Dez encontros em uma hora: o que vi e aprendi em um Speed Dating
Tenho quatro minutos para conversar com o homem sentado na minha frente. Speed Dating funciona assim: as mulheres ficam sentadas e os pretendentes pulam de mesa em mesa, a cada quatro minutos, para ver se rola um “match”. É quase um Tinder da vida real, mas tem um investimento (as pessoas pagam cerca de R$ 90 para estar lá). E por isso, talvez, um pouco mais de compromisso.
O homem me diz que é psicólogo e está reclamando das pessoas que perguntam se ele as está analisando enquanto conversam. “Não tem nada a ver. Você é jornalista, certo? E isso não significa que está fazendo uma reportagem agora.”
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Na verdade, eu estou fazendo uma matéria. Mas não revelo isso nem a ele nem aos outros interlocutores do Speed Dating ao participar do evento na terça-feira passada, dia 21 de agosto. Por isso, apesar de todos usarmos crachás com nosso primeiro nome, não revelarei identidades de ninguém aqui.
Primeiras impressões
Chego no bar escolhido para o evento - um lugar que vende espetinhos na zona oeste de São Paulo -, espero em uma mesa e uma hora depois sou levada, com as outras mulheres participantes, até o espaço reservado para os "dates".
Na mesa que sento, há uma ficha para anotarmos os nomes dos pretendentes e ao lado marcar “sim”, “talvez” ou “não”, de acordo com meu interesse. Se a gente dá sim ou talvez em alguém que nos der uma das duas respostas também, recebemos um e-mail com o e-mail da pessoa até dois dias depois do evento. Com isso, os “matches” podem entrar em contato uns com os outros, como um Tinder com um pouquinho mais de intimidade.
Me parece divertido. Agora é só esperar sentada os homens chegarem.
Clima de paquera, só que não
Os homens entram um atrás do outro. Me faz lembrar quadros de namoro de programas de auditório. Mas não tem música romântica, em vez disso o que ouço é o hino do Santos: o espaço do Speed Dating foi dividido com um encontro da torcida santista, reunida a poucos metros dali para assistir ao jogo da noite.
Prestes a começar, recebemos papéis com nomes de pontos turísticos, e, os homens, com os das cidades equivalentes. Quando houvesse correspondência, era com aquela mulher que ele sentaria primeiro.
Estou ansiosa, mas não aparece nenhum “Rio de Janeiro" para o meu “Estádio do Maracanã". Com dois homens a menos que o número de garotas, eu fico sem par por duas rodadas.
Começa o revezamento: valendo!
Finalmente o primeiro pretendente aparece na minha frente. Um homem alto, na faixa dos 50 anos, com uma camisa salmão e calça jeans clara. Não me atrai, mas decido tentar, pelo menos, ter uma conversa divertida e saber quem ele é.
Ele me pergunta tanta coisa que não tenho brecha para confirmar se tem mesmo 50. “Idade e altura?”, ele diz, como numa entrevista. Respondo, ele anota. Emenda uma pergunta na outra, sempre anotando, como se estivesse preenchendo uma checklist. Me incomoda por mal levantar os olhos da ficha e não parecer se interessar pelo que eu falo. Só consigo saber que ele é grego e mora no Brasil desde 1995.
O sino toca e avisa que é hora de revezar. Ele se levanta, aperta minha mão e sai.
Próximo!
Passa um, passam dois, passam três. Ninguém me anima muito. Um está até com a mão trêmula, de tão nervoso. As mesmas perguntas sobre trabalho e hobbies. Começo a me questionar se o problema é o pouco tempo de conversa ou se são os pretendentes que não têm muita graça mesmo.
Diferentemente do grego que parecia ter uma lista de atributos importantes, para mim a atração é muito mais intuitiva. É postura, tom de voz, gestual. Ainda não rolou com nenhum. Mas tenho esperança de encontrar pelo menos um que me interesse.
Finalmente, gosto de um. Ou quase
Noto um homem grisalho de blazer azul na mesa ao lado. É o próximo a sentar na minha frente. Me animo. Será que agora vai?
De repente, o grego, aquele primeiro, volta até mim, grita meu nome e diz que precisa saber se tenho filhos. Começo a rir, respondo que não e pergunto por que isso importa. “Ah, vai que você aparece com quatro crianças." Isso é coisa que se fale para alguém que você está paquerando?
O grisalho senta na minha mesa. Abro um sorriso. Ele começa a falar sobre sua paixão por fotografia e o investimento que fez por anos em câmeras, flashes, tripés. Diz que agora usa smartphones para fazer fotos. Fala orgulhoso do seu hábito de viajar para fotografar. “E pra onde você foi da última vez?”, pergunto. “Para o Beto Carrero World.” Achei estranho ele falar tanto sobre fotografia e citar um parque de diversões como destino para praticar o hobby. Do jeito que falava, imaginei algum destino com cenários mais propícios. O papo do começo soa um pouco falso e me desanimo. Fuééén.
Perfil dos pretendentes
Nos cinco encontros seguintes, decido fazer perguntas para tentar ter um perfil dos homens. Todos já haviam participado do Speed Dating antes. A maioria está solteiro há poucos meses depois de namoros e casamentos longos. Sentem falta de companhia. Querem relacionamento sério. As mulheres com as quais converso, minhas colegas ali, também. “O bom é que aqui é um filtro, se o homem paga, é porque quer compromisso”, me diz uma loira de 32 anos sentada na mesa ao lado, que me convida para sairmos juntas um dia desses. A inscrição custou R$ 89,90 e só inclui a participação no evento. Drinques e espetos à parte.
Quando o último senta comigo para conversarmos, me sinto cansada. Percebo que, como nos primeiros encontros normais, no Speed Dating há tensão e constrangimento. A diferença é que, nos normais, com o tempo vou relaxando. Ali, não. Foram dez começos de primeiros encontros seguidos. Haja concentração...
Desse último eu gosto, parece interessado de verdade no que eu falava. Dou “sim” e torço para receber um e-mail dizendo que ele também gostou de mim.
Uma noite depois, recebo o e-mail com único "match", o grisalho que achei bonito. Logo vem um e-mail dele, uma mensagem bem simpática dizendo para eu escrever para ele no Whatsapp. Mas não me empolgo o suficiente para mandar mensagem. Sabe quando você curte alguém, mas nem tanto? Estou assim.
Outros dois "talvez" me escreveram. Um dizendo que não lembrava de mim e pedindo uma "pista". E outro falando que ia viajar e voltaria dia 5, pedindo para que eu não saísse com ninguém até lá. "Kkkkkk", finalizou o e-mail. Do lado de cá da tela, a certeza de que o Speed Dating não rendeu para mim.
E aí, funciona?
Ainda tenho dúvida sobre se dá para se interessar por alguém em quatro minutos. Acabei a experiência do Speed Dating com uma certeza: às vezes a gente faz o que estiver disponível para conhecer um possível par e não ficar sozinho. Mesmo que canse. E pode ser nem muito esforço resolva a questão.
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