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Estudante lança app para combater fake news e chama a atenção de Malala

A estudante Jessica Hollander, de 20 anos - Arquivo pessoal
A estudante Jessica Hollander, de 20 anos Imagem: Arquivo pessoal

Daniela Pessoa

Colaboração para Universa

11/09/2018 04h00

Ao longo da história, a humanidade foi dizimada por epidemias tão devastadoras quanto guerras. Nos anos 2000, uma nova peste, dessa vez formada por bits e bytes, se alastra tal como as bactérias e os vírus mais mortais. Praga digital, as chamadas fake news são capazes de gerar conflitos sangrentos e mudar o destino de pessoas e nações na vida real. Em ano de eleições no Brasil, a universitária Jessica Hollander, de 20 anos, que cursa Comunicação Social na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), se uniu a três estudantes para combater os boatos e a desinformação no país com o lançamento do aplicativo de celular Fake Off, cujo download é grátis na Apple Store.

Jessica e os integrantes do grupo que fez o aplicativo - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Jessica e os integrantes do grupo que fez o aplicativo
Imagem: Arquivo pessoal

Segundo o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos, que divulgou em março deste ano a maior pesquisa já feita sobre o tema, as notícias falsas se propagam 70% mais rápido do que as verdadeiras na web. A disseminação é três vezes mais veloz quando a postagem fake é ligada à política, especificamente. Daí a urgência de agir. “Nosso objetivo é educar o cidadão, fazê-lo refletir sobre o que lê e estimular o senso crítico”, afirma Jessica. 

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Única menina no grupo de jovens desenvolvedores do app Fake Off, que foi lançado há pouco mais de uma semana, a estudante e seus colegas integram um dos Programas de Inovação Tecnológica do Departamento de Informática do Centro Técnico Científico da PUC-Rio. Os estudantes Theo Mendes, Giovanni Severo e Rodrigo Malhães, dos cursos Design de Mídia Digital, Ciência da Computação e Engenharia Química, completam o time. 

Detetives virtuais

Fake Off é um trocadilho de “fake news” com a expressão “fuck off”, também em inglês, que pode ser traduzida, entre outras coisas, como “cai fora”. Trata-se de uma plataforma comunitária e colaborativa onde os usuários compartilham as notícias e a própria comunidade verifica a autenticidade de cada link. “Preparamos um questionário com critérios que ajudam o internauta a identificar o que é verdade e o que é mentira. O app pergunta, por exemplo, se o texto foi publicado em um veículo de comunicação conhecido ou não, se a data da publicação é atual, se há indicação do autor e de fontes etc”, explica Jessica.

Com base em algoritmos codificados pelo quarteto universitário, as reportagens são classificadas como verdadeiras, falsas e/ou tendenciosas. Em seguida, são enviadas para o banco de dados do app. Ainda como instrumento de combate à propagação da boataria, cada usuário do aplicativo terá, em breve, o seu perfil pontuado de acordo com o desempenho na apuração da veracidade das notícias. Quanto maior a pontuação, maior a credibilidade. Se alguém propagar mentiras ou avaliar um texto falso como verdadeiro, pontos serão subtraídos.

O reconhecimento da ativista Malala

A brasileira em encontro com Malala - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Jessica em encontro com Malala: "apresentei nosso projeto e ela ficou super interessada"
Imagem: Arquivo pessoal

Foram sete meses de desenvolvimento até a jovem equipe chegar ao produto final, que chamou a atenção de ninguém menos do que a paquistanesa Malala Yousafzai, vencedora do Prêmio Nobel da Paz e conhecida por sua luta em prol do empoderamento das mulheres e do acesso delas à educação. Em recente visita ao Brasil, neste ano, a ativista anunciou a parceria de sua ONG, a Malala Fund, com a gigante Apple para o desenvolvimento de aplicativos que melhorem a educação de meninas no Brasil. Na mesma ocasião, Malala visitou a PUC-Rio e Jessica teve a oportunidade de apresentar a ela o Fake Off. 

“Malala é um ídolo para mim. Na noite anterior, tive um ataque de ansiedade, achava que não ia dar conta. Minha mãe me ajudou a treinar até mesmo a intensidade do aperto de mão, para eu passar firmeza. Na hora, deu tudo certo. Ela é incrível, tem uma energia de outro mundo”, conta Jessica, que não conteve as lágrimas ao falar da paquistanesa. “Essa é uma história que vou contar aos meus netos. Conheci a Malala, apresentei o nosso projeto e ela ficou super interessada”, comemora. 

Empolgada, a estudante já está desenvolvendo um novo aplicativo, dessa vez sobre educação sexual para mulheres, com uma visão feminina do tema. Isso porque, segundo Jessica, o público-alvo dos livros, apostilas e panfletos acerca do assunto sempre foram os homens. “Ninguém ensina, por exemplo, que é normal e saudável uma mulher se masturbar”, destaca. O trabalho, dessa vez, é uma parceria com a também universitária Carla Cosenza, do Instituto Militar de Engenharia (IME).

Avó fugiu da Alemanha nazista e pai engraxou sapato

Jessica herdou da família o DNA empreendedor. A avó materna, Hannelore, fugiu da Alemanha nazista ainda criança, com os pais. Foram parar em um campo de refugiados na China, onde, mais tarde, conseguiram montar uma loja de salsichas. De Xangai, cruzaram o oceano até São Francisco e depois Chicago, nos Estados Unidos, em busca de oportunidades. Hannelore, a única que falava inglês, juntou dinheiro trabalhando como babysitter e conquistou um sonho distante para as mulheres da época: fez faculdade de Business. “Quando chegou ao Brasil, vovó teve um choque muito grande. Dizia que as mulheres daqui eram dondocas e só queriam saber de ficar no salão. Enquanto isso, ela ajudava o marido a abrir uma drogaria", conta a neta.

O pai de Jessica também suou a camisa desde cedo. Começou a ganhar dinheiro ajudando moças e senhoras a carregar sacolas de compras na rua. Depois, engraxou sapatos, foi vendedor de carro e trabalhou em chão de fábrica até se tornar diretor de um banco. “Em casa, sempre aprendi que eu podia mais. Vem daí o meu desejo de fazer a diferença no mundo”, afirma a jovem, que, além de promover a educação através de aplicativos de celular, já foi voluntária em organizações como a Anistia Internacional e o Greenpeace. E esse é só o começo.