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"Mãe de viado": mulher vai a protesto com filho gay e é comparada a Satanás

Talita Menezes é mãe de Rafael, de 15 anos - Arquivo Pessoal
Talita Menezes é mãe de Rafael, de 15 anos Imagem: Arquivo Pessoal

Talyta Vespa

Da Universa

03/10/2018 04h00

A mãe Talita Menezes, de 45 anos, só escreveu “Mãe de viado” na testa, no ato contra o candidato Jair Bolsonaro, pensando em proteger o filho. Os protestos aconteceram em 140 cidades no Brasil e no mundo no último sábado (26). Rafael, de 15, decidiu que pintaria a palavra “viado” no rosto para pedir respeito no ato do Rio de Janeiro.

“Ele queria se manifestar e eu, como mãe, fiquei preocupada. Pedi que não fizesse aquilo, fiquei com medo de que ele fosse agredido. Ele insistiu, disse que era liberdade de expressão. Então, pensei: ‘Não vou deixá-lo sozinho’. Pedi que a amiga que estava conosco escrevesse “Mãe de viado” na minha testa. Pronto, agora ninguém mexe com meu filho”, diz Talita, que é advogada e professora de Direito.

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Talita e Rafael ficaram grudados durante toda a manifestação. “Se alguém tentasse fazer qualquer coisa contra o 'viado', teria que fazer comigo também”. O que a advogada não esperava era a repercussão da iniciativa. “Fomos fotografados durante a passeata e, no dia seguinte, amigos e familiares avisaram que estávamos sendo hostilizados nas redes sociais. Então, meu marido decidiu postar a foto e fazer uma declaração de apoio”.

A imagem foi compartilhada 31 mil vezes. A repercussão positiva não anulou as centenas de comentários contrários à família. “As mensagens mais agressivas compararam a gente a Satanás, nos chamaram de "mãe e filho lixos", "mãe e filho idiotas"... Parei de ler quando disseram que somos uma "escória". Fico com medo de acontecer algo ruim conosco na rua, mas acho muito importante, como mãe, mostrar que é possível acolher e proteger um filho independente da opção sexual dele”.

"Se a sociedade já vai puni-lo, eu, como mãe, tenho obrigação de acolhê-lo"

Rafael contou à mãe que é gay aos 10 anos. “Ele chorava, estava desesperado”, relembra Talita, que tentou confortar o filho. “Eu perguntei o porquê de ele estar chorando. Então, ele parou e me encarou. Continuei: ‘eu acho que com 10 anos, você é só criança, e, não, gay, hetero ou bi. Acho que é cedo para se preocupar com isso. Relaxe, seja livre, experimente e não faça disso um problema’. Só queria que ele parasse de sofrer”, conta. “A sexualidade do Rafael nunca foi uma questão para mim, nem para o pai dele. Nosso único medo é que ele sofra. Mas, se a sociedade já vai puni-lo, eu, como mãe, tenho obrigação de acolhê-lo”.

No sábado, Talita foi abraçada por centenas de jovens. “Recebi carinho e mensagens de adolescentes pedindo para que eu os adotasse, dizendo que queriam uma mãe como eu. Fico triste que outros pais não apoiem os filhos dessa forma. Seu filho é viado? Aceite. Fim de papo!”.

Segundo a advogada, o preconceito já existiu entre a família e os amigos, mas ela conseguiu reverter a situação. "Diziam que eu o incentivava. Não existe isso de incentivar alguém a ser gay: ou é gay ou não é. Hoje, minha família aceita o Rafael muito bem e, como eu, teme que ele sofra”. "As mães têm que se impor. Se algum idiota disser na rua: 'Seu filho é viadinho', você responde: 'Viadinho, sim. É viado, é bicha, chame como quiser. Em que isso afeta a sua vida?". 

Rafael é artista e sonha em ser ator da Broadway. “Ele canta e dança maravilhosamente bem; conseguiu uma bolsa em uma escola de ballet, faz teatro desde sempre. Ele sonha com isso. Fala inglês, estuda muito porque sabe que ter boas notas é essencial para conseguir estudar fora. NO mês passado, gabaritou em Química! Meu filho é uma criatura doce e rica. Não tem uma pessoa que conheça ele e não se apaixone. Por isso, não aceito quem fale dele sem nem conhecer. Rafael só me dá orgulho”.