"Descobri que estava grávida no dia que meu bebê nasceu"
Quando a dona de casa carioca Thayná Drumond, aos 20 anos, teve seu primeiro filho, Miguel, que hoje tem 1 ano e 8 meses, decidiu que não queria ter outros. Duas semanas depois do parto, passou a tomar anticoncepcional injetável e usar preservativo nas relações com o marido para garantir que não engravidaria. A surpresa: meses depois, foi parar no hospital por conta de uma dor nas costas. Descobriu que estava grávida! E mais: Gabriel nasceu pouco mais de três horas depois da revelação da gestação. Favorável à legalização do aborto, ela disse que se tivesse sabido antes, poderia ter chegado a pensar em tirar o bebê. “Não é certeza que eu teria coragem, mas eu não queria ter mais um filho", ela diz. Hoje o caçula está com 6 meses e todos passam muito bem. Veja sua história:
“Comecei a tomar remédio duas semanas depois do nascimento do Miguel, meu primeiro filho, porque ele nasceu com refluxo grave e demandava muita atenção. Ele também era bem ativo: sabe aquelas crianças que não dormem? Então eu e meu marido conversamos e decidimos parar por ali. Escolhi o anticoncepcional injetável justamente para não ter perigo de esquecer. Como o médico dizia que não era 100% confiável, ainda fazia questão de usar camisinha. Eu não estava menstruando e achei estranho, mas conversei com especialistas que me disseram que era normal, por causa do remédio injetável.
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Nos meses seguintes, vivi, então, minha vida normalmente. Sou hipertensa e tinha alguns dias em que minha pressão subia, mas só isso. Sentia um pouco de dor nas costas, também, mas achava que era por causa do Miguel - ele era bem pesado para a idade. Um dia, fazendo a unha de outra pessoa, caí da cadeira e senti muita dor na coluna. No dia seguinte, era aniversário do meu sogro. Eu havia ganhado 10 quilos nos últimos meses, mas não desconfiei porque vivia brigando com a balança - e minhas roupas nem chegaram a ficar apertadas.
Com a correria dos preparativos da festa, comecei a sentir uma dor nas costas muito forte e pedi para o meu marido me levar ao hospital. Tomei uma injeção na coluna. Durante a consulta, o médico me perguntou se eu era gestante e eu disse que não. Mesmo assim, ele me encaminhou para fazer um beta [beta HCG, exame de sangue para confirmar gravidez], e eu fui, só para levar o resultado negativo para o médico do PS. Eu tinha certeza que não estava grávida.
Tive atendimento prioritário porque eu tenho pressão alta e estava num pico muito forte. Aí veio o choque. A enfermeira fez o exame de cardiotocografia [exame de avaliação de sinais vitais do feto], porque eu já estava com 5 centímetros de dilatação. Tive um sangramento. Demorou um pouco, mas eu consegui ouvir o coração do bebê batendo.
A gravidez do Miguel também não foi planejada, mas me lembrei que tive uma inflamação de garganta e talvez o uso dos antibióticos tivessem cortado o efeito do anticoncepcional. Mas dessa vez eu não tinha tomado nenhum remédio e não tinha feito nada que pudesse justificar.
Internada, fui orientada a tomar um banho relaxante na tentativa de aumentar a dilatação. Fique com vontade de defecar e ao fazer força, a cabeça do bebê apareceu. Meu marido ficou desesperado e começou a gritar, chamando as enfermeiras, e assim meu filho nasceu no banheiro do hospital, pela mão das enfermeiras. Até às 17h eu nem sabia que estava grávida e às 19h57, eu já tinha um filho, até então, sem nome.
Ele nasceu bem fraquinho, com anemia, imunidade baixa, arritmia. E, durante a gravidez, eu fiz tudo que eu não poderia ter feito em uma gravidez: saía sozinha, andava bastante, minha pressão estava nas alturas. Tanto que os médicos diziam que se eu quisesse voltar a ter filhos, teria de fazer um tratamento específico para controlar a pressão.
Para mim, aquele dia não foi bonito. Eu fiquei em choque, não queria amamentar, não queria vê-lo, chegar perto. Rejeitei no começo. Estava em um momento complicado, meu marido tinha perdido o emprego no mês anterior e estávamos morando de aluguel. Isso durou uns três dias, até cair a minha ficha.
Hoje em dia está tudo bem. Estamos tomando os cuidados necessários com os probleminhas de saúde com os quais ele nasceu. Mas falo sempre que o método contraceptivo mais seguro é não fazer sexo. Sou a favor da legalização do aborto no Brasil e acho que se eu soubesse antes da gravidez, eu teria pensado em tirar, sim. Só não sei se eu teria coragem.”
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