Antes da posse de Bolsonaro, grupos LGBT se ajudam para produzir casamentos
Tudo começou com um post de um fotógrafo se oferecendo para trabalhar de graça em casamentos de LGBTs que querem formalizar a união até dezembro. Agora, a ideia viralizou. Em todo o Brasil, gays e lésbicas se preparam para casar até janeiro com a ajuda de profissionais que oferecem seus serviços gratuitos, como forma de ativismo e solidariedade.
Por que tanta correria? A vitória de Jair Bolsonaro provocou corre-corre entre gays e lésbicas que pretendiam registrar sua união em cartório: quem pensava em casar depois da posse, tratou de agendar uma data antes dela, com medo do que pode vir a acontecer em termos de repressão. A onda de solidariedade se espalhou por todo o Brasil com a hashtag #casamentoLGBT. Festas já estão marcadas com vários serviços gratuitos, de comida e bebida a ajuda com a parte burocrática.
A carioca Rossanna Pinheiro, dona do Riot Karaokê, decidiu fazer parte do movimento ao ver outros profissionais oferecendo seus serviços. A procura foi tanta que ela criou no Facebook a página “Casamentos LGBT”, que reúne profissionais que oferecem variados tipos de colaboração.
"Criei a página na segunda-feira e passei a receber uma média de 100 mensagens por hora. Estamos nos juntando para organizar casamentos em todo o país”, ela conta. Rossanna vai levar seu serviço de karaokê para o primeiro casamento feito “de graça” no sábado. “Estou muito emocionada. Consegui também um espaço no Rio de Janeiro que vai fazer festas de graça. Esse é um ato de resistência. Não me sentiria bem se não fizesse nada pelas pessoas nesse momento. A maioria dos casais que me procuram não tem dinheiro para casar e, ao mesmo tempo, sentem urgência em fazer isso com medo de perder o direito.”
Rossanna, casada e mãe de uma filha adolescente, conta com apoio total do marido. “Isso está me tomando muito tempo, mas está me trazendo uma alegria incrível. Caí em depressão depois das eleições. É isso que está me levantando”, diz.
"Quando uma pessoa declaradamente homofóbica se torna presidente da República, tudo pode acontecer. Eu sinto que a comunidade LGBT teme que suas conquistas sejam revogadas numa canetada, por conta do preconceito", diz a bartender lésbica Jéssica Oliveira, 26 anos, estudante de nutrição, que está dando desconto de mais de 50% a quem contratá-la para trabalhar na festa de casamento. Cobra R$ 800, com bebidas e material descartável incluídos.
Jéssica diz que já trabalhou em eventos LGBT, mas nunca em um casamento. Suas especialidades são caipirinha e mojito. "Vou dos drinks clássicos, aos mais modernos", afirma.
O produtor de eventos Caíque Paz, 24 anos, conta que, desde o primeiro turno das eleições, a comunidade LGBT passou a se unir para ajudar na produção de festas. "Já tem gente oferecendo maquiagem, cabelo, roupa e até massagista", conta Paz. Ele diz que a resposta às ofertas foi imediata. "Recebi 1600 comentários e 700 pessoas compartilharam logo no primeiro dia de post".
Quem quer fazer álbum de fotos, pode entrar em contato com a fotógrafa carioca Edi Fortini, de 40 anos, que passou a oferecer seus serviços gratuitamente para casais LGBTs que decidiram casar antes da entrada do novo governo.
"Vi a hashtag #casamentoLGBT no Twitter e imediatamente fiz um post divulgando que poderia registrar com fotos o casamento de pessoas que vão se casar às pressas, temendo perder esse direito. É um pouquinho que posso fazer, mas acho que se cada um fizer um pouco, podemos ajudar muita gente”.
Edi é fotografa há dez anos e cobra entre R$ 2.000 e R$ 3.000 por álbum digital. Ela já tem dois casamentos LGBTs de última hora marcados, onde fará o trabalho de graça.
Nem tudo é festa
Para alguns casais, é difícil realizar o casamento por uma razão prática: a dificuldade de pagar a taxa de cerca de R$ 400 necessária para realizar a união nos cartórios. Pois tem quem ajude até com isso. Caso de Camila Ramos, que trabalha na Fundação Leão XIII em Angra dos Reis, na região litorânea do Rio de Janeiro.
“Fazemos ações que levam serviços aos bairros mais pobres, como, por exemplo, o casamento. Ajudamos com documentos para conseguir a isenção de taxa. Quando vi pessoas oferecendo serviços para casamento, pensei que poderia ajudar dessa maneira.”
Além de ajudar os casais da região onde mora, ela se prepara para ir ao Rio de Janeiro, onde ficará dois dias com o objetivo de orientar mais de 30 casais no preenchimento da papelada para conseguir a isenção.
E por que ela faz isso? “Tenho medo de que meus amigos gays percam esse direito tão lindo, que é o de casar, construir uma família. Não deixarei de fazer a minha parte para que isso aconteça”, conta Camila, que tem 24 anos.
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