Topo

Não é só sedução: pole dance vira símbolo de autoaceitação

Daylane Cerqueira fez as pazes com o corpo dançando depois de engordar  - Arquivo pessoal
Daylane Cerqueira fez as pazes com o corpo dançando depois de engordar Imagem: Arquivo pessoal

Helena Bertho

da Universa

16/05/2018 04h00

Se ao ouvir falar em pole dance, a primeira coisa que vem à sua cabeça é a imagem de uma plateia de homens sedentos, diante de mulheres esbeltas de lingerie tentando seduzi-los, saiba que essa é só metade da história.

A outra metade está sendo construída por mulheres que, rebolando ao redor do pole, têm encontrado um novo caminho para aumentar a autoestima e fortalecer os sentimentos de liberdade. 

Escolas de dança sintonizadas com esse movimento têm oferecido aulas, normalmente associadas apenas à sensualidade, caso do pole dance, em que as alunas são convidadas a desenvolver novas relações com seu corpo. "No pole, vi que independente das minhas medidas, consigo realizar todos os movimentos e mais, com prazer. Voltei a ver beleza no meu corpo", diz a produtora de moda Daylane Cerqueira, de 30 anos. 

Veja também:

Daylane começou a praticar dança há pouco mais de um ano, em busca de uma atividade física que a fizesse aceitar os 10 quilos que havia ganhado em um ano, "e que estavam me fazendo sentir muito mal". Ela acredita que a dança a ajudou em aspectos bastante pontuais: "Nas aulas, a gente passa a maior parte do tempo se olhando no espelho. Isso me faz encarar meu corpo do jeito que ele é; o que inclui as ditas as imperfeições". Segundo Daylane, a conquista está em ter tesão de fazer movimentos sensuais, "apesar" das ditas imperfeições. A saber: ela não perdeu os 10 quilos. "E tudo bem", informa.

Fernanda Ferrão enche suas redes sociais de fotos para estimular outras mulheres gordas a dançarem - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Fernanda Ferrão enche suas redes sociais de fotos para estimular outras mulheres gordas a dançarem
Imagem: Arquivo Pessoal
Para todos os tamanhos 

Nas aulas de dança focadas no fortalecimento da autoestima, alunas que não são magras ou altas, por exemplo, dizem se sentir acolhidas. "É um espaço que me faz bem. As colegas têm os mais diversos tipos de corpos e histórias e todo mundo curte estar ali", diz a jornalista Fernanda Ferrão. 

"O preconceito era meu. Falava: ''não posso, não consigo, porque sou gorda'", conta Fernanda. Na primeira aula, ela usou calça e camiseta largas. Hoje, enche suas redes sociais com fotos de hot pants e tops, fazendo estripulias no pole dance. 

Para Graziela Meyer, professora de dança do estúdio paulistano Maravilhosas Corpo de Baile, toda mulher deveria dançar. "A forma como cada corpo dança conta uma história daquela mulher. E isso sempre fica lindo". 

Ela mesma já sofreu de um distúrbio alimentar, entre outros motivos, porque lutava por um "físico irreal", e encontrou no pole dance ajuda para melhorar sua relação com a aparência. "Esse balé, com características tão próprias, me ajudou a entender meu corpo".

Nada de (só) entrar em forma

Além do pole dance, Daylane faz aulas de chair dance - Divulgação/ Estúdio Entre as Pernas - Divulgação/ Estúdio Entre as Pernas
Além do pole dance, Elisângela faz aulas de chair dance
Imagem: Divulgação/ Estúdio Entre as Pernas

Twerk, dança do ventre e burlesco são outras aulas comuns nesse universo. Todas funcionam como atividade física, claro, mas, nessas aulas, o foco não é emagrecer ou ficar sarada. "É para soltar todo o corpo e os quadris. Chega de ficar endurecendo e secando - mas se quiser, pode - todo seu corpo. Concentre-se em conhecer e aproveitar o corpo que tem", diz a professora Jade Quoi, durante uma de suas aulas, em Curitiba.

Para a maquiadora Elisângela Valença, a dança do ventre é uma ferramenta para "amar" seu corpo. Ela faz a dança há quase dez anos e, há pouco, começou também o pole e a chair dance (dança sensual usando uma cadeira). "Adoro explorar e testar os limites do meu corpo", conta Elisângela. "As pessoas costumam se incomodar com uma mulher gorda que dança com roupas curtas e barriga de fora. Olham torto. Já subi no palco sendo vaiada". 

"Essas danças nem sempre são bem vistas, principalmente aqui no Nordeste", diz a professora Paloma Augusta, do estúdio Entre as Pernas, em Aracaju. "Mas as meninas começam a praticar e percebem o quanto podem ser livres e bonitas, longe de qualquer julgamento", explica.

A sedução é consequência

Depois de aprender a aceitar seu próprio corpo através do pole dance, Graziela começou a dar aulas - Reprodução/ Instagram - Reprodução/ Instagram
Imagem: Reprodução/ Instagram

"Essas danças não existem necessariamente para despertar o desejo do outro. A gente se coloca como sujeito da ação e não mais como objeto de desejo", diz Graziela.

"O primeiro enfoque é seduzir você mesma, se olhar, se enxergar, entender que está tudo bem ali. Seduzir o outro vai ser uma consequência", completa Daylane.