Gisele Bündchen colocava leite materno nos olhos dos filhos. Faz sentido?
Em entrevista à revista “People”, antecipando o lançamento de seu livro "Aprendizados: Minha Caminhada para um vida com mais significado", lançado no dia 2 de outubro, Gisele Bündchen discutiu suas experiências de amamentação de seus dois filhos, Vivian, de 5 anos, e Benjamin, de 8 anos. A modelo afirmou que as crianças nunca ficaram doentes no período em que consumiram leite materno, e Gisele chegou até a usar o alimento como remédio.
“Se eles estivessem com algo nos olhos, eu passava leite nos olhos deles. Antes de voar, eu pegava um conta-gotas e pingava leite materno em seus narizes, para espantar as bactérias do avião”, disse. Ela assume que o ato poderia parecer “loucura”, mas disse que fez isso para aproveitar o “dom” que tinha de amamentar. Será que o leite materno tem propriedades tão fortes assim, capazes de imunizar a saúde das crianças e também ser usado como remédio?
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“É evidente que as crianças que são amamentadas têm menos propensão às infecções”, diz Roberto Issler, médico pediatra, membro do Departamento de Aleitamento Materno da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).
Por que o leite materno é tão importante?
“O leite materno tem propriedades imunológicas que protegem a vida das crianças. Evita muitos tipos de infecções”. Ele explica que o leite é rico em propriedades, gorduras e proteínas que influenciam na proteção da saúde dos bebês. “A gente fala que leite materno é como um ‘sangue branco’. A composição é adequada pro consumo, absorção e proteção do bebê, favorece o nosso crescimento e desenvolvimento”, explica o pediatra.
Além disso, ele ressalta que o ato de amamentar passa anticorpos importantes para a imunização dos filhos. “Os anticorpos de doenças que a mãe já teve também estão contidos no leite materno e são passados nos primeiros meses de vida”, diz.
Mesmo sendo de extrema importância, o fato de uma criança ser amamentada com frequência não significa que ela nunca ficará doente durante os primeiros meses de vida. O pediatra esclarece que fatores externos, como sair de casa com frequência e contato com muitas pessoas, podem influenciar na possibilidade do bebê adoecer, mas que raramente o filho contrai uma doença preocupante nesta fase. “A criança amamentada dificilmente fica doente, e se fica doente, dificilmente é uma doença grave. Mas mesmo que tenha doença grave, é improvável que ela fique internada. Casos de crianças amamentadas que morreram por alguma doença são muito raros”.
Tempo de amamentação
Issler afirma que a orientação que a SBP e a Organização Mundial da Saúde (OMS) dão para as lactantes é que a criança seja amamentada exclusivamente com leite materno até os seis meses de vida. Após esse período, as entidades recomendam que a amamentação continue e seja unida à uma alimentação balanceada, respeitando o tempo de desenvolvimento do bebê. A criança pode ser amamentada “até os dois anos de idade ou mais”, segundo o médico. E quanto mais o bebê mamar, maior é a produção de leite da mulher.
“É um sistema que se auto-regula. Uma mamada frequente e bem feita fará com que a mãe consiga produzir mais leite, por isso existe o acompanhamento periódico das crianças”, explica. Ao mesmo tempo, não se pode forçar a criança - chamado por especialistas de “livre demanda”. “O bebê mama quando e o quanto quiser, a gente não controla tempo nem nada”.
Não conseguir amamentar por tanto tempo não é defeito
Apesar da importância da amamentação para o desenvolvimento dos filhos, o Dr. Issler reforça que as lactantes não devem se culpar caso não consigam produzir tanto leite quanto outras mulheres.
“É bom que fique claro que quase a totalidade das mulheres tem potencial de amamentarem seus filhos, e quando isso não acontece tem a ver com diversos fatores e quase nunca é responsabilidade da mãe”, afirma. Para ele, é essencial que as mães tenham um bom acompanhamento pré-natal e que, durante este período, sejam orientadas quanto à amamentação para que não fiquem se preocupando se conseguirão fornecer leite.
Tecnicamente falando, amamentar uma criança após os dois anos de idade não interfere em sua saúde de forma negativa. Issler diz que “estudos comparando o ser humano com outros primatas indicam que a amamentação se continuava até os três, quatro anos de idade [antigamente]”. Desta forma, ele julga que “não é fora do contexto biológico” manter a amamentação por mais tempo, e que a independência do leite materno deve ser algo gradual.
“O processo de desmame após os dois anos é um processo que deve ser conversado com a mãe para ser de um jeito tranquilo. A condução de dar limites na amamentação é semelhante a outras coisas do dia a dia”, avalia.
Leite materno possui “propriedades de cura”?
Na opinião do pediatra, o ato de usar o leite materno como remédio ou profilaxia vem de “hábitos e crendices populares”, sem respaldo científico confirmado - apesar de ser um agente poderoso e importante para a imunização. “O leite materno possui [o anticorpo] imunoglobulina A, tem quem um fator de proteção, mas o leite tem outros componentes que até favorecem o crescimento bacteriano. Os filhos de Gisele são imunes por conta da amamentação e não pelo fato de pingar leite materno nos olhos ou no nariz deles”, pensa.
Issler não crê que a afirmação da modelo seja essencialmente perigosa, mas, em casos este, ele recomenda que o tratamento seja feito da forma tradicional. “Se a criança está com secreção ocular, por exemplo, o mais indicado é lavar o olho com soro fisiológico para evitar que vire uma infecção bacteriana, uma conjuntivite, ou algo do gênero. A princípio, a ciência não corrobora ou apoia esse tipo de crendice popular. O importante é manter a higiene da criança e amamentar até o tempo indicado”.
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