Filho adulto em casa: essas mães não expulsam, mas estimulam independência
Recentemente, o caso do casal que entrou na justiça para tirar o herdeiro de casa virou notícia. E eles não estão sozinhos. Por temerem o custo alto da vida adulta, por se casar tardiamente ou por comodismo, alguns filhos demoram a sair da casa dos pais. É o caso dos três adultos, de 42, 38 e 30 anos, com quem Universa conversou. Leia os depoimentos:
Mas e as mães deles, o que acham de ter um filho que resiste a sair da casa da família? Perguntamos para elas.
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“Ele tira um pouquinho da minha privacidade”
A mãe: Maura, 65, aposentada
“O Alan sempre foi o mais caseiro, nunca foi de sair muito, ficava muito comigo e com meu marido, que morreu em 1997. A morte dele fez meu filho ficar ainda mais grudado comigo. Na minha época, não tinha muito isso de ficar até mais velho na casa dos pais, pelo menos não na minha família. Eu não saí porque odiava morar com meus pais ou porque eles me expulsaram, era o esperado: casar e sair. E eu casei com 18 anos. Nunca empurrei ele para fora de casa, mas falamos sobre ele ter a família dele. Agora ele namora e passa bastante tempo na casa dela, a moça mora sozinha com a filha. Eu pergunto se ele não pensa em morar com ela. Eu quero mais é que meu filho seja feliz, não que ele não seja aqui comigo, mas é diferente morar com os pais. É outra vida ter a nossa casa. Eu dou até o exemplo dos irmãos dele, que saíram logo de casa. Não faço pressão, mas falamos bastante sobre isso. Não lembro de algum dia que eu e meu filho brigamos e ele quis sair de casa, não é a personalidade dele. O clima entre nós dois é bem bom, mas ele tira um pouquinho da minha privacidade. Eu frequento bailes da terceira idade e, às vezes, converso com uns paqueras por telefone e tenho vergonha de ele me ouvir falando com alguém, porque, sendo bem ciumento, sempre vem me perguntar se estou me relacionando. Ele me ajuda muito, é quem paga as contas da casa, minha aposentadoria e a do meu marido são só para os meus gastos. Não somos de sair para fazer coisas juntos, mas tomamos café e jantamos juntos. Se um dia ele sair, vou sentir falta dessa rotina.”
“Tenho meu quarto e, para mim, é mais do que suficiente”
O filho: Alan, 42, bancário
“Aqui é minha casa também, morei aqui durante toda a minha vida, então, não é como se eu sentisse que estou tirando vantagem de algo, é a vida que eu estou acostumado a viver. Nunca senti a necessidade de sair, mesmo quando adolescente não tive a fase de ‘preciso de liberdade’. Nunca tive esse sonho. Eu estou em um relacionamento sério e já questionamos isso. Temos a estabilidade financeira necessária para morarmos juntos, mas, ainda assim, não vejo muito sentido em sair agora. E eu não penso em ter filhos. Eu e minha mãe temos um relacionamento muito bom. Não sinto falta de espaço nem de privacidade. Tenho meu quarto e, para mim, é mais do que suficiente. Sair para morar sozinho é fora de cogitação. Não vejo porquê. Nunca senti pressão da parte da minha mãe, ela me apoia em todas as decisões. Claro, eu sei que ela adoraria que eu tivesse filhos, assim como os meus irmãos tiveram, quanto mais netos melhor. E sei também que se eu casasse e decidisse ir morar com a minha esposa, ela apoiaria, porque apoiou todos os meus irmãos. Ela se preocupa comigo e com a minha felicidade, mas, se eu não estivesse feliz, já teria mudado o rumo da minha vida. Se eu sentir que chegou o momento de sair, irei sem problema algum.”
“Lá atrás, achei que o Fabio sairia com 30 anos”
A mãe: Sônia, 62, costureira
“A gente cria os filhos da gente para terem a família deles e irem embora, isso é o normal, é o que a gente já está esperando. Por isso, lá atrás, achei que o Fabio sairia com 30 anos. Mas, hoje em dia, é diferente: eles ficam mais tempo em casa. Eu saí lá para os meus 20 anos. Gosto de ter a minha própria casa. É bom ter o cantinho da gente. Mas também foi bom morar com meus pais --cada fase é uma fase. Eu estimulo ele a sair. Ele sabe que aqui vai ser para sempre a casa dele também, mas ter um cantinho seu, que você conquistou, e colocar a sua família lá, tomar conta deles, é muito bom, também. Ele não é filho folgado ou encostado. A gente divide tudo. Ele trabalha fora e durante muitas horas, eu consigo trabalhar mais de casa e são serviços mais rápidos. Então, cuido e mantenho a casa no dia a dia, mas ele não tem frescura, não. Lava louça, passa um paninho... Ele foi criado assim. As contas também a gente divide, mas, como ele ganha mais, se se tem algum mês que eu não consigo ajudar muito, ele paga, sem problemas. Antes eu ficava preocupada por pensar ‘e quando eu não estiver mais aqui?’, mas agora ele está aí com a namorada dele e ano que vem está indo. Eu abençoo, vai ser muito feliz com certeza. Vou sentir falta quando ele sair, mas o trabalho vai diminuir, porque só vai ficar meu cachorro, que não dá trabalho algum.”
“Morar com a minha mãe me ajudou a guardar dinheiro”
O filho: Felipe, 38, administrador
“O que me prende hoje na casa da minha mãe é o receio de não conseguir manter o mesmo padrão de vida, ter as mesmas coisas que tenho hoje. Não quero passar aperto financeiro. Morar com a minha mãe me ajudou muito com relação a despesas. Eu pude guardar dinheiro para comprar ou alugar (ainda não sei ao certo) a minha própria casa com a minha namorada –pretendo morar com ela no ano que vem. Lá em casa, todo mundo faz todas as coisas, pois não temos faxineira. Nós dois nos dividimos e fazemos tudo sozinhos: limpeza, organização, comida. As contas da casa são todas divididas entre nós dois, mas eu pago coisas minhas que são particulares. Não dá para falar que não tira um pouco a privacidade, 100% de privacidade só morando sozinho, mesmo, mas nada que não dê para ser resolvido ou que me incomode muito a ponto de ser decisivo para eu me mudar. Ela nunca fez menção sobre eu sair de casa, mas sei que ano que vem, assim que estiver tudo certinho para eu sair, ela vai me apoiar, assim como fez em todos os outros momentos da minha vida.”
“Não dá para ficar na minha saia para sempre”
A mãe: Maria, 56, doméstica
“Eu falo para minha filha que não é bom nem para ela nem para as crianças dela morar comigo. Tem que conquistar as coisas e ir viver a vida dela. Não dá para ficar na minha saia para sempre. Eu falo, sim, para ela sair, falo toda hora. É importante a gente ter as coisas da gente, conquistar coisas com o nosso trabalho. Se acontece alguma coisa comigo, ela fica aí, com dois filhos, sem nem saber o que fazer direito. Eu sinto que ela ainda é meio imatura e acho que é por não ter saído de casa. Mas fazer o quê? Agora é correr atrás de um serviço e começar a vida. Tempo ainda dá. Sempre dá. O benefício de ela morar comigo é cuidar da casa para mim. Mas ela não está trabalhando e tem os filhos. Então, eu gasto todo o dinheiro que ganho. Tudo mesmo. O que sobraria para eu guardar não sobra mais. Eu não acho que a presença deles aqui tira minha liberdade, eu não me sinto desconfortável, não. Já ela reclama disso comigo, mas não trabalha, então, não dá para ter vida fácil.”
“Ela não é fácil, não. Deixa bem claro que a gente tem que respeitar as regras dela”
A filha: Célia, 30, dona de casa
“O que me prende a casa dela é o medo de sair de lá e não conseguir dar uma vida boa para os meus filhos. Depois que viramos mãe, não tem mais como só pensar na gente. Eu já saí, fui para a Bahia, fiquei uns meses lá, mas voltei. Como estou sem trabalhar, eu faço as coisas em casa. Quando ela chega, já limpei, cuidei da louça e das roupas. Ela nunca me expulsou, mas se a gente briga, é a primeira coisa que ela joga na minha cara: ‘Como você quer falar alguma coisa sendo que na sua idade eu tinha você, já era casada e estava fora de casa?’. Ela não é fácil, não. Deixa bem claro que a gente tem que respeitar as regras dela. Parece que sou criança ainda --não pode acordar tarde nem chegar tarde. Se eu estou dormindo, ela já me acorda brava. Quando quero privacidade, não tem jeito, só correndo para o meu quarto, mesmo.”
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