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Ela se tornou compulsiva sexual depois de um estupro e hoje ajuda vítimas

Telma Lobato conta como superou a ninfomania - Rudy Trindade/Divulgação
Telma Lobato conta como superou a ninfomania Imagem: Rudy Trindade/Divulgação

Luiza Souto

Da Universa

18/10/2018 04h00

A carioca Telma Lobato, de 55 anos, levou um terço de sua vida convivendo com uma compulsão sexual que a fazia transar em qualquer situação, mesmo que estivesse de resguardo ou em um hospital. Mãe de três homens e uma mulher, conta que tudo começou após ser estuprada no caminho para a escola, quando tinha 13 anos. Hoje, se tornou terapeuta e ajuda outras pessoas a se livrarem da compulsão através da terapia tântrica.

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“Meus pais se separaram quando ainda era muito nova e eu vivia entre as casas dos dois. Sentia que ninguém me queria. Um dia, aos 13 anos, tomei todos os remédios e bebidas da casa do meu pai. Queria me matar. Meu pai chamou o serviço psiquiátrico de urgência em casa e me apagaram. No dia seguinte, no caminho para a escola e ainda sob efeito dos remédios, um homem me deu um tapa, me colocou dentro do carro dele e, quando acordei, já estava no motel. Nunca encontraram o agressor.

O efeito do trauma não foi repulsa por sexo, foi o contrário. Aos 15 anos, eu já estava fazendo sexo todos os dias, várias vezes, com muitos homens diferentes. Fui mãe pela primeira vez aos 17. O pai da criança não assumiu e só minha mãe ficou ao meu lado.

Quando meu filho tinha oito meses, comecei a trabalhar no metrô, onde conheci meu ex-marido. Ele também era compulsivo e foi uma loucura. Nos atrasávamos para o trabalho, e às vezes nem íamos para ficarmos em casa transando. Nossa relação na cama era maravilhosa, mas sentia raiva. Depois das relações, gritava com ele. Me sentia estuprada de novo.

Tivemos três filhos. Nunca respeitei meus resguardos pós parto. Fiz uma cirurgia ginecológica e transamos dentro do hospital, mesmo tendo acabado de fazer cauterização. Não respeitávamos nenhuma regra, mas só tínhamos relação um com outro.

Começou a afetar a família inteira, porque quando se tem uma doença como diabetes, por exemplo, você é cercada de carinho. Mas quando é o caso de compulsão sexual, você é olhada como puta. E me chamavam dos mais variados adjetivos.

Depois de 20 anos, me separei e fui buscar a terapia. A partir dela, me reconheci como compulsiva sexual. Mas as sessões tratavam a parte emocional e racional, e não a memória do corpo. Foi aí que conheci o tantra. Na primeira sessão, eu gritava. Era uma catarse. Voltei ao estupro e ao abandono sofrido na infância, para depois me curar.

Somente depois dessas sessões de terapia consegui falar da minha história, por isso a conto, sem vergonha. Hoje não tenho necessidade do outro. Eu me basto. Tive um relacionamento maravilhoso de dois anos, com quem tive um orgasmo pela primeira vez".

Desejo hiperativo

A ninfomania, também conhecida como desejo hiperativo, é um transtorno psiquiátrico, conforme explica Telma, hoje sexóloga, terapeuta sexual e filiada à Abrasex (Associação Brasileira dos Profissionais de Saúde, Educação e Terapia Sexual). Começa com um excesso de masturbação, busca exagerada por sexo e falta de prazer, apesar de todos os estímulos. A vida profissional, familiar e social é afetada e geralmente leva ao sofrimento pela busca incessante do prazer.

“Algumas mulheres relatam que fazem uso excessivo de brinquedos sexuais e outros objetos como escova de dente, para se satisfazer, mas não conseguem. Nesta busca, muitas chegam a ferir a região genital”, explica ela.

Além da dificuldade de manter uma relação estável e social, a pessoa coloca sua saúde em risco por causa de doenças sexualmente transmissíveis, entre elas HIV:

“Na maioria dos casos que atendo, percebo que o que leva as mulheres a desenvolver a compulsão sexual é o abuso, o estupro e o abandono afetivo familiar, como foi o meu caso. Nessas situações, ela procura não o sexo, mas o toque e o afeto como forma de preencher o vazio”.

Para tratar esses casos, Telma usa o tantra, o reiki e outros métodos, sem medicamentos. Numa das técnicas adotadas, que ela chama de Mapeamento e Limpeza Energética Vaginal, o objetivo é fazer a mulher explorar o canal vaginal, com toques e respiração.

“Ao final das sessões, a ideia é a mulher conseguir se enxergar como ela realmente é, com amor próprio”, conclui Telma.