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Dedo podre: o que há por trás da escolha recorrente por caras errados?

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Imagem: Thinkstock

Heloísa Noronha

Colaboração com Universa

05/09/2018 04h00

Encostados, imaturos, grosseiros, machistas, preconceituosos, infiéis, racistas, carentes... A lista de embustes com os quais você tem se relacionado nos últimos tempos é longa e variada? Enquanto suas amigas se divertem com caras legais, você parece só se envolver com homens errados? Não se trata de má sorte. A responsabilidade por essa situação --pode ser difícil de encarar-- é sua. A boa notícia é que se você, inconscientemente, atrai parceiros problemáticos, também tem o poder de romper esse padrão.

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O primeiro passo é tentar entender porque tantas mulheres --você não está sozinha nessa-- vivem esse problema. Para Lígia Baruch de Figueiredo, doutora em Psicologia Clínica pela PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) e coautora do livro "Tinderellas - O Amor na Era Digital" (Ema Livros), ele é fruto de uma herança cultural. "Por muitos séculos, a mulher buscou compromisso como forma de sobrevivência e segurança. Embora muitas, hoje em dia, fujam dos homens problemáticos, existem aquelas ansiosas para estar com alguém", afirma. 

A psicóloga e psicanalista Sylvia Loeb, de São Paulo (SP), concorda: "O medo de ficar sozinha tem um peso imenso, pois ainda é muito valorizada, na nossa cultura, a presença de um homem ao lado de uma mulher", explica. 

Outro ponto importante é o que Lígia chama de "romantismo tóxico": não são poucas as mulheres que cultivam a fantasia de querer "salvar" o homem. Elas acreditam piamente que o cara é ríspido ou infiel porque sofreu alguma espécie de "trauma" ou ainda não encontrou a mulher "certa" --papel que ela anseia em assumir para garantir alguma reciprocidade. Se ela o "resgata", ele vai amá-la para sempre e fazer de tudo para agradá-la. Infelizmente, não é bem assim que as coisas funcionam.

"A idealização é imensa. E o resultado, catastrófico, pois nenhum relacionamento se constrói à base de expectativas fantasiosas", fala Sylvia.

Comportamento aprendido na infância

Experiências ruins durante a primeira infância têm um peso. Segundo Sylvia, em geral, essas mulheres vêm de famílias disfuncionais, onde, muitas vezes, o pai é ausente ou apresenta histórico de violência. "Desde pequenas, elas estão habituadas a um tipo de relacionamento que submete e desrespeita a mulher. Quando adultas, tendem a repetir o padrão de submissão", pontua a psicanalista.

Na opinião da psicóloga Carla Cecarello, sexóloga consultora do site  C-Date e fundadora da ABS (Associação Brasileira de Sexualidade), geralmente, as escolhas amorosas femininas seguem os modelos de homem e de relação que elas têm introjetados dentro de si. "Nós buscamos, na fase adulta, homens com características parecidas aos do nosso pai. E na forma de se comportar em uma relação o espelho costuma ser a mãe", diz.

E por que as mulheres que sofrem do "dedo podre" dificilmente se interessam por caras legais? "Os caras bacanas não lhes parecem interessantes por não trazerem o desafio da conquista e do risco", diz Lígia.

Ansiedade: a grande vilã

De acordo com especialistas, a ansiedade de fazer a relação dar certo é um fator determinante para as escolhas ruins. Segundo o psicólogo e educador sexual Breno Rosostolato, de São Paulo (SP), o imediatismo faz com que não sejamos cuidadosas. "Daí, as escolhas são feitas pautadas no que a mulher espera do outro. Logo, a frustração é certa, porque o outro não vai e nem tem que corresponder ao que se espera dele", declara.

Toda relação tem seu curso natural. "Então, se a mulher acha que não consegue ficar sozinha e que esse relacionamento é a salvação dela, vai fazer de tudo e usar milhões de artifícios para poder manter a relação", diz Carla. O resultado surge na forma de uma autoestima cada vez mais baixa por conta de concessões e sacrifícios.

Como romper esse padrão?

Antes de vivenciar um grande amor, devemos fortalecer o amor em nós mesmos, segundo Breno. "Investir na autoestima ajuda na hora de avaliar o que é melhor para você e evita relações efêmeras ou de pagar qualquer preço por um relacionamento", fala. Outro aspecto essencial, para o psicólogo, é descobrir e entender o que se quer ou não numa relação. 

Domar a ansiedade é imprescindível. Dê tempo ao tempo e procure conhecer bem a pessoa antes de se lançar de cabeça na relação. Avalie se ela tem hábitos que já a fizeram sofrer em relacionamentos anteriores, se defeitos são suportáveis e se as qualidades batem com aquilo que você deseja numa convivência a dois. "Tenha mais racionalidade nessa busca amorosa e não esqueça de questionar padrões românticos ultrapassados. Busque o simples, em vez do complicado", aconselha Lígia. 

Na opinião de Sylvia, é bom tomar a responsabilidade para si: "Tenha em mente que você não deve colocar sua vida e sua felicidade na mão de ninguém, que você pode fazer escolhas, que tem valor e, principalmente, que amor é para ser curtido, não sofrido. Toda mulher merece um companheiro que a ame e a admire", destaca.