Ela passou fome e frio, mas se tornou empresária de sucesso antes dos 30
Quem conhece minimamente a região do semiárido nordestino, sabe que, ali, os problemas de pobreza são agravados também pela seca. Foi nesse lugar, mais precisamente em Conceição de Coité, na Bahia, que nasceu Patrícia Pimentell. Cansada da situação precária em que vivia sua família, ela decidiu ir para São Paulo sozinha, aos 16 anos. Foram muitas batalhas até conseguir se formar na faculdade e conquistar seu espaço como empresária, consultora e palestrante.
Até os seis anos, Patrícia morava em Salgadália, distrito de Conceição de Coité, a cerca de 210 km de Salvador. Era uma área de roça afastada do centro da cidade. Junto com ela moravam avô, avó, pai, mãe e irmãos. A necessidade os levou a se mudar para um local mais próximo de Conceição de Coité, onde passaram a residir numa antiga casa abandonada. O imóvel não tinha a mínima estrutura de uma residência, já que era uma antiga fábrica de farinha. No terreno, eles plantavam milho, feijão e mandioca e vendiam na feira toda semana. “Na época de colheita, vivíamos um momento bom, comíamos bem, mas quando estava na entressafra ou num momento de seca, chegávamos a passar fome. Tínhamos que comer mamão verde cozido”, relembra.
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Diante de uma situação tão instável, aos 12 anos, Patrícia decidiu ir trabalhar numa rádio pirata. “Sempre gostei muito de comunicação, queira ser jornalista”, ressalta. Já aos 14 anos, ela conseguiu trabalho numa rádio regular como locutora e vendedora de pacotes comerciais. Foi nessa época que ela e a irmã decidiram sair da casa onde moravam com os pais e dividir um pequeno espaço no centro urbano de Conceição de Coité. Muito sonhadora e dedicada, Patrícia queria estudar, aprender coisas novas e fazer faculdade.
Aos 16 anos, cansada das condições em que vivia e da falta de oportunidade, decidiu ir para São Paulo, onde a irmã mais velha já morava com um tio. “Conceição de Coité era muito pequena para o tamanho dos meus sonhos. Percebia que as pessoas que tinham dado certo na vida tinham estudado e eu queria ser uma delas. Então fui para São Paulo em busca de dar mais qualidade de vida para os meus pais”, explica.
As dificuldades da cidade grande
Depois de morar um mês com o tio, Patrícia alugou, com a irmã, uma casa de apenas um cômodo e um banheiro no bairro de Pirituba. “Era uma casa tão simples que nosso braço ficava branco de cal todas as vezes que encostávamos na parede”, conta. Nesta época, ela chegou a fazer o segundo e o terceiro ano do ensino médio na capital paulista e começou a trabalhar no Banco Ibi, que pertencia a C&A, hoje ao Bradesco. Com salário de apenas R$ 386, seu trabalho como promotora de vendas exigia que ela abordasse clientes no calçadão de Osasco. A irmã também ganhava muito pouco por mês, algo em torno de R$ 150, em um restaurante.
“Recebíamos tão pouco que, para comprarmos um fogão, tivemos que dividir em 24 vezes”, diz Patrícia e complementa: “Foi um período muito difícil, cheguei a passar fome e muitas outras dificuldades, como lotações sempre cheias, preconceito por conta do meu sotaque e minha simplicidade e até mesmo frio, porque não tinha dinheiro para comprar roupas que me aquecessem de verdade em invernos mais rigorosos”.
Seu esforço e dedicação fizeram-na passar de promotora de vendas a caixa e depois a supervisora. Tudo isso até os 22 anos, quando se formou em administração de empresas. Embora fosse apaixonada por jornalismo, os cursos para essa formação eram muito caros. Como já trabalhava no setor administrativo, acabou optando por um curso nessa área.
Uma visita que mudou sua história
Quando terminou a faculdade, em 2010, Patrícia ainda trabalhava no banco. Foi quando ela recebeu a visita de um headhunter (caçador de talentos) que fez um convite para ela gerenciar 15 lojas da Riachuelo na área financeira dedicada ao crediário. Ela passou cerca de dois anos no trabalho, sempre ganhando muitos prêmios por bater metas.
Aos 24 anos, ela decidiu se demitir e abrir a própria franquia de uma marca de cosméticos chamada Up Essência. A primeira loja, na Barra Funda, deu tão certo que logo ela abriu outra em um shopping no bairro de Santo Amaro e depois uma nova unidade na cidade de Recife (PE). Ela prefere não detalhar os números, mas diz que já chegou a faturar R$ 1 milhão por mês nessa época. O investimento para abrir o negócio veio da venda do próprio carro, mais o dinheiro da rescisão da Riachuelo e economias, algo em torno de R$ 100 mil.
Em 2015, ela decidiu se desfazer das lojas e dar um novo rumo a sua vida, comprando uma nova franquia na área de coaching, embora ainda prestasse serviço como líder de rede fazendo treinamento na Up Essência. Inquieta, já no início de 2016, Patrícia começou a desenhar um novo negócio. Passou um ano e meio planejando até abrir a AGR Now, empresa de turismo de vendas diretas em multinível.
A inspiração veio da maior rede mundial do setor, que já opera em vários países. Ela funciona da seguinte forma: um associado que já fez uso de um dos serviços oferecidos pela agência indica o serviço para outra pessoa e passa a ganhar uma comissão em cima dessa venda. A companhia começou a funcionar a todo vapor em julho de 2017. Patrícia não abre o faturamento, mas diz que possui uma base de clientes de 25 mil cadastrados, dos quais três mil desenvolvem o negócio para valer.
Coach de empresários, diretores e executivos, Patrícia, hoje com 30 anos, ainda divide seu tempo dando palestras sobre liderança, vendas, motivação, espiritualidade e gerenciamento de tempo, além da vice-presidência da AGR Now. Mesmo com tempo escasso, ela encontrou uma maneira de contar sua rica trajetória no livro" Do Sertão para o Mundo". “A realidade que vivi não é diferente da de milhões de brasileiros. Escrevi minha história para inspirar as pessoas a lutarem pelos seus sonhos, a vencerem na vida. Precisava devolver ao universo tudo o que recebi de Deus. A fé e o sonho são as coisas que me movem”.
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