"Postura de piranha": porque a frase em A Fazenda ofende tanto as mulheres
'A Fazenda', da Record, mal começou e já está rendendo assunto. Além dos desentendimentos entre os participantes, que ainda estão se adaptando às regras do jogo, o público também está atento ao que dizem os artistas confinados.
Em uma conversa na primeira festa, na madrugada de sábado (22), entre o fisiculturista Leo Stronda e a ex-paquita Catia Paganote, uma declaração do rapaz chamou a atenção. Ambos estavam falando de outra confinada: Gabi Prado, modelo que ficou conhecida após participar de duas temporadas do reality de relacionamento 'De Férias com o Ex', da MTV.
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Leo disse à Catia que “a Gabi não é flor pra se cheirar” e foi além. Revelou também que considera que a moça tem “postura de piranha” e, por isso, jamais ficaria com ela. Catia ponderou respondendo que não a conhecia direito, já que tiveram pouco tempo de convivência. Mas o público não perdoou: afinal, o que significa ter uma “postura de piranha”?
Raízes sociais
“O julgamento do participante é pessoal, mas se baseia em um conceito machista que está pré-estabelecido na sociedade”, aponta Ellen Moraes Senra, psicóloga e especialista em terapia cognitivo-comportamental. De acordo com a profissional, a fala está atrelada à repressão social que ainda existe por trás do papel feminino. O que o fisiculturista quis dizer é que, no seu ponto de vista, uma mulher deveria agir de maneira diferente para que fosse digna da sua atenção. “Historicamente, a mulher deveria ser recatada, falar baixo, se reportar ao homem e ser comandada segundo as regras do marido. Por isso, quando alguém do sexo feminino toma as rédeas da própria vida e age segundo as suas vontades, seja na vida sexual, seja no comportamento ou na maneira de se vestir, ainda é marginalizada”, complementa.
E se fosse o contrário?
Ellen ainda nos convida para uma reflexão: na fala de Leo Stronda, fica evidente que a “postura de piranha” é de cunho negativo e está relacionada à ideia de vulgaridade. “No entanto, se um homem apresentasse um comportamento semelhante, é possível que não fosse criticado”, pontua. Pelo contrário: o mais provável é que fosse enaltecido como “pegador” ou “garanhão”. Isso porque, apesar da luta das mulheres, a liberdade com o corpo ainda é muito maior para eles do que para elas. “Rapazes podem andar sem camisa tranquilamente. Já as moças, ao usarem roupas mais curtas, sofrem com o julgamento dos demais, como se estivesse desvalorizando o próprio corpo”, exemplifica.
O peso das palavras
A psicóloga ressalta os perigos de disseminar esse tipo de fala em um veículo de comunicação de grande alcance como a televisão. “Por serem figuras públicas, os artistas acabam sendo agentes formadores de opinião, o que dá margem para terceiros pensarem da mesma maneira”, esclarece. Ou seja: classificar determinados comportamentos femininos como sendo “de piranha” é uma maneira de perpetuar o preconceito contra as mulheres através da vigilância sobre os seus corpos.
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