Fiz um curso para aprender a dirigir filmes pornôs
Já parou para pensar como é feito um vídeo pornô? Será que é só ligar a câmera e os atores começam a transar? Ou, como qualquer tipo de cinema, tem também direção, iluminação e produção super pensadas? Foi para descobrir como é feito -- e quem sabe poder produzir uns caseiros -- que me inscrevi no workshop "Pornô Do It Yourself (Faça você mesmo, em inglês)", que rolou no último sábado, em São Paulo.
A oficina é oferecida pela produtora de pornografia XPlastic há alguns anos, mas essa edição foi especial: a primeira feita só pela equipe completamente feminina que existe na empresa. E aconteceu durante o festival PopPorn.
Veja também:
- Mãe de atriz pornô revela como aceitou profissão da filha: "é o sonho dela"
- Pazes com o corpo e um jeito feminino de transar marcam uma transformação na sexualidade de jovens
- Vida de "cam girl": "Meu primeiro orgasmo foi na frente da câmera"
Entre os alunos, casais e camgirls
Eram cerca de 25 pessoas sentadas em cadeiras de plástico, ao redor de um grande pufe redondo, onde estava a equipe da produtora. May Medeiros é a diretora, Les Chux a câmera e diretora de fotografia, Camilla Fernandes, editora, Dread Hot é atriz e seu namorado, Alemão, ator. Os dois iriam fazer a cena que nós alunos, gravaríamos. Sim, ia rolar um sexo ao vivo ali e eu estava bem ansiosa para ver onde ia dar.
"Isso não é uma aula de cinema", May já começa dando a real. E explica que a ideia é ensinar o básico para qualquer um poder fazer um filme, e com os equipamentos que cada um tem.
Ela pede para todo mundo se apresentar e dizer por qual motivo está. São 13 homens e nove mulheres. Da parte deles, havia fotógrafos e filmmakers, querendo aprender um pouco sobre o olhar de uma mulher em relação ao pornô, além de dois casados, acompanhados de suas companheiras. Entre elas, algumas fotógrafas, duas camgirls que pretendiam usar no seu trabalho as lições do workshop, e as duas casadas, que queriam mesmo aprender para usar na produção caseira.
Apresentações feitas, hora de aprender.
A teoria de se virar como dá
Les Chux fala primeiro sobre a importância da iluminação para o pornô. "Não é legal uma piroca numa luz toda chapada. A luz cria o clima e a sensação de volume", explica. E conta que no dia a dia do pornô, está acostumada a se virar com o que tem. Um abajur, uma luminária de casa, tudo pode virar equipamento.
Depois, Camilla explica que na pornografia, a maior dificuldade é na hora da edição, para corrigir os erros cometidos na gravação. Ela mostra um vídeo com vários erros. São objetos que não deviam aparecer, uma perna ou um braço de intrusos na cena, barulhos perdidos, câmera tremida.
May mostra alguns vídeos que dirigiu e conta que a grana para fazer pornô é muito baixa (cerca de R$ 4 mil, para cada filme), então muita coisa é improvisada. Ela conta, por exemplo, que é muito difícil encontrar locações e que, por isso, quase todos os pornôs terminam sendo filmados em motéis.
A outra coisa importante que May diz é: "A prioridade são as atrizes. Se o diretor quer que elas atuem bem, precisam pagar um curso de teatro pra elas". E mais: "Tem que perguntar o que os atores querem, o que eles curtem. Você não deve colocar uma atriz para fazer algo que não queira".
A opinião dos atores conta
Palestras feitas, chega a hora da ação. Como a turma é muito grande (normalmente o workshop tem menos de 10 alunos), May pergunta quem quer dirigir e quem quer filmar. Decido ficar no segundo grupo, para sair dali com um filminho, né?
Enquanto Les Chux monta a luz, May orienta os diretores. Basicamente, ela explica que é preciso definir anteriormente o que vai ser o filme, chamar atores que tenham a ver com a ideia (por exemplo, não contrata uma mulher que odeia anal para fazer uma cena assim) e conversar com eles sobre os talentos de cada um. O próximo passo é fazer o roteiro e, então, gravar.
Ela pergunta para Dread e Alemão o que eles acham que dava para fazer ali. E eles jogam a real: "A gente nunca fez na frente de tanta gente, então tem risco de não subir. Melhor começar com um oral".
Rolam outras dicas para fazer um filme legal: prestar atenção nos detalhes do corpo, pegar imagens sensoriais, como beijos, mãos, veias pulsando, e não só a transa em si. Isso passa mais sensações para o público.
Ação!
Tudo combinado, Les Chux explica a luz que escolheu. São três fontes: um rebatedor fotográfico na frente do pufe onde rolaria a transa, um refletor com uma gelatina (espécie de plástico para dar cor) azul de um lado e uma luminária com um pano em cima do outro. Ela diz que as luzes do lado eram as que "davam volume". E, de fato, os atores já estão bem mais "no clima" com essas luzes.
Agora sim, hora de gravar. Dread veste uma lingerie, avisa que está menstruada e Camilla intervem: "Duas coisas que não podem aparecer, sangue e fezes, a não ser que seja um filme de escatologia". Rola ainda um aviso sobre a importância de sempre usarem camisinha.
Os atores então batem uma palminha e partem para a ação. Começam com beijos e carícias e seguem para uma belíssima sequência de orais, para só depois rolar a penetração.
Enquanto eles transam, ao redor, as 25 pessoas filmam com suas câmeras e celulares. Eu estou do lado, lutando para que não apareça ninguém do público nas imagens -- o que dificulta bem a gravação. Ficoi tão concentrada em pegar as imagens, que nem sinto tesão. O foco ali é o trabalho, por incrível que pareça. Mas as caras e bocas de Dread são hipnotizantes e tenho que ficar atenta para não filmar só ela.
A cena é enorme, quase meia hora de sexo! Em dado momento, paro de gravar porque meu celular enche, e fico só observando. Todo mundo está superconcentrado na gravação, e é engraçado ver que, tirando o casal, ninguém parece estar num mood erótico na sala.
Quando Alemão goza, eles ainda ficam um tempo trocando uns beijos e carícias. Não dá para saber se ela gozou, mas durante a transa, em vários momentos, parece que sim.
Aos poucos, eles vão diminuindo os beijos, até que Alemão olha para a gente e fala: "Corta?'. E May dz que sim
Os dois então pedem desculpas: esqueceram de usar camisinha. Nessa hora, May diz que o certo sido parar a gravação, mas como eles são um casal fora dos sets, ela deixou rolar. "Não pode sem camisinha e todo mundo tem que entregar exame de DST pra poder gravar", reforça o ator.
O horário já está acabando. Então, a edição do vídeo teria que ser feita em casa, por cada um de nós, tentando seguir as orientações dadas pela diretora.
Caso decida fazer pornô ou camgirl, já sei um pouco sobre criar uma iluminação bonitona, como deixar os atores à vontade e algo sobre enquadramento, som e locação. De quebra, levei para casa uns vídeos bem legais, feitos por mim. Quem sabe posso usá-los num momento de solidão.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.