Furry Fandom: praticantes falam do fetiche de se vestir de animal no sexo
Os adeptos de Furry Fandom assumem um ou mais personagens com forma animal e inteligência humana. Caracterizados, eles participam de eventos e encontros. Mas esse imaginário também inspira fantasias sexuais e, segundo os praticantes, pode elevar a temperatura na cama.
Partindo de um conceito semelhante ao do cosplay, os adeptos do Furry Fandom se reúnem em atividades e convenções, normalmente com fundo cultural, voltado à literatura, às artes visuais etc. As manifestações com personagens antropomórficos –animais que assumem algumas características humanas– podem ser consideradas parte dessa cultura. Os furries são os que se vestem com fantasias de animais, que geralmente recobrem todo o corpo e o rosto, confeccionadas de pelúcia.
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Caracterizados, eles se parecem com os populares mascotes de torcida. “Chama-se fursona o personagem que escolhemos para nos representar: geralmente é um animal com o qual nos identificamos fisicamente, emocionalmente ou mesmo na forma de se comportar”, explica Luiza Mannes*, 23 anos, ilustradora.
Também é possível criar um personagem híbrido, misturando as características de dois animais que, no contexto, servem como fonte de inspiração. “A minha fursona é uma junção de coelho com gato”, conta Luiza.
A roupa que caracteriza o personagem, nos eventos de Furry Fandom, se chama fursuit. Já a mursuit é a fantasia adaptada para o sexo, quando os praticantes desejam levar o personagem para a cama. A diferença está na facilidade de se retirar as peças ou parte delas, para permitir o contato físico entre o casal.
A artista plástica Márcia Canassa*, de 18 anos, já se aventurou na experiência, mas garante que nem todo seguidor da cultura Fandom a encara como um fetiche. “Mas essa é uma possibilidade, já que, reunidos na comunidade, há pessoas com interesses bem específicos. É fácil encontrar parceiros para a prática sexual nos grupos de Fandom nas redes sociais”, diz.
Na hora da transa, ela afirma que a mursuit aumenta a autoestima. “Você se sente como um personagem e, com isso, consegue ousar mais”, diz.
A estudante Lúcia Amorim*, de 20 anos, conta que o simples fato de ir para a cama fantasiada é algo que excita. “A forma de desenvolver o jogo sexual e o que acontece na cama varia de casal para casal, segundo as preferências que eles já têm. Mas poder fazer sexo por trás de uma persona animalesca, uma fursona, já é uma ideia muito excitante para mim”, afirma.
No movimento, ela se veste como uma cachorra border collie. “Minha namorada antigamente era um cangambá, a mistura de um cão com gambá. Mas, hoje em dia, ela é uma panda. Dá para ter mais de uma fursona ao mesmo tempo, e alternar personagens, se quiser”, explica.
Experiência sensorial e mais liberdade na cama
A sexóloga e fisioterapeuta sexual Márcia Oliveira é quem explica de onde vêm os estímulos sensuais relacionados à prática. “A maioria das roupas é peluda e essas texturas macias, por si só, estimulam a sensibilidade e, consequentemente, a fantasia”, esclarece.
Mas a principal motivação para usar o mursuit, normalmente, não é essa. “Em geral, o fetiche tem a ver com o imaginário de cada pessoa e até com os animais que fizeram parte da infância ou da adolescência dela. Além disso, a pessoa, como um personagem, sente que pode fazer o que não teria coragem de praticar em outro contexto, o que favorece os mais introvertidos”, diz a especialista.
Para apresentar a fantasia a alguém que não a conhece, a psicóloga e sexóloga Carine F. Saito sugere cautela. “É preciso entender se o fetiche realmente é algo importante para a obtenção do prazer e, se for, explicar para o parceiro como funciona e ver se ele aceita. É importante haver consenso, ambos se sentirem confortáveis com a fantasia”, diz.
Nada a ver com zoofilia
De acordo com a sexóloga Márcia, o Furry Fandom adaptado ao sexo é uma forma inofensiva de expressão da sensualidade e nada tem a ver com a prática envolvendo animais. O prazer vem do estímulo obtido ao ver um humano vestido de personagem, e não do contato sexual com o próprio animal. “Nós amamos os animais, protegemos, são nossa maior fonte de inspiração”, ressalta a praticante Márcia Canassa.
* Nomes trocados a pedido das entrevistadas
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