Mãe de lésbica cria canal no YouTube para "acalmar" quem tem filho(a) LGBT
Quando Tatiana Ferraz descobriu que a filha de 15 anos é lésbica, seu chão caiu. O motivo? Perceber que ela era preconceituosa. Professora de jornalismo, com uma porção de amigos e alunos gays, e acostumada a ter com eles conversas sobre respeito e aceitação, ela se viu "com medo" diante da revelação da filha.
A montanha russa de sentimentos fez Tatiana tomar atitudes importantes: a primeira, claro, foi acolher a filha. A segunda foi se tornar militante entre as mães LGBT. Há poucos dias, a professora lançou um canal no YouTube e uma página no Facebook com o intuito de, diz ela, "acalmar" mães de filhos homossexuais.
"Ser mãe de sapa não muda nada na rotina com a minha filha. A gente vai ao shopping, ouve música, gosta de futebol e briga porque ela só come porcaria. O fato de ela ser lésbica só diz respeito a ela, é uma característica como qualquer outra”, explica Tatiana.
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A primeira reação
A filha, Lucília, hoje tem 18 anos. Quando contou à mãe sobre a primeira paixão, tinha apenas 13. Surpreendentemente — para a professora —, a dona do coração da adolescente era uma menina. “Achei que era coisa de criança, dei de ombros. Não reprimi, nem dei tanta importância. Só que, aos 15 anos, ela teve a certeza. Disse que gostava mesmo de garotas”, conta a professora.
A primeira reação de Tatiana foi sentir medo. “Eu perdi o chão. Veio na minha cabeça que ela era diferente e, logo em seguida, que essa diferença a faria sofrer. Eu não quero que a minha filha sofra. Via fotos das minhas amigas com as filhas e os namorados e pensava: ‘Por que comigo tem que ser diferente?’. Só que essa sensação durou muito pouco”, diz a professora, que foi confortada pelo marido, o pai de Lucília.
“Ela me pediu para não contar ao pai, mas eu contei. No mesmo dia, assim que ele chegou em casa, joguei a notícia. Meu marido me olhou muito sério e respondeu: ‘Foda-se, eu quero que ela seja feliz’. Aquilo foi um divisor de águas na minha vida. Realmente, por que eu estava me preocupando? Eu também queria que ela fosse feliz. Pronto, tudo resolvido, ela vai ser feliz”, explica.
Marido e filho deram uma lição
O filho de Tatiana, com 14 anos à época, deu todo o apoio à irmã. Segundo a professora, foi a reação exemplar da família que a fez perceber que o preconceito é cultural. “É coisa que colocam na cabeça da gente. Crescemos ouvindo que ser gay é pejorativo, é menor, é estranho. E não! Só define uma coisa sobre a pessoa: com quem ela vai se relacionar. Minha filha é um ser humano incrível, de caráter, que gosta de ajudar os outros. Tem milhares de defeitos, e, certamente, ser lésbica não é um deles”, afirma.
Para Tatiana, o fim da discriminação passa por aceitar e falar aos quatro cantos que a homossexualidade não tem nada de anormal. "É um desserviço pensar que homossexuais não devem se beijar em público 'porque crianças podem ver'. Se as crianças forem ensinadas a lidar com um beijo gay da mesma forma que lidam com um beijo hétero, o preconceito acaba”.
Blogueira e Youtuber aos 45 anos
Tatiana descobriu que ser mãe de sapa, como ela gosta de dizer, é igual ser mãe de hétero. E é isso que, aos 45 anos, ela quer mostrar a outros pais com a página no Facebook “Relaxa Mãe” e o canal de mesmo nome, no YouTube.
“Quero dar meu depoimento, mostrar a convivência com a minha filha. Meu objetivo é retratar a vida de forma otimista e positiva. Mães que não aceitam os filhos porque eles são LGBT estão perdendo uma grande oportunidade. Logo, esses filhos serão adultos e independentes, e essas mães vão olhar para trás e pensar na quantidade de tempo que perderam”, diz a professora.
“Quando um jovem me procura para dizer que a mãe não o aceita, eu sinto pena. Não dele, mas da mãe. É tão gostoso acompanhar a adolescência de um filho. Estar lá, nos momentos bons e ruins. É uma extremamente importante para o amadurecimento”.
Um celular e uma ideia na cabeça
Tatiana faz toda a produção do canal de forma caseira. Uma ideia na cabeça, um celular e alguém para segurar o aparelho são suficientes. Primeiro, ela grava. Depois, edita. Não está preocupada com detalhes, só com a mensagem que vai passar. Na página do Facebook, ela publica textões contando situações pelas quais passa ao lado da filha.
“Minha ideia é intercalar vídeo e texto. Como minha rotina é bastante corrida, não me comprometo com postagens periódicas. Tento gravar ou postar uma vez por semana. O próximo vídeo vai falar sobre o momento em que descobri que a Lucília é lésbica".
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