"Os Incríveis 2" consagra tendência ao feminismo nos desenhos animados
Princesas à espera de um beijo de amor que as desperte para a vida, tais quais as versões clássicas de A Bela Adormecida e Branca de Neve dos estúdios Disney, ou donas de casa fofas e prestativas, como Betty e Wilma, de "Os Flinstones" ou a moderna Jane de "Os Jetsons"... Essas são personagens com os dois pés fincados na nostalgia.
Alinhada com os valores dos novos tempos, que buscam a igualdade de gênero e a quebra do que se convencionou chamar de "papéis" femininos e masculinos, a representação da mulher pelas animações vem mudando muito nos últimos anos.
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Isso é ótimo tanto para os adultos quanto para as crianças, que podem conferir no cinema e na TV que existem possibilidades múltiplas para as garotas, para os casais e para as famílias. "Os Incríveis 2", que acabou de estrear, torna essa tendência legítima em grande estilo. Por que esse e outros desenhos animados contemporâneos estão mais alinhados com o feminismo? Veja a seguir:
"Os Incríveis 2"
Quando a Mulher Elástica ganha mais destaque profissional do que o Senhor Incrível e é recrutada por uma empresa multimilionária para testar uma nova tecnologia, tudo leva a crer que a rotina da Família Pêra vai virar um caos. Afinal, até mesmo a Mulher Elástica sofre para conciliar família e carreira. E ter de enfrentar o dia a dia doméstico pode ser a missão mais difícil da vida do herói. Pois a graça da nova produção da Disney/Pixar está justamente em fazer com que os personagens, assim como as pessoas reais, entendam que o melhor que um casal pode fazer é sempre somar forças e se colocar um no lugar do outro, em vez de travar batalhas inúteis. A Mulher Elástica sente culpa, sim, e o Senhor Incrível enfrenta um cansaço atroz para dar conta de tudo, mas, ao fazerem o melhor que podem, em vez de almejarem o impossível, os dois encontram eco em muitas famílias de hoje.
"Moana"
Sem um único beijo de amor sequer, a animação de 2016 foi --e aqui o trocadilho vale a pena, já que boa parte do filme se passa no mar-- um divisor de água na história da Disney. Moana é uma princesa, sim, mas retrata os novos tempos: é destemida, curiosa, questionadora e incansável. Não hesita, inclusive, em desobedecer o pai em prol de um objetivo maior, que é garantir o bem-estar de seu povo.
"Frozen, Uma Aventura Congelante"
Embora aborde, sim, um romance convencional --entre Anna e Kristoff--, o mote principal de "Frozen" (2013) é a história de amor entre duas irmãs. E, claro, a jornada de crescimento e autoaceitação de Elsa, a protagonista da animação, que precisa aprender a administrar os próprios poderes, em vez de mantê-los sob controle, para viver em paz.
"Valente"
Apesar de não ter feito o mesmo sucesso que os sucessores "Frozen" e "Moana", "Valente" (2012) é animação da Disney que apresenta uma das cenas feministas mais emblemáticas: a que Merida, de arco e flecha em punho, entra na disputa pela própria mão em casamento. E ganha, para desespero de sua mãe, que almeja um casamento de interesse para a filha para cumprir as tradições e aumentar o poder do reino. A relação entre mãe e filha, com seus rompantes de amor e ódio, é outro ponto alto do filme.
"The Loud House"
Exibido pelo canal pago infantil Nicklodeon, conta a história de um menino de 11 anos, Lincoln Loud, e suas dez irmãs com idades que variam de 15 meses a 17 anos. Os pais trabalham fora e dividem igualmente tarefas domésticas, despesas e responsabilidades. As meninas da família são todas diferentes entre si - há a nerd, a gótica, a esportista, a princesinha, a roqueira etc. --e a graça do desenho está justamente na sororidade com que cada uma, apesar de temperamentos tão distintos, consegue entender a outra mesmo que não concorde com seu jeito. Outro trunfo de "The Loud House" é que mesmo nos episódios em que uma guerra dos sexos começa a ser delineada, o enredo prova que é mais divertido e útil que meninas e meninos aprendam uns com os outros.
"O Incrível Mundo de Gumball"
Um dos desenhos mais anárquicos que estão no ar (no Cartoon Network), "Gumball" subverte aquela antiga máxima patriarcal do "Vou contar tudo para o seu pai" ou "Pede para o seu pai, ele é quem cuida do dinheiro". Nicole Watterson, a mãe, é a chefe da família, a única que trabalha e que põe dinheiro em casa. Intelectualmente limitado, Ricardo, o pai, não consegue se dar bem em nenhum emprego por causa da burrice, mas tem o coração puro e cheio de boas intenções. Gumball e Darwin são os irmãos bagunceiros, enquanto a caçula, Anais, é superdotada. A animação, que pode ser vista como uma crítica à família tradicional e também aos métodos convencionais de ensino, volta e meia flerta com temas filosóficos, como no episódio "As Escolhas", em que Nicole repensa sua trajetória e percorre mentalmente vários caminhos em que não seria tão estressada e sobrecarregada, mas decide que o melhor destino foi mesmo que escolheu.
"Zootopia"
A mensagem do filme animado lançado em 2016 é a importância de se respeitar a diversidade e combater qualquer tipo de preconceito. Nada melhor, portanto, do que ter como heroína a coelha Judy, uma feminista de mão cheia: ela se recusa a ser chamada de "fofa", escolhe uma profissão tipicamente masculina (a de policial), não se rende ao bullying sofrido no trabalho pelos colegas e pelo chefe abusivo e machista e, o melhor, não cai na chantagem emocional dos pais - que, mesmo amorosos, seguem ideias antiquadas e não querem que a filha avance numa carreira arriscada e que "não é para ela". Aliás, há uma cena que mostra exatamente como o discurso dos pais pode impactar de forma negativa nos filhos, que como uma esponja absorvem seus preconceitos: ao aplicar uma multa, Judy ouve de uma criancinha: "Minha mãe disse que você é mal-amada!".
"Star Vs As Forças do Mal"
Exibido pela Disney Channel e pela Disney XD no Brasil, "Star" também trata de uma história de crescimento, no caso o de uma princesa alienígena que vem fazer intercâmbio na Terra e passa uma temporada na casa de Marco, um adolescente filho de imigrantes mexicanos. Meio amalucada e infantil no início da trama - embora cada episódio se "feche" em si mesmo - os capítulos integram uma espécie de saga -, Star vai aos poucos amadurecendo e se conscientizando das responsabilidades que deve cumprir em seu reino, Mewni. O desenho brinca o tempo todo com os estereótipos que rondam as figuras femininas, desconstruindo todos eles. Um bom exemplo é a existência do Santa Olga, um reformatório para princesas desobedientes cujo tratamento consiste em acabar com qualquer resquício de individualidade das alunas e transformá-las em seres dóceis e submissos.
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