Por que prazer e dor caminham de mãos dadas no sexo? Explicação é biológica
Aprendemos, praticamente desde o nascimento, a evitar a dor e a buscar o prazer. No entanto, sem nos darmos conta, não são poucas as vezes em que relacionamos uma sensação à outra e experimentamos ambas ao mesmo tempo.
No sexo, essa associação fica mais evidente - e não só para quem curte uma pegada sadomasoquista. Duvida? Confira os fatos a seguir:
Gozar e sofrer: uma relação ambígua
Um estudo conduzido pela Universidade Rutgers (EUA), divulgado em 2015, avaliou as imagens de tomografias cerebrais de mulheres enquanto elas se masturbavam.
De acordo com o resultado, mais de 30 áreas do cérebro estavam ativas, inclusive algumas que respondem pela dor. Segundo o autor da pesquisa, Barry Komisaruk, há um vínculo fundamental entre dores e orgasmos.
"Observamos que expressões faciais durante o orgasmo muitas vezes não podem ser distinguidas de expressões de dor", disse na época.
A ligação entre dor e prazer é biológica
Diversos estudos da literatura científica indicam que dor e prazer compartilham os mesmos mecanismos, estruturas e caminhos no sistema nervoso central.
Portanto, pode-se afirmar que dor e prazer se relacionam como os dois lados de uma mesma moeda. Isso porque há um conjunto de substâncias, encabeçadas pela dopamina e pelas endorfinas, cuja produção é estimulada em ambas as situações.
Endorfinas agem como anestésico
As endorfinas estão por trás da "incapacidade" de sentir dor durante o sexo. Elas são proteínas que agem para bloquear o sinais de incômodo enviados pelo cérebro e que funcionam de modo semelhante às drogas (a morfina, em especial), gerando uma sensação de euforia.
É por isso que, durante a transa, não sentimos desconforto com arranhões, mordidas ou puxões de cabelo — quando essas carícias são consentidas, é importante frisar.
As endorfinas não são uma molécula única. Geralmente aparecem no corpo em várias formas e podem ser de 18 a 500 vezes mais potentes no alívio da dor do que qualquer analgésico feito artificialmente.
Elas também aparecem no chamado "barato de quem corre" e justificam porque algumas pessoas ficam "viciadas" em atividades tidas como perigosas, como corrida de carro, mergulho em profundezas e bungee jump.
Sensação de alívio é importante
O prazer sexual provoca várias mudanças de percepção, que vão desde não sentir odores que em outros momentos consideramos ruins até ter sensações físicas ampliadas, principalmente as táteis.
É por isso, que quando uma dor ocorre, pode ser superada pelo desejo de continuidade do prazer, incluindo o alívio após o estímulo. Em algumas situações também sentimos o alívio como sendo prazeroso, mesmo que não seja uma sensação de prazer.
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Quero receberMasoquismo tem origem na infância
Os cinco sentidos — visão, audição, tato, olfato e gustação — são os canais de entrada tanto da satisfação (o prazer), como da humilhação e dor, no caso do masoquismo. Os masoquistas buscam a dor por meio de atitudes e comportamentos autodestrutivos com o objetivo de, por meio dela, suprir sua necessidade de prazer e amor.
Eles geralmente se autoflagelam, estimulam ou criam situações para serem oprimidos, humilhados, explorados. Segundo a literatura médica, estruturas familiares muito rígidas e conservadoras, com fortes figuras de autoridade e de agressividade, podem levar ao desenvolvimento pelo gostar da dor.
Por quê? Porque essas pessoas entendem a opressão como uma forma de amor. Uma criança que não teve carinho ou atenção pode vivenciar na agressão ou na humilhação uma maneira de ser notada e desejada.
Seria algo como "melhor sentir a dor e ser considerada do que não sentir nada e não ser lembrada". A dor acaba sendo aprendida como uma compensação.
Entretanto, deve-se ressaltar que mais do que a natureza da experiência vivida na infância, o fundamental é o tipo de registro feito de tal situação. Uma criança pode ter recebido muito carinho, porém, só memorizar alguns atos de agressão.
Vício na dor merece atenção
Algumas pessoas passam a precisar de estímulos cada vez mais fortes para sentir prazer e acabam se colocando em situações em que a dor oferece um perigo real; e até mortal.
Quando isso começar a acontecer, é preciso buscar ajuda terapêutica.
Fontes: Cibele Fabichak, fisiologista e autora do livro "Sexo, Amor, Endorfinas e Bobagens" (Matrix Editora); Oswaldo, terapeuta sexual e autor do livro "Parafilias - Das Perversões às Variações Sexuais" (Zagadoni Editora)
*Com matéria publicada em 06/10/2018
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