Superar uma traição: você realmente perdoou ou está se enganando?
Encarar uma infidelidade do par nunca é uma tarefa fácil. Mais complicado ainda é tomar uma decisão sobre os rumos da relação: acabar com tudo ou tirar aprendizado da experiência e tentar reconstruí-la? O problema é que várias pessoas que escolhem a segunda alternativa --seguir em frente-- nem sempre conseguem perdoar de verdade o deslize do parceiro. Desculpam da boca para fora, mas intimamente ficam remoendo a mágoa e sofrendo em silêncio.
"Infelizmente, isso ocorre bastante e reflete um relacionamento que já não está caminhando bem. Os problemas não foram resolvidos", pontua o psicólogo Yuri Busin, diretor do CASME (Centro de Atenção à Saúde Mental Equilíbrio), de São Paulo (SP). Antes de desculpar, de fato, é essencial fazer uma reflexão bem honesta das razões que existem por trás desse suposto perdão. "Se a traição é algo inaceitável para você, por que está passando por cima dos próprios sentimentos? Você está mesmo perdoando o outro ou simplesmente está com medo de seguir a vida só?", diz Yuri.
Um dos riscos de fingir --mesmo que de modo inconsciente-- que perdoou é varrer sentimentos para baixo do tapete. "Essa experiência tem uma carga emocional muito forte. Ciúme, raiva, sensação de humilhação, decepção, culpa, insegurança e até o desejo de vingança podem aflorar. Elaborar o que aconteceu a ponto de deixar tudo para trás leva tempo e, durante esse período, é preciso conviver com todos esses sentimentos e controlar muitos deles para conseguir voltar a ter um relacionamento harmonioso", afirma Luciano Passianotto, psicoterapeuta e terapeuta de casal, de São Paulo (SP).
Segundo a psicóloga Rejane Sbrissa, também da capital paulista, muitas vezes a pessoa traída começa a desconfiar de tudo que a outra diz ou faz. "Mesmo acreditando que perdoou, superar é bem mais complicado pois afetou a relação em sua raiz. Ou seja, abalou a confiança, o respeito e mexeu com a autoestima", observa.
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Além do pavor da solidão, outros fatores podem estar em jogo. Em geral, quem releva a infidelidade a contragosto o faz por causa de algum tipo de dependência: financeira, emocional, familiar, social etc. Para Luciano, agir assim só provoca mais danos: "Muitas vezes o perdão é somente uma máscara que esconde sentimentos negativos e danosos. A sensação de impotência frente aos caminhos da própria vida pode levar a comprometimentos psicológicos graves, como a depressão e ansiedade", conta. "Nesses casos, vale muito repensar a própria vida e ir aos poucos mudando e sendo cada dia mais independente", sugere Yuri.
É válido mencionar que nem sempre as coisas irão passar rapidamente, mesmo depois de muita reflexão e do perdão genuíno, pois marcas foram deixadas e demoram um pouco para serem cicatrizadas. Um dos pilares da relação foi quebrado e precisa ser reconstruído.
5 passos para o perdão
Há casos em que a pessoa ama o par e quer mesmo desculpar, mas não consegue. Nessas condições, o que é possível fazer? O terapeuta Luciano Passianotto dá algumas dicas:
Evitar o jogo da culpa
O primeiro pensamento após a descoberta de uma infidelidade é destrinchar o caráter de quem traiu e buscar algo em si mesma que possa justificar a atitude. Em vez de buscar culpados, é bom compreender que a experiência representou a necessidade de colocar um olhar diferente sobre a relação e a oportunidade de fazer ajustes.
Lembrar-se de que errar é humano
Muitas vezes, sentimos empatia pelo erro do outros nos âmbitos pessoal, familiar e profissional, mas é difícil reconhecer isso em um parceiro, já que esse erro afeta diretamente sua segurança psicológica. Os sentimentos de mágoa e decepção podem turvar a percepção do real significado do episódio e suas consequências. O ideal é esperar estar de cabeça fria para analisar a situação de modo mais racional e prático e decidir os próximos passos.
Não expor ou tornar o episódio público
Se há a mínima chance de perdão, o ideal é evitar falar sobre o assunto com muita gente ou com pessoas que não têm relação alguma com o ocorrido. Embora haja uma busca por acolhimento, acredite, elas não irão ajudar ou ajudarão de forma enviesada, tendo suas experiências como parâmetro. Publicar algo em uma rede social, por exemplo, expõe o casal de uma forma completamente desnecessária, possivelmente até inviabilizando a continuidade da relação.
Eliminar os pensamentos de vingança
Existem muitas formas de reconstruir e ressignificar o relacionamento, mas a forma como os dois vão lidar com a situação é o que vai ditar o futuro da relação. Querer pagar com a mesma moeda só leva à uma espiral de desconfiança, desrespeito e inquietude.
Contabilizar a relação
Em um primeiro momento pode parecer difícil, mas assim que conseguir organizar as ideias e pensar coerentemente, a pessoa traída deve buscar quantificar os momentos agradáveis e os negativos. Caso a soma das experiências boas sejam maiores que as ruins, já há um fator que deve ser usado como motivação para o perdão.
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