"Cheguei a me odiar": na Fazenda, Luane fala de racismo na infância
A youtuber Luane Dias, única mulher negra participando da 10ª edição do reality show A Fazenda, desabafou recentemente com o casal Gabi Prado e João Zoli. Durante uma conversa sobre aceitação do corpo, ela disse que chegou a se odiar e “não querer ser negra”, tudo graças ao preconceito que viveu – e que, segundo contou, começou bem cedo, com experiências traumáticas na infância.
De acordo com Luana Génot, diretora executiva do ID_BR e especialista em relações étnico-raciais, a participante não está sozinha. “Faz parte de toda criança negra ter sofrido racismo, ainda que só se dê conta disso mais tarde”, aponta.
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No relato de Luane, o cabelo afro era motivo de piada na escola, o que lhe causava sofrimento. Segundo explica a especialista, desde cedo crianças negras passam a questionar a validade de suas características. “Faltam referências que se pareçam com seu estado natural: nariz largo, pele escura, cabelo crespo. Por isso, antes mesmo de ter o cérebro formado por completo, começa o processo de negação: o abandono do apreço por si e o desejo por um fenótipo diferente”, esclarece. Ou seja, a criança deseja se parecer com aquilo que é apresentado para ela como normal e tende a querer mudar em vias de ser aceita pelos demais.
Preconceito está em toda parte
Luana alerta para o fato de que costumamos pensar no racismo como se fosse um vilão. “Pintamos uma imagem de que ele está sempre na casa de outra pessoa, quando na verdade ele é praticado por todos nós, todos os dias, através das nossas ações”, diz. A especialista defende que, quando situamos o problema e percebemos que ele está internalizado, é mais fácil discutir o assunto e se aproximar de soluções.
Mais velhos devem ficar atentos
“Pais e professores precisam ficar alertas aos sinais de crianças com a autoestima afetada pelo racismo, pois isso pode trazer consequências sérias para seu futuro, seja na vida profissional, seja nas relações pessoais”, pontua. E uma das principais maneiras de se combater o problema é não minimizá-lo e nem tratá-lo como uma brincadeira entre crianças. “Vale a pena mapear e compreender o preconceito racial para poder questioná-lo”, completa.
Além disso, a especialista defende o diálogo com os pequenos, explicando as diferenças entre o que seria o ideal e o que acontece na realidade, enfatizando a luta pela igualdade e utilizando uma linguagem simples. “É pior pintar um mundo perfeito, pois isso não corresponde ao que acontece na prática”, opina. Por fim, é importante apresentar à criança múltiplas referências. “Contar histórias de homens e mulheres negros que são protagonistas. Não somente no esporte e na música, mas também de inventores, cientistas, escritores...”, diz.
Luana ressalta ainda que os pais têm grande poder de pleitear a diversidade. “Os pais podem exigir das escolas mais espaços entre o corpo docente, por exemplo, exigindo a presença de professores negros”, diz. Também é possível questionar a representatividade nos livros didáticos e paradidáticos e as atividades que acontecem ao longo do ano para que os debates sobre o tema não sejam deixados de lado.
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