Empresárias de nicho ganham dinheiro com algo que você não imaginou vender
Investir em nichos de mercado significa concentrar estratégias em um único segmento, o que, apesar de reduzir o número potencial de clientes, ajuda a empresa a se destacar e tornar-se referência –desde que faça bem o seu trabalho, é claro. Conheça algumas empresárias e seus respectivos negócios, que têm prosperado com essa estratégia.
Veja também
- Juliana Algañaraz, diretora da Endemol Shine Brasil, é a responsável pelo "BBB", "MasterChef" e "Dancing Brasil"
- "Diferença salarial não é mimimi", diz especialista em mercado de trabalho
- Papel da mulher no mundo do trabalho ganha cada vez mais buscas no Google
Imitação de carne
São quase 30 milhões de brasileiros que se declaram vegetarianos, segundo levantamento do Ibope de 2018, encomendado pela Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB). O número é 75% maior do que seis anos atrás. Entre os entrevistados, 55% declarou o interesse por consumir mais produtos veganos, livres de ingredientes de origem animal. É para esse público que Marcella Izzo, 27, olhou ao decidir abrir um açougue vegano na cidade São Paulo, em 2016.
“Faz quatro anos que sou vegana e percebia que as opções de pratos que existiam eram basicamente feitos de soja, o que me levou a criar algumas coisas em casa”, conta. Dessa experiência, somada a um investimento de R$ 60 mil, nasceu a primeira loja da No Bones em uma garagem. O carro-chefe do negócio são as fake meats, as “imitações” de carne, como a picanha vegetal, uma das mais vendidas, produzida com queijo vegetal tipo parmesão (que faz as vezes de capa de gordura), arroz vermelho, beterraba e temperos especiais, como fumaça em pó, para ter gosto e aroma de defumados.
"Imitamos o visual da carne para ter apelo visual e tem funcionado, pois 60% do nosso público ainda consome carne, mas busca substitutos para o dia a dia e para confraternizações. Quando a pessoa olha para a picanha, já sabe que ela vai bem em um churrasco", conta. Um ano e meio após a abertura da primeira loja, ela abriu mais duas: em Niterói (RJ) e em Atibaia (SP). Também passaram a distribuir as fake meats por meio de parceiros. Até o fim de 2018, ela quer estar em 12 estados brasileiros.
Papel com semente
A empresária Andrea Carvalho, 50, morava em Atibaia (SP) e era dona de uma pizzaria delivery quando começou a trabalhar como voluntária em uma instituição que produzia papel reciclado artesanal com a comunidade local, que vivia em torno de um lixão. Ao mudar de estado e voltar para sua cidade natal, Niterói (RJ), essa vivência pesou ao decidir empreender.
“O meu marido e sócio viu uma ação publicitária na Inglaterra que utilizava papel semente, algo que não se produzia no Brasil. Era um prato cheio para empreendedores”, fala. Com R$ 200 mil de investimento inicial eles montaram, em 2009, a estrutura de produção da Papel Semente. O produto é feito a partir de restos de aparas de papel de gráficas e de papéis jogados fora por empresas e residências. Quem coleta o material é uma cooperativa de catadores de itens recicláveis, que faz parte da ONG Guardiões do Mar. A semente, o diferencial do produto, é adicionada na etapa final da produção, antes de o papel ser colocado para secar.
“Temos um produto que tem vida. É o papel que, após ser lido ou usado, não vai ocupar um lugar nos aterros e lixões, mas ser plantado e dele brotará uma flor ou até uma salada”, fala.
As sementes usadas são variadas: rúcula, agrião, cenoura, pimenta e margaridas, entre outras. “Atualmente, atendemos desde a mulher que quer fazer suas lembranças de maternidade, a noiva que vai casar, até as grandes empresas do mercado”, explica Andrea.
São os crachás para eventos e folders para a comunicação das grandes empresas, que querem alinhar sua marca à questão socioambiental, porém, que fazem a roda girar, diz ela. A produção atual está em 600 folhas gráficas por dia, o triplo da inicial. E o faturamento anual estimado para 2018 é de R$ 1,2 milhão. “Ainda em 2018, vamos iniciar nossa expansão internacional com um e-commerce na França, para atender a Europa”, fala a empresária.
Maçãs carameladas
Foi durante uma viagem à Califórnia, em 2011, que Mariane Noda conheceu a caramel apple, ou maçã caramelada, uma sobremesa típica do Halloween. Parece uma maçã do amor, mas a empresária e confeiteira garante que a semelhança acaba na fruta espetada no palito. “A receita é completamente diferente. Só usamos maçã verde e o caramelo é bem macio, feito com diversos ingredientes importados, diferente da maçã do amor que leva açúcar e corante”, explica.
Na época, ela era dona de casa e resolveu testar receitas para reproduzir o doce. No ano seguinte, começou uma produção caseira, vendida por encomenda. Em 2017, ela e o marido, decidiram abrir uma loja física em São Paulo, a Caramapple. No cardápio estão mais de 15 sabores de maçãs carameladas, que podem levar coberturas como biscoitos, confeitos, marshmallow, castanhas e chocolate belga.
“A maioria compra para presentear ou para consumo próprio. Também oferecemos um tamanho menor de maçãs para festas e eventos”, fala. Eleger um produto como carro-chefe do negócio tem vantagens e desvantagens, diz Mariane.
“Desde o início, trabalhar com as maçãs é um desafio, por não ser uma sobremesa amplamente conhecida no Brasil. Entretanto, justamente por ser algo específico, nós fidelizamos uma clientela, que sabe que só vai encontrar aqui o produto”, fala.
Desde 2012, quando iniciou a produção, ainda de forma caseira, o faturamento tem crescido. “Vendíamos cerca de 80 maçãs por mês. Posteriormente, já em uma cozinha exclusiva, aumentamos a produção para 400 maçãs. Atualmente, temos uma produção de mais de mil maçãs por mês”, fala.
Ração vegetal
Em 2013, a família de Thais Lage, 35, e do marido e sócio, Victor, aumentou. O vira-lata Frodo foi adotado para fazer companhia a Rufus, da raça Pug. O casal que, dois anos antes, tinha se tornado vegetariano, passou, então, a buscar opções de ração 100% vegetal também para os pets. Com dificuldade, encontraram um fornecedor no interior de São Paulo e compraram de uma vez 240 kg do alimento.
“Imaginamos que outras pessoas podiam estar passando pela mesma situação que nós, de procurar e não encontrar rações sem carne. Criamos um site simples para revender desse fornecedor. Se não houvesse procura, teríamos garantido um ano de ração para o Rufus e o Frodo”, conta Thais. Mas teve. No final daquele ano, 2014, eles já recebiam uma média de 20 a 30 pedidos por mês.
“Como estávamos fazendo um teste, armazenávamos tudo em casa mesmo. Ao entrar algum pedido, fazíamos a embalagem e íamos pessoalmente ao Correios levar as caixas”, conta. No ano seguinte, decidiram investir em um e-commerce de produtos 100% vegetais, cruelty free (não testados em animais) e biodegradáveis para pets, nascia a VegPet, que comercializa produtos de alimentação, higiene, comportamento e cuidados. Com o crescimento da empresa, em 2018, eles lançaram uma marca própria de ração vegetal para cães e gatos, a Bicho Green, e de distribuidores passaram a ser fabricantes.
A ração, em versões para cachorros e gatos, não possui corantes ou antioxidantes artificiais em sua fórmula e é feita totalmente com proteína vegetal. “Somente na semana de lançamento registramos quase duas toneladas em pedidos”, conta. A Bicho Green já representa 50% do faturamento da VegPet e a expectativa é fechar este ano com faturamento 40% maior do que o do ano passado, que foi de R$ 1,2 milhão.
Joias afetivas
Soraia Nakano, 37, fez carreira no mercado financeiro e após 17 anos no mundo corporativo decidiu resgatar um gosto antigo: desenhar e vender joias. O impulso foi o nascimento da filha Clarice, na época com dois anos. “Na adolescência, antes de entrar para o mercado de trabalho formal, me aventurei vendendo semijoias e joias. Não eram desenhadas por mim, mas vendia bem”, fala.
Ela abriu a Inffinità By Soraia Nakano, em 2016, após investir em cursos de capacitação, nas áreas de joalheria e de empreendedorismo. Envolvida pela maternidade, criou um nicho: joias afetivas. “Tive a ideia de materializar, em um pingente, o carimbinho dos pezinhos, aquele que é feito na maternidade, logo após o nascimento da criança. Esse colar, até hoje, é o mais vendido”, fala.
O portfólio cresceu, vieram pulseiras, anéis e brincos, todos personalizados. E as joias que eram pensadas para as mães se tornaram também presentes para pais, avós, tios e padrinhos. “O cliente escolhe o tipo de joia e como deseja personalizá-la: pezinhos do bebê, mãozinhas ou desenho da criança, por exemplo. Nossa oficina reproduz com total exatidão a arte aprovada em ouro branco, ouro 18k ou prata”, fala Soraia.
A equipe, que era de três pessoas, hoje é de 12 pessoas. O crescimento anual é de 70%. “A joalheria é uma área extremamente concorrida e com marcas já consolidadas. Entrar em um mercado assim exige diferencial. O nosso é ser uma marca focada na família”, fala.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.