Articuladora do movimento no RJ: "Hoje será um dia histórico"
A diretora e roteirista Antonia Pellegrino lançou o desafio #unidascontraobolsonaro na internet e é uma das organizadoras da manifestação que acontece no bairro carioca da Cinelândia hoje. Ela conversou com a Universa sobre a expectativa do movimento:
Como está a expectativa para a Marcha?
Estamos esperando 100 mil pessoas no Rio de Janeiro, espero que vá mais ainda. O que é importante enfatizar é que existe um grande movimento da sociedade que está sendo liderado pelas mulheres, mas que é um movimento da sociedade. São mulheres que tomaram consciência de seu papel de eleitoras e que de fato podem, quando se unem, fazer escolhas determinantes em eleições, como já aconteceu em 2016 com o candidato Pedro Paulo na prefeitura do Rio de Janeiro. Agora isso está acontecendo de novo em escala nacional. As mulheres liderando esse processo, mas boa parte da sociedade não concorda com as ideias que ele tem, e também está se manifestando.
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Quais as principais ideias do Bolsonaro que você destaca que a sociedade não concorda?
“Lugar de mulher é em casa”; “ter filha é uma desgraça”; “se eu não vencer a eleição é golpe”, e há outras. Bolsonaro é um bobo numa guerra cultural. Isso não é suficiente como projeto de país. É isso que a sociedade está questionando. Não é exatamente se ele é machista, se é misógino. A sociedade brasileira é machista, no entanto o que está se apresentando é uma ausência completa de ideias sobre um projeto de país e por isso que a gente está indo para a rua falar.
Você acha que será um dia histórico?
Acredito que sim. Esse ano faz exatamente 50 anos que as mulheres foram para a rua liderando a Marcha dos 100 mil. 50 anos depois, a gente volta às ruas de uma forma completamente diferente, num contexto que dialoga com de 50 anos atrás, mas tem suas especificidades, e com a consciência de que a gente de pode virar essa eleição e impedir o avanço do atraso no Brasil.
Você acha que as mulheres estão mais politizadas ou com medo?
Acho que é uma longa história. Primeiro a grande expressão o grande movimento sufragista, em que as mulheres conquistaram cidadania. Depois, vem outra onda no século XX quando você tem um ganho gigantesco de consciência com Simone de Beauvoir e tal. E depois no Brasil, o feminismo acontece de maneira muito forte na ditadura. E quando o país se abre para a democratização, as mulheres têm um papel muito importante no lobby do batom, e de lá para cá se tornaram especialistas em fazer política fora da política.
Como é isso?
É fazer política através de instituições, organizações. Não necessariamente ligada a partidos, mas dentro do poder, dentro do Congresso. Como é que a gente conquista, por exemplo, o direito ao aborto no caso de feto anencéfalo? Através de uma ação que foi provocada por uma organização. Isso é uma forma extra-política de fazer política. Uma organização provocando o Judiciário, e não indo no Congresso, não uma congressista levantando esse projeto.
E como os homens se envolveram nessa causa?
Esse ano, por esse grande acontecimento de haver um retrocesso tão grande, que é o que Bolsonaro representa, essa conscientização do poder do eleitorado feminino se manifestou muito forte. Tem uma narrativa que tem a ver com movimentos feministas, o que está aí é maior que os movimentos feministas, porque há mulheres e homens não-machistas, ou aliados, é um movimento maior que o feminista, mas está em fricção com o que os movimentos feministas vem entregando ao país desde a primavera das mulheres. Essa caminhada no sentido da política como eleitorada, como disputa de poder está acontecendo.
Qual o principal motivo que leva as mulheres às ruas hoje?
O que está acontecendo hoje só vai ser grande porque mobiliza mais que a disputa pela isonomia salarial. Não se trata disso, se trata de uma disputa por um projeto de país, é isso que as mulheres estão indo na rua fazer hoje. E nesse projeto de país que as mulheres são contra, está expresso, como já foi dito várias vezes, que as mulheres são cidadãs de segunda classe.
O movimento de hoje é uma grande demonstração de que as mulheres não aceitam o projeto de país do Bolsonaro, que libera a arma, que não tem projeto de educação, que mantém desigualdade, que acredita que propõe um Estado mínimo, neoliberal. É contra isso que a gente está indo para a rua.
Acredita que será um movimento de paz?
O ódio é do campo dele. Não é da nossa política. O ódio é do campo da política que a gente quer derrotar, e não faremos isso com mais ódio. A gente quer derrotar com mais democracia, sororidade, com mulheres unidas nas ruas, com unidade, com mães, idosas, deficientes, com arte e cultura. A marcha é sobre isso, não é um movimento de ódio.
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