Topo

Como Doralice, de Segundo Sol: ciúme excessivo é uma doença (mas tem cura!)

Ionan (Armando Babaioff) e Doralice (Roberta Rodrigues): o ciúme destrói o casamento  - Reprodução/ TV Globo
Ionan (Armando Babaioff) e Doralice (Roberta Rodrigues): o ciúme destrói o casamento Imagem: Reprodução/ TV Globo

Elisa Duarte

Colaboração para Universa

01/09/2018 04h00

Se durante muitos capítulos da novela Segundo Sol, Doralice, vivida pela atriz Roberta Rodrigues, atormentou o marido fiel, Ionan (Armando Babaioff), por sua suposta infidelidade, no capítulo de terca-feira (28), a esposa entendeu que o seu ciúme foge do seu controle e não valida o seu amor. “É uma doença”, disse uma Doralice chorosa e arrependida, arrancado a compaixão do marido, agora traidor.

“O ciúme excessivo é realmente uma doença, um transtorno afetivo grave, e gera sintomas e comportamentos que dificultam a construção de uma relação saudável. Existe desconfiança, ameaças, controles excessivos, manipulações. Isso sufoca, aprisiona, chantageia, causa medo e deixa ambos sempre em estado de alerta. Portanto, como ter uma história feliz assim?”, afirma Marina Simas, consultora de relacionamento do Match Group Latam.

Veja também

Se na trama, o sofrimento de Doralice é pincelado com algumas doses de humor, na vida real, eles convivem com uma dor atroz. “O ciumento sofre diariamente, não dorme direito, alguns chegam realmente a contratar detetive e colocar escuta no carro. Nada é tranquilo. Se o outro posta uma foto, abre um questionário sobre quem é a fulana que curtiu a foto, quando foi que o outro a conheceu, de onde é etc. Mesmo com os argumentos do parceiro e até com as provas de que ele é fiel, a pessoa vive na dúvida, está sempre desconfiada e não se satisfaz”, afirma Marina Vasconcellos, psicóloga, psicodramatista e terapeuta familiar pela PUC-SP e terapeuta de casal pela UNIFESP.

Na história do autor João Emanuel Carneiro, o resultado foi a expulsão do marido e consumação da traição com Maura (Nanda Costa), o principal objeto do ciúme de Doralice. 

“De tanto você desconfiar do outro, uma hora ele pode trair de verdade. O parceiro se sente nesse direito. Ele diz: “Sou fiel e ela não acredita, então eu vou trair mesmo”. Essa ação é chamada de profecia autorealizadora, ou seja, de tanto você acusar o outro, ele acaba mesmo fazendo, diz Vasconcellos.

Pode ter um final feliz

É claro que o desfecho de um relacionamento assim pode ter um final feliz. Por se tratar de uma doença, a pessoa não deve se sentir culpada pelas consequências dos seus atos. Segundo Marina Simas, uma alternativa é conversar sobre o assunto e buscar maneiras para fortalecer a relação, mostrar o quanto gosta, o quanto investe nessa parceria. Falar é uma forma de conseguir uma consciência que sai do emocional e chega no racional, fortalecendo o vínculo afetivo do casal. O intuito é tentar preencher o buraco afetivo existente.

É essencial que o parceiro entenda a dificuldade do outro e ajude a buscar um tratamento, que pode ser feito através de terapia para construir uma autoestima elevada e, em alguns casos, com o auxílio de medicação para controlar os impulsos. Porém, é importante não se anular em função do ciúme do outro. Se submeter prejudica ainda mais os dois lados.

Mas nem tudo é terror. “O ciúme normal, aquele que é ativado quando o outro olha com interesse para uma terceira pessoa, por exemplo, pode provocar uma aquecida no relacionamento. Se um dos dois sente alguma ameaça, ele tende a se cuidar mais, prestar mais atenção no outro”, afirma Marina Vasconcellos.

Outro tipo muito comum é o projetado. Aquela velha história de que o ciumento é aquele que apronta. Ou seja, a pessoa projeta no outro um sentimento que é dela. Como ela trai ou sente vontade de trair, ela imagina que o outro faça o mesmo.

Onde nasce o ciúme excessivo?

Segundo Marina Simas, as causas podem ser diversas, como baixa autoestima, insegurança por parte de uma das pessoas da relação, experiência através do modelo dos pais quando uma das partes vivenciou no ambiente familiar com um ciumento patológico. Esse comportamento também pode ser provocado por situações e experiências pessoais ou vivenciadas por amigos ou familiares. A falta de afeto e de segurança na infância também pode ser a causa do ciúme na vida adulta, gerando instabilidade e desgaste na relação a dois, refletindo em uma construção amorosa totalmente possessiva e dependente.
Outros fatores que podem desencadear isso são os sentimentos de abandono, rejeição e ainda pode estar associado a  ansiedade, depressão e trasntorno boderline, por exemplo.

Como identificar se você é uma Doralice

Uma das perguntas chaves que o ciumento tem que se fazer é: “Se eu não tivesse que me preocupar com o outro, com o que eu me preocuparia?”

˜A maioria fica sem respostas e se dão conta que suas vidas estão vazias. Começam a perceber o quanto estão frustrados e insatisfeitos. Olham pra si e não enxergam nada”, afirma Vasconcellos.

Outro modo de sacar se o seu ciúme está atrapalhando a relação, é o feedback. Se o outro está sempre reclamando do seu ciúme ou se vocês vivem brigando, é sinal de que algo está errado. Como ele fica cego em sua verdade e sempre acha que tem razão, em geral é o parceiro que acende o alerta.