Por que a pessoa começa um relacionamento sem querer, de fato, estar em um?
Apostar em um envolvimento com alguém para ver no que dá, sem nutrir um sentimento mais profundo, é mais comum do que se imagina. Nem sempre isso acontece porque a outra pessoa é interessante, atraente e, portanto, vale o investimento. Em muitos casos, quem inicia uma relação sequer gostaria de tê-la começado - e, assim, arrisca-se a sofrer e a provocar sofrimento por causa de uma série de motivos.
Para Silvia Donati, coach pessoal e profissional de São Paulo (SP), desde crianças absorvemos comportamentos automáticos e alguns não são questionados na fase adulta. "Somos programados a pensar que relacionamento é um objetivo de vida. Isso se torna uma de nossas crenças, pois acreditamos que há uma ordem natural de acontecimentos em nossa trajetória de vida em que crescer, namorar, casar e ter filhos são etapas desta conquista. Para muita gente, não estar em um relacionamento pode representar o fracasso de sua existência. No entanto, trata-se de uma crença limitante que deve ser repensada para se viver feliz estando ou não numa relação amorosa", explica.
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Essa crença é alimentada por questões de gênero, já que muita gente ainda acredita que uma mulher "acompanhada" ou "comprometida" tem mais valor do que a que está sozinha, mesmo que por vontade própria. Aliás, segundo Silvia, se esse conceito ultrapassado a incomoda, é porque de alguma forma você concorda com ele. Ao se relacionar com alguém de má vontade, então, pretende seguir, em tese, o que a sociedade considera "normal" ou adequado.
A pressão de amigos e familiares também tem um peso significativo. "Quem não está em um relacionamento sempre é olhado com desconfiança. A família cobra isso para sentir-se tranquila de que aquele membro está ok", diz Lígia Baruch de Figueiredo, doutora em Psicologia Clínica pela PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) e coautora do livro "Tinderellas - O amor na era digital" (Ema Livros). Para quem se deixa influenciar ou liga demais para a opinião alheia, essa pressão é fatal.
Outro fator que precisa ser considerado é o medo da solidão. "Como o ser humano se sente incompleto, mesmo que de fato não o seja, busca no outro a completude. Ser feliz sozinho é desmembrar os limites do próprio ego, é lidar com todos os fantasmas e monstros. Portanto, a solidão pode ser, sim, um fator de busca de uma realização em um outro alguém, mesmo que esse alguém não seja o que a pessoa procura exatamente", declara Elaine Di Sarno, psicóloga e neuropsicóloga de São Paulo (SP).
"Enquanto não aprendemos que somos nossa melhor companhia, procuramos isso num relacionamento externo. Estar sozinha não implica em solidão. O medo dela pode nos levar a relacionamentos nada saudáveis, porque depositamos no outro toda a nossa chance de ser feliz. Na verdade, nossa felicidade não depende de outra pessoa, assim como o fato de estar com alguém não impede que se sinta solidão", afirma Silvia.
A sede de vingança é outra razão recorrente. A vontade de dar o troco num ex, por exemplo, pode levar uma mulher a se envolver com alguém somente para provar que tocou a vida sem o antigo amor. Competir com amigas ou irmãs comprometidas, partindo para um namoro "burocrático" só para não ficar para trás, também segue uma lógica meio torta. "Esse tipo de pressão interna pode levar a cometer equívocos nos futuros relacionamentos, com pessoas que não estão de acordo com o que você gostaria. Ver as amigas casando e tendo filhos também um motivo para, às pressas, encontrar a pessoa errada", admite Elaine.
Na opinião de Lígia, existem outros motivadores: a vontade de substituir alguém, a esperança de o relacionamento ficar bom depois, a carência de ter um par para dividir as impressões do dia a dia, a curiosidade de conhecer um universo diferente, a necessidade ou a vaidade de ter alguém apaixonado ao lado... As razões são inúmeras, assim como os riscos de se magoar.
Quando a busca para ter alguém se torna ansiosa demais ou se o receio de ficar só passa a assombrá-la sem dó nem piedade, talvez seja a hora de ponderar se você não está conseguindo suprir suas próprias necessidades e alimenta a ilusão de que o outro pode supri-las.
"É um risco muito grande passar a vida inteira procurando no outro a sua própria felicidade. Há pessoas que simplesmente não vivem a vida e morrem sem ter encontrado prazer em atividades que não fossem atreladas à outra pessoa. Na verdade, um parceiro pode ajudar no seu caminho, mas só você pode fazer isso por si mesma", avisa Elaine, que completa: "Não há problema em querer ficar só, em querer gastar seu tempo de forma 'egoísta' ou colocar seus desejos e necessidades antes de qualquer outra pessoa.
Relacionar-se com alguém não deve ser uma obrigação, mas um prazer." Para se livrar das cobranças, sejam elas internas ou externas, também é fundamental avaliar o quanto está agindo a partir de uma vontade real ou está se rendendo às pressões. "O autoconhecimento ajuda a aumentar a percepção de si mesma e a acessar seus verdadeiros desejos e anseios", orienta Silvia.
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