todas as consultas e exames. Quando ela tinha desejo de madrugada, meu marido e meu sogro faziam a correria para satisfazer a vontade dela de tomar sorvete e comer morango. Eu massageava a barriga dela e aproveitava para cantar e conversar com a Lavínia.
Nesse processo, fiz acompanhamento psicológico e recebi algumas críticas. Alguns vizinhos me perguntaram se eu não tinha medo que minha irmã não entregasse a minha filha, mas sabia que ela jamais faria isso.
A Lavínia nasceu no dia 7 de abril de 2016. Fiquei uma hora com ela no meu colo fazendo pele a pele. Os médicos recomendaram que eu conversasse bastante com ela para ela ouvir minha voz e entender que eu era a mãe dela. As enfermeiras a colocaram no meu peito e o leite desceu. Eu tinha tomado remédio para estimular, mas não era certeza que daria certo. Amamentá-la foi a melhor sensação do mundo.
Queremos ter um segundo filho
Hoje a Lavínia está com dois anos e eu meu marido queremos dar um irmão a ela. Mesmo sendo arriscado, minha ideia é usar o meu último óvulo que está congelado e tentar a fertilização em mim. Se não funcionar, vamos adotar uma criança. Hoje eu descarto uma nova barriga solidária. Sou muito grata a minha irmã por ela ter realizado o meu sonho de ser mãe. Tudo o que ela poderia fazer, ela já fez por mim. Ela teve um dos atos de amor mais lindo que um ser humano pode ter”.
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