Influencer negra, Ana Paula Xongani, chama a atenção de grandes marcas
A empresária de moda e criadora de conteúdo digital Ana Paula Xongani, de 30 anos, tem 50 mil seguidores no Instagram e mais 58 mil inscritos em seu canal de YouTube. Há cerca de dez anos produzindo roupas com uma pegada africana (que já conquistaram famosas como Thaís Araújo, Sheron Menezes e Iza) e outros seis, dando opiniões, vendendo seus produtos, falando de moda e beleza e publicando fotos nas redes sociais, Ana Paula se tornou uma influencer de peso. O que a diferencia de tantas outras no Brasil é o fato de ela ser negra; a minoria das minorias nesse universo.
Para apoiar influenciadores negros, a empresária se reuniu, em julho, com outros 24 criadores de conteúdo no Coletivo Influência Negra. “É uma plataforma racial com o intuito de aumentar a visibilidade de figuras negras na internet. Queremos ocupar esse espaço que é tão nosso quanto de qualquer outra pessoa”, diz o manifesto do grupo. O coletivo surgiu após a Colgate anunciar um time de 11 influenciadores que continha apenas uma pessoa negra. “Começamos a fazer um questionamento sobre a ação”, explica Ana Paula.
E deu resultado.
Veja também:
- Ela vendia lingerie de porta em porta e hoje exporta cosméticos eróticos
- Ex-vendedora de frutas fatura R$ 1 milhão fazendo lancheiras saudáveis
- Jornalista investe em bufê e passa a ganhar cinco vezes mais; veja como
Na imagem da campanha #InfluenciaNegra, hashtag levantada pelo coletivo, lia-se: “Não se esqueça de nós e dos mais de 500 milhões de visualizações, além dos quase R$ 2 trilhões que nosso público consome. Com diversidade dá para ter mais de 230 likes no Instagram, né?”.
A Colgate deu uma resposta oficial em sua conta no Instagram, informando que expandiria a equipe de embaixadores. “Eles foram bem sensíveis. Nos contataram e entramos como cocriadores para repensar como a marca ia refazer a comunicação digital dela”, conta Ana Paula. Há cinco meses, ela entrou como um das influenciadores da marca, ao lado Giovanna Ferrarezi, Ellora Haonne e Maddu Magalhães.
“Negros precisam ocupar também a internet. O ideal seria que mais do que 50% dos influencers fossem negros, para refletir a sociedade que vivemos”, diz a empresária, que fundou a marca de roupas Xongani, com a mãe. Atualmente, as pessoas negras correspondem a 53,4% da população brasileira, segundo levantamento feito pelo IBGE em 2014.
De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (IBMEC), 47% da população negra brasileira têm a chance de ter uma renda superior a dos pais. Ou seja, a cada geração, a renda da população negra aumenta. Financeiramente falando, são consumidores que deveriam ganhar mais atenção. E ter influenciadores negros é uma forma de falar com este público.
Porém, segundo a empresária, criadores de conteúdo não são contratados por marcas por preconceito. Há a ideia de que um influenciador precisa ser uma pessoa inspiradora, mas muitos ainda pensam que “o que é afro, negro, é considerado feio”, de acordo com Ana Paula. “O racismo é estrutural. E o marketing de influência ainda é muito branco”, diz a criadora de conteúdo. Mas o cenário digital deve mudar com o aumento de influenciadores negros. “Estamos questionando e estimulando o debate neste mundo digital”.
“Enfeite-se!”
Muito antes de entrar para o marketing digital, Ana Paula já era importante na militância negra por ter criado, em 2010, a marca afro Xongani. Na empresa, a jovem procurava enaltecer a identidade dos negros brasileiros. “As roupas da Xongani são resistência, porque é uma retomada da ancestralidade que nos foi tirada quando os negros vieram escravizados para o Brasil”, explica Ana Paula. Há 8 anos no mercado, a empresa vende, segundo a empresária, cerca de mil peças por mês, aumentou o faturamento em 50% em relação a 2017 e tem sete funcionários.
“Xongani”, em changana, língua do sul de Moçambique, significa “enfeite-se”, “fique bonita”. Mesmo antes de adotar a expressão como sobrenome, Ana Paula já se sentia muito bonita graças à mãe, Cris Mendonça, sua sócia na marca afro. “Ela costurava roupas que contemplavam o meu corpo, que serviam para o meu cabelo, e isto ajudou muito na minha autoestima”, diz a empresária. Com a Xongani e o canal no YouTube, a criadora de conteúdo espera fazer o mesmo pela próxima geração, incluindo a filha de quatro anos, Ayoluwa, e outras pessoas negras que a acompanham pela internet.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.