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"Sou física espacial e quero estimular mais garotas a serem cientistas"

Arquivo pessoal/Arte UOL
Imagem: Arquivo pessoal/Arte UOL

Beatriz Santos e Rita Trevisan

Colaboração para Universa

24/07/2018 04h00

Na adolescência, ao assistir o filme "Contato", Alessandra Abe Pacini, 35, começou a sonhar em trabalhar como astrônoma. Depois de dois doutorados e várias experiências internacionais, incluindo uma passagem pela Nasa, ela quer compartilhar sua paixão com outras mulheres. "A ciência precisa de mentes femininas, a maioria que escreve é homem e, quando nós escrevemos, quem avaliam são eles. Isso é limitante", diz. A seguir, ela conta sua trajetória:

“Sempre gostei de ciências, mas o filme "Contato" foi determinante para a minha decisão de estudar Física. Ele mostrava a Jodie Foster como uma astrônoma, no Observatório de Arecibo, em Porto Rico, justamente onde eu trabalho atualmente. E aquilo foi um divisor de águas para mim. 

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Como estudante, eu não era uma aluna nota 10, mas era bastante interessada, prestava atenção nas aulas. Então, acabei fazendo monitoria, iniciação científica e tudo isso foi abrindo portas durante a minha formação. 

Sou filha de um pai matemático que sempre trabalhou com informática, que colecionava milhares de livros, incluindo vários de Física. Então, ele sempre me apoiou. Já a minha mãe nunca entendeu meu gosto pela Física e pelo espaço.

Quando eu fui para a Antártida ficar um mês, contei para minha mãe, muito empolgada, e ela quase enlouqueceu. 

Ela me perguntou o que eu ia fazer no meio do nada... Mas, com o tempo, se acostumou.

Por conta da ciência, morei na Finlândia, nos Estados Unidos e até trabalhei na NASA durante um período. Eu andava pelos corredores vendo grandes nomes que eu lia nos papers quando estudava sobre o assunto, foi uma experiência incrível!

Atualmente, eu também me dedico bastante à pesquisa, concluí dois doutorados, dei aula em Universidades e agora oriento outras pesquisadoras. Mas foram duas alunas que me inspiraram a escrever o livro "Girls in Space", que será lançado de forma independente por meio do Kindle, na plataforma da Amazon.

Eu as preparei para a Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica (OBA) no CEFET Química de Nilópolis (RJ) e as duas ganharam medalhas de ouro. O livro foi escrito em português e será traduzido para mais quatro línguas, porque quero atingir o maior número possível de garotas.

Estamos muito mal representadas na ciência, não há nem 30% de mulheres cientistas em todo o mundo, segundo dados da ONU

Mas as crianças entram na escola interessadas em ciência, porque o espaço fascina, elas querem experimentar, testar, ver o que vai acontecer... O que nós não podemos fazer é matar esse cientista dentro delas. Então, eu lancei o livro para tentar resgatar isso nas meninas a partir dos nove anos, quero que as garotas saibam que ciência é coisa de menina, sim.

A ciência precisa de mentes femininas, a maioria que escreve é homem e, quando nós escrevemos, quem avaliam são eles. Isso é limitante para a pesquisa em si e para a gente, porque nem todos querem abrir espaço para as mulheres. Precisamos estabelecer uma rede de apoio e avançar. O que não podemos é nos deixar abater, pois não há limites para a nossa capacidade. O espaço está aí para nos lembrar disso, representando uma fonte inesgotável de inspiração.”