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Mães são excluídas de rolês: "Acham que a gente só quer limpar fralda"

Priscila e as filhas de 3 e 4 anos que são "pequenas e agitadas" - Arquivo Pessoal
Priscila e as filhas de 3 e 4 anos que são "pequenas e agitadas" Imagem: Arquivo Pessoal

Amanda Serra

Da Universa

31/05/2018 04h00

As cobranças sociais em torno das mulheres não são poucas e nós sabemos. Quando elas se tornam mães, parece que acontece uma espécie de “canonização”: não só as exigências tendem a ficar mais intensas, como os convites para eventos sociais costumam desaparecer.

Mãe de duas meninas, uma de 4 e outra de 3 anos, a professora carioca Priscila Duarte, 31, foi desconvidada de um churrasco ao contar que suas filhas iriam junto com ela no evento. Abaixo as mensagens.

Mensagens que Priscila recebeu - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução

Mensagens que Priscila recebeu - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução

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“Era aniversário de um amigo meu da época da escola. Um dia antes da festa, passei na casa dele com as minhas filhas. Assim que saí de lá, recebi mensagens falando que não era para eu ir, caso minhas meninas fossem”, conta ela à Universa.

“Fiquei chocada com a situação e sem reação. Ainda agradeci o convite. Nunca tinha acontecido isso antes. Nos conhecemos desde que tínhamos 11 anos e achei que ele estava brincando, mas não era”, lamenta ela, que ainda se sentiu na obrigação de se justificar.

“As minhas meninas são educadas, gentis, mas falantes, brincalhonas. Estão na fase dos ‘porquês’, o que não é um bicho de sete cabeças. Não quebram nada nem mexem sem pedir. Sou rigorosa ao extremo, chego até a ser chata.”

Depois das mensagens, Priscila e seu antigo amigo não se falaram mais, e ela acabou organizando um encontro com outra turma e as filhas participaram da comemoração.

“Meus amigos fiéis se reuniram e fizemos uma baita social, com direito a muito churrasco. Lá, estava acolhida, as meninas foram muito bem recebidas, dançaram, mesmo tendo apenas uma mãe no grupo, além de mim”, conta Priscila.

"Ser mãe é meu maior orgulho, mas sou mulher, sou a Nathalia"

Mãe solo, a paulistana Nathalia Hammerl, 20, garante que esse tipo de situação é mais comum do que se imagina. Com um bebê de seis meses em casa, ela passou a ser deixada de lado pelo pai e a irmã, além dos colegas.

“Moro com minha irmã e sempre vejo meu pai indo viajar com ela, saindo para jantar, passear em algum lugar bacana. Depois que meu filho nasceu quase não me chamam mais. Muitos amigos também não me convidam. E o comentário é sempre: 'Nem te convidei porque não tinha como, né?”; enquanto olham para o meu filho. Sabe, não é balada, festa, mas um passeio, almoço."

A galera acha que o bebê vai ficar chorando e criará um ‘climão’ ou que a gente muda 100% quando vira mãe e não quer mais se divertir, só limpar fralda. Eu me sinto excluída

Com a nova realidade, Nathalia adaptou os gostos antigos com a rotina atual e passeios com mulheres que têm filhos se tornaram mais comuns. “Ele vai comigo para todos os lugares, claro, com restrição de horário e clima. Mas se vou a um barzinho beber uma cerveja com amigos ou a um churrasco de família, ele vai. Até show à tarde na Virada Cultural eu o levei.”

A artesã ainda alerta sobre a redução das mulheres por conta da maternidade. “Ser mãe é meu maior orgulho, mas sou mulher, sou a Nathalia.”

Segmentação de público

Além da exclusão por parte dos ciclos familiares, alguns lugares, como restaurantes, têm trabalhado com o que chamam de segmentação dos estabelecimentos.

"Há os que incentivam a hospedagem de famílias com crianças, os que oferecem serviços especiais para quem leva um animal, os especializados em golfe... Quem dita as regras é o mercado e as normas legais de cada destino”, diz a ABIH (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis), em nota à Universa.

Na mesma linha de raciocínio, Paulo Solmucci, presidente executivo da Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes), diz: “O setor tem públicos variados, e segmentar é uma estratégia comum e importante.”

Segundo a advogada Lúcia Helena Fernandes de Barros, coordenadora da área cível do escritório Fialdini Advogados, em São Paulo, não existe uma lei que diga que o estabelecimento não possa proibir a entrada de crianças.

“O Código de Defesa do Consumidor determina que a relação entre estabelecimento e consumidor seja transparente". Ou seja, o estabelecimento que proíbe ou restringe a entrada de crianças precisa comunicar isso de forma clara, seja com avisos nas suas redes sociais, no seu site e com placa visível na entrada.

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