Namoro sem fim e indecisão sobre filho: elas resolveram impasses da relação
Em relacionamentos longos, é natural que, em algum momento, haja um descompasso no que diz respeito aos objetivos para a vida em comum. É nessas fases de transição que muitos romances acabam, quando um dos dois decide acelerar e o outro não dá mostras de querer sair da zona de conforto.
Isso também aconteceu com as entrevistadas a seguir. Porém, elas conseguiram chegar ao tão difícil consenso com seus pares, usando as mais diversas estratégias. E foi assim que fizeram a relação engrenar novamente.
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“Chegamos a ficar dois anos sem sexo nesse período”
“Conheci meu marido em 2002, em um site de paquera. Estamos juntos há 16 anos, mas só resolvemos morar juntos há três. O casamento oficial acabou de acontecer, neste ano. Acontece que, entre o namoro e a decisão de morar na mesma casa, a relação empacou diversas vezes.
Chegamos a ficar dois anos sem sexo nesse período, entramos em uma fase mais introspectiva, acho que estávamos querendo resolver algo dentro de nós mesmos, antes de tomar qualquer atitude. Só que uma hora o silêncio precisou ser quebrado, ele me perguntou o que estava rolando e eu falei abertamente sobre como estava me sentindo. E foi a melhor coisa que fiz, porque nós não temos manual de instruções e os homens são péssimos em entender sinais sutis.
No meu caso, eu saquei que era um problema de autoestima, de insegurança, que ele me ajudou a resolver. Quando eu me senti segura comigo, me senti pronta para morar junto com ele. Daí, a decisão rolou de um jeito natural. Uma coisa que ajudou e ainda ajuda a manter a minha relação viva é introduzir novos hábitos, fazer coisas diferentes, sempre que possível, para quebrar a rotina.
Agora, por exemplo, acabamos de pegar uma cachorrinha, enquanto não nos decidimos sobre filhos. E isso fez uma diferença enorme no nosso dia a dia. Também é bacana ter planos em comum, isso faz a união continuar a ter sentido, independentemente do tempo juntos.”
Isadora Moreira*, 29 anos, bibliotecária
“Se ele não tomasse a decisão de vir morar comigo de vez, poderia se considerar sozinho”
“Já tinha uma filha do meu primeiro relacionamento quando conheci meu atual. Depois de dois anos ao lado dele, engravidei. Estávamos bem, já tínhamos vontade de morar juntos, porém, fazia pouco tempo que o pai dele tinha morrido e ele havia se tornado o homem da casa, cuidando da mãe e da avó. Então, ele me disse para alugar um apartamento maior, que iria morar comigo, mas que precisava fazer uma transição gradual, porque a mãe dele fazia o maior escândalo só de pensar em ficar só.
Durante oito meses da minha gravidez, fiquei ouvindo essa história. E nada acontecia. Foi aí que eu o coloquei na parede pela primeira vez, intimando-o mesmo. Disse que queria saber quais eram as pretensões dele comigo, que a nossa bebê já estava quase nascendo e que se ele não tomasse a decisão de vir morar comigo de vez, poderia se considerar sozinho.
Ele ficou bem surpreso e assustado e, uma semana depois, veio. Mesmo assim, passaram-se alguns meses até ele trazer todas as roupas e objetos pessoais para a minha casa. Ele teve que passar por cima da pressão da família e eu tenho certeza de que só fez isso porque eu coloquei limites e deixei bem claro o que eu queria e o que eu não iria aceitar mais.
Para mim, continuar o relacionamento em casas separadas estava realmente fora de cogitação. Ele viu que ia ficar sozinho mesmo se não tomasse partido. E foi aí que as coisas começaram a mudar. A partir daí, a relação deslanchou e, em breve, planejamos nos casar.”
Camila Cortella*, 35 anos, jornalista
“Nos casamos imediatamente, no cartório. Voltei para casa só para pegar as minhas coisas”
“Eu e meu marido costumávamos viajar muito a trabalho e foi em uma dessas oportunidades que nos conhecemos. Ele era comprometido e eu, também. Mas ficamos três meses trabalhando juntos, distantes de tudo e de todos. Foi inevitável o primeiro beijo acontecer. E acabamos nos apaixonando. Apesar disso, nosso namoro rolou por mais de um ano completamente à distância, cada um em uma parte diferente do país.
Acho que nesse tempo todo nos encontramos umas dez vezes, era muito pouco mesmo. Isso me fazia sofrer, pois estava sempre sozinha. Cada despedida era uma tortura. Até que um dia eu recebi um convite para ir trabalhar em um local distante, passar vários meses lá. Aí eu resolvi mudar o jogo, disse que não aguentava mais ficar naquela situação, que estava confortável para ele, mas para mim, não.
Disse que tudo bem se ele achasse que não estava pronto para um relacionamento sério, mas que eu definitivamente não ia continuar com aquela relação à distância. Então, ele disse: ‘Daqui para a frente seguimos juntos. A empresa vai e você fica’.
Liguei para a minha mãe na hora e avisei que ia me casar. E nos casamos imediatamente, no cartório. Voltei para casa só para pegar as minhas coisas e já estamos há 12 anos juntos.”
Letícia dos Santos*, 34 anos, advogada
“A maternidade era um sonho do qual eu não estava disposta a abrir mão”
“Já estávamos casados há cinco anos e eu já estava com 30. Então, comecei a pensar que talvez tivesse chegado a hora de ter um filho. Estávamos preparados, com uma vida estável, trabalho fixo, horários flexíveis e, além disso, nos dávamos muito bem. Porém, todas as vezes que eu abordava o assunto com ele, mesmo brincando, meu marido desfigurava.
Uma vez, uma amiga veio em casa com a filha e eu brinquei: ‘Olha que linda, amor! Vamos fazer uma também?’. E na hora ele disse algo do tipo: ‘Até parece, vira essa boca pra lá’. Depois que meus amigos foram embora, tivemos uma briga feia, ele disse pra eu parar de fazer essas brincadeiras, que ele não gostava.
Aí comecei a pensar sobre o futuro da nossa relação, que a maternidade era um sonho do qual eu não estava disposta a abrir mão. E esse não é o tipo de coisa que você consegue fazer sozinha, se o seu parceiro não quiser. Provoquei uma conversa já sabendo que poderia ouvir qualquer coisa dele. Mas fui decidida, se meu marido não quisesse, esse era o momento de nos separarmos.
Analisei friamente mesmo, se não chegássemos a um consenso, eu ainda teria tempo para conhecer outra pessoa que quisesse o mesmo que eu e de construir um novo relacionamento. Eu falei tudo isso para ele e disse que se eu esperasse e chegasse o futuro e, por algum motivo, eu não pudesse ter um filho por causa do meu relacionamento com ele, isso me frustraria muito. E que isso não seria justo nem comigo e nem com ele.
Conversamos com muita calma e sinceridade e eu tentei entender porque ele se incomodava tanto com a possibilidade da paternidade. Depois de muito papo, ele acabou se sentindo mais seguro, se decidiu e aceitou a ideia. Hoje, é um superpai, participa de todos os momentos da vida do nosso filho.”
Flavia Cristiane Montagneri Caivano, 31 anos, analista de governança de TI
* Nomes trocados a pedido das entrevistadas
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