Falta de orgasmo: mulher conta como descobriu o prazer só depois dos 40
A baiana Ivanilde Barbosa iniciou a vida sexual aos 21 anos, mas diz que teve seu primeiro orgasmo apenas aos 42: um terapeuta sexual a diagnosticou com anorgasmia, que é a ausência de clímax. Segundo um levantamento feito pelo Hospital das Clínicas (HC) da FMUSP (Faculdade de Medicina da USP), 23% das reclamações entre as cerca de 200 pacientes atendidas todos os meses no Ambulatório de Sexualidade da Ginecologia sofrem disso. A falta de libido representa o maior número de queixas registradas: 65%.
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A doméstica acredita que o abuso sexual que sofreu do avô ainda na infância a influenciou. Ela conta a sua história à Universa.
“Comecei minha vida sexual um pouco tarde, aos 20 anos. Venho de uma família rígida, onde meninos e meninas não tinham muito contato. Meus pais nunca me deixaram sair sozinha, por exemplo.
Minha primeira vez foi muito ruim, porque não senti prazer, e o parceiro não se preocupou comigo, mesmo sabendo que eu era virgem. Não houve um carinho. Logo depois engravidei dele. Meu filho hoje tem 24 anos.
Tive vários namorados. Fiz amor com todos eles, mas nada de prazer. Não era dor, mas incômodo porque não vinha nada. E tem homens que nem conseguem perceber que a gente não está satisfeita. Eu era totalmente bloqueada e sentia um vazio muito grande. O sexo era totalmente sem graça.
Nunca conversei com minha mãe sobre sexo. Tentei me abrir com uma prima, mas ela achou um absurdo eu não saber o que era orgasmo aos 30 anos, e me achei incapaz de sentir prazer. Foi quando resolvi buscar ajuda.
Trabalho numa casa onde tem adolescentes e elas vivem comprando essas revistas que falam de tudo. Não terminei o colegial, mas pesquiso muito, vejo vídeos. Quando tem alguém falando sobre sexo, entro na conversa.
Numa dessas revistas, tinha uma matéria falando de mulheres que não sentem prazer, e resolvi marcar uma psicóloga. Fui a três sessões, e também busquei um terapeuta sexual.
Na primeira sessão com esse especialista em sexo contei minha história e também me passaram exercícios para relaxar. Fiz também terapia tântrica. Foram dez sessões no total, uma vez por mês. Naquela época, conheci um namorado nas redes sociais e tentei transar com ele, mas na primeira vez não senti nada.
Já tinha feito três sessões e vários exercícios em casa. Botava música, ficava em certas posições que me ensinaram, e nada. Na quarta sessão chorei muito.
Foi quando me veio a lembrança do abuso sexual que sofri aos dez anos. Em toda visita que meu avô fazia, ele ficava me tocando, mandando eu encostar nele também. Nunca falei isso para ninguém. Ali, o terapeuta sexual identificou meu bloqueio e falou da anorgasmia.
Depois de mais algumas sessões, encontrei esse meu namorado e ele me fez gozar pela primeira vez. É inexplicável a sensação.
Arrumei outro namorado logo depois, mas não gozei de cara. Achei que tinha voltado à estaca zero. Relaxei e foi na segunda. E também gozei muito. Hoje, aos 46 anos, estou casada com ele e muito feliz”.
Questões psicológicas podem influenciar
Na anorgasmia, a mulher tem desejos, se excita, mas não consegue chegar ao orgasmo. Ou seja, não é uma questão de estímulos inadequados. Uso de álcool, drogas e antidepressivos também podem levar a essa dificuldade, mas esses são 5% dos casos, conforme explica a fisioterapeuta e terapeuta sexual Andrea Dell'Aquila, membro da Abrasex (Associação Brasileira dos Profissionais de Saúde, Educação e Terapia Sexual).
Nos outros 95% dos casos, a anorgasmia ocorre por fatores psicológicos mesmo, segundo Andrea. Ela ensina que os maiores gatilhos vêm de experiência traumáticas, como abuso, culpa, tabus e a própria criação familiar, assim como a falta de intimidade com o corpo ou parceiro.
“A resposta sexual negativa desencadeia uma ansiedade, por temor do desempenho, antecipando uma sensação de fracasso. Isso faz a pessoa se desligar do corpo e ficar ligada na mente”, observa Andrea.
Profissionais como ginecologista e psicóloga podem ajudar no diagnóstico da anorgasmia. O tratamento vai de acordo com o histórico de cada paciente. Andrea indica buscar um terapeuta, especialista em sexualidade, para que se investigue o causador do problema e ajude numa solução. Ela costuma fazer trabalhos de relaxamento e exercícios de autoconhecimento.
“Eu uso um trabalho, que chamo de terapia do espelho, em que a mulher se observa melhor e faz as pazes com o corpo para ela poder ter prazer consigo mesma”, exemplifica Andrea.
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