Calcinha menstrual funciona? Testamos modelos de três marcas para responder
Usamos três marcas de calcinhas menstruais disponíveis no mercado - Pantys, Korui e Herself (que também tem biquínis)- para comparar e avaliar a que funciona melhor.
Dividimos a tarefa entre três mulheres da equipe de Universa, cada uma com um fluxo menstrual diferente: leve, moderado e intenso.
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Para cada marca, pedimos modelos adequados à intensidade do fluxo. Os preços variam de R$ 75 a R$ 95. Usamos as peças por três ciclos para falar o que achamos. Abaixo, nossas considerações sobre a praticidade, o conforto, e a higiene das calcinhas menstruais.
"Tive que refazer o pedido para duas marcas porque os modelos são apertados demais"
Quando me perguntam se gostei da calcinha menstrual, respondo com convicção que sim. É tão confortável que, ao usar, cheguei a esquecer que estava menstruada. Não a senti úmida, não vazou, não tinha cheiro forte. Só lembrava quando ia ao banheiro.
Mas há duas coisas que preciso falar sobre essa experiência antes de continuar: 1) meu fluxo é muito baixo, de três dias, sem oscilação de volume; e 2) demorei para encontrar o tamanho certo: das três marcas que testamos, tive que pedir novas calcinhas, maiores, para duas delas.
A verdade é que desconfiava que teria problema com o tamanho quando decidi experimentá-las. Como meu fluxo é leve e, sabendo da existência da calcinha, o absorvente virou um trambolhão, uma coisa muito maior do que eu precisava. O interno e o coletor menstrual não eram alternativas válidas, acho desconfortável.
Ao pesquisar sobre as calcinhas, não conseguia definir nem o modelo nem o tamanho mais adequado. Isso porque eu previa que, para evitar vazamentos, a peça seria mais justa ao corpo do que os modelos normais. Mas aí teria que pedir um tamanho maior? E se ficasse frouxa?
Na primeira vez que procurei, cheguei à marca Pantys, uma das primeiras a fabricar os modelos no Brasil. Mas nas fotos do site, com as modelos usando as calcinhas, eu não reconhecia meu corpo em nenhuma daquelas mulheres. As modelos eram ou magras ou gordas, e eu não sou nem uma coisa nem outra.
Pedi a tanga, indicada para fluxo leve, no tamanho G. Também pedi a G da marca Korui (que tem modelo único, larguinho do lado) e a 42 da Herself (também no modelo tanga).
A da Pantys me surpreendeu. É bonita, muito bem acabada, com um tecido leve. Mas a tanga G ficou muito apertada dos lados, a ponto de a tirinha lateral enrolar e marcar na roupa, como se meu quadril estivesse dividido. A da Korui foi a melhor no primeiro momento: não era tão bem acabada, mas o tecido era elástico, se ajustava bem ao corpo. Ainda assim, as costuras apertaram. Dormi com ela e acordei com a pele marcada. A da Herself quase não consegui vestir, de tão apertada, quem dirá usar. A tira lateral é muito rígida, parecia que era uma peça dois números menores do que o meu.
Depois de usar a Pantys por um dia, procurei a marca para pedir a GG. Não tinha a tanga, me mandaram GG de outro modelo, um pouco maior. Aí sim minha experiência foi boa.
Confortável, o tecido absorvente que "recheia" o fundo da calcinha é grosso, mas maleável. Não mancha, porque o forro é preto - e isso em todas as marcas. Tem uma transparência na lateral que faz dela um modelo elegante e até mais bonito que outras lingeries normais minhas. A absorção foi ótima. Sempre que ia ao banheiro, pressionava um pedaço de papel nela para ver se estava úmida, e o papel saia limpo. Também usei para correr e não me incomodou.
Preferi a Pantys porque o corte dela no bumbum é mais cavado, e eu prefiro calcinhas menores. A da Korui só uso para dormir e a Herself, mesmo depois de me mandarem um tamanho e modelo maiores depois da primeira experiência, continuou apertada demais para ser usada.
Agora já sou adepta da calcinha menstrual. Uso como uma calcinha normal: coloco de manhã e troco à noite, para dormir. A Pantys recomenda que a própria mulher defina o tempo de uso. A indicação é que se tenha pelo menos três peças. Pra mim é o suficiente para usar durante o ciclo, porque sempre lavava depois de usar e dava tempo de secar enquanto usava outra. A higiene, inclusive, é uma etapa que pode incomodar no começo. Meu método é encharcar de água, ir torcendo e esfregando com sabonete próprio para calcinha. A cada torcida, escorre o sangue diluído, que parece meio nojento no começo mas, depois, acaba acostumando, afinal, é só um pouco do meu próprio sangue.
Camila Brandalise, repórter de Universa
"O maior problema para mim foi a lavagem"
Usar uma calcinha absorvente para quem tem o fluxo menstrual de moderado a intenso era, no mínimo, anti-higiênico, considerando que passo mais de 10 horas fora de casa, enquanto a recomendação de uso é de seis a dez horas. Mas para tudo tem um jeito quando se está disposta a experimentar.
Para a primeira vez, testei modelos das três marcas em um fim de semana. A segurança de sair na rua era zero. Pedi das calcinhas maiores, para tentar me sentir o mais confortável possível. Usei por seis horas.
Já que era para ver se realmente funciona, vesti o modelo Pantys no segundo dia do ciclo, o mais forte. A sensação inicial foi de bastante desconforto, porque sentia a menstruação descendo cada vez que me mexia, diferente de quando uso absorvente interno ou normal. E de hora em hora ia ao banheiro verificar se não estava vazando. Perto da sexta hora, também comecei a sentir o cheiro do sangue. Perguntei ao meu parceiro se ele também estava sentindo, mas pela resposta parecia ser coisa da minha cabeça. Mesmo assim, foi desagradável.
Fora essas sensações, nada de vazamento. Com isso, arrisquei uma ida ao shopping perto da minha casa e acabei ficando mais duas horas com a calcinha. Segurou de boa, apesar da sensação de peso entre as pernas.
Não foi muito diferente com os modelos da Herself e da Korui, que são bem parecidos. Coloquei para dormir e usei no terceiro dia do ciclo, também intenso, obedecendo as horas, e deu tudo certo, mas também não me atrevi a ir ao trabalho com ela. Ainda não me vejo trocando uma calcinha num banheiro público, por mais limpo que seja, e andando com ela molhada na bolsa, mesmo que esteja embalada.
Mas se a ideia era passar por todos os perrengues, no mês seguinte resolvi malhar usando um dos modelos, no segundo dia de menstruação. Por incrível que pareça, nada senti. Achei até que o fluxo estava menor. Tomei banho normalmente, pude lavar a calcinha, e fui para o trabalho com o outro modelo. Sim, passei o dia com ele. Mas quando completaram as oito horas, corri para casa. Era fim do expediente mesmo e não me atrevi a fazer mais nada. Ainda usei roupa escura, mais larga, pronta para algum vazamento discreto. Cheguei em casa e estava tudo em ordem.
Hoje, são raros os momentos em que uso absorvente, e por um espaço curto de tempo no dia. Senti até que meu fluxo diminuiu, mas não sei dizer se tem algo relacionado. De quebra, o uso frequente das calcinhas acabou com as assaduras que o absorvente me dá na pele.
Apesar de certo desconforto que a calcinha provoca inicialmente, e de ainda não ter coragem de trocá-la fora de casa, o maior problema pra mim está na hora da lavagem: não ouse fazer isso no box caso não queira que ele saia todo sujo. Sim, é nojento, ainda mais quando o fluxo está intenso. A melhor maneira que encontrei foi jogar no tanque, dar uma boa esfregada e deixar de molho, seguindo as instruções de limpeza.
Quanto ao tamanho e material, para mim não fez diferença entre as marcas. As três absorveram bem.
Luiza Souto, repórter de Universa
"Nunca mais quero usar absorvente de plástico"
Absorvente de plástico é algo muito distante da minha realidade há alguns meses, desde que comecei a usar coletor menstrual. Mas, por mais que seja prático quando você pega o jeito, não é a coisa mais simples do mundo colocar um coletor no chuveiro quando você toma banho com um bebê de quase dois anos. Dizem por aí que as mulheres são especialistas em acumular funções - e acredito que sejam mesmo - mas até eu que adoro fazer 20 coisas ao mesmo tempo tenho dificuldades em recolocar o coletor num momento de pressa.
Como voltar para o absorvente de plástico não era uma opção para mim, me interessei em testar as calcinhas absorventes. Com uma certa preocupação, claro: será que um fluxo intenso fica retido na calcinha? E, se sim, por quantas horas?
No primeiro dia do ciclo não botei fé em sair com uma delas e ir para o trabalho. Achei que se houvesse um acidente ou vazamento seria muito mais difícil de remediar. Usei o coletor normalmente e quando cheguei em casa, depois do banho, em vez de fazer malabarismos por cima do meu filho no box, me enxuguei normalmente e coloquei a calcinha. A ideia era dormir com ela e ver como funcionaria à noite. Apesar da tensão ? o primeiro dia é muito forte ? nada aconteceu. Acordei limpa e o lençol também. Ufa.
Entrei no banho com calcinha e tudo, dessa vez sem filho, e lavei no chuveiro mesmo. Sai bastante sangue, é verdade, mas nada que uma mulher que menstruou uma vez na vida não tenha visto. Nem demora muito, espreme bem e pronto. Aí levei para a lavanderia e deixei de molho, como manda o fabricante, e depois lavei na máquina normalmente com as outras roupas. Estava bem limpa, já, talvez nem precisasse, mas segui esse procedimento todas as vezes em que usei as calcinhas.
A partir do terceiro dia de menstruação, passei a usar as calcinhas durante o dia também. Até esqueci que estava menstruada. Não senti acúmulo de cheiro e nem fiquei desconfortável.
Acho que precisamos de umas três calcinhas pelo menos para conseguirmos nos virar durante todo o ciclo porque como ela tem um forro grosso, demora um pouco para secar.
Não senti muita diferença entre as marcas que provei. As três seguraram o fluxo nos dias em que eu as usei. Até tentei sair de casa no primeiro dia de fluxo com uma delas no segundo mês de uso, mas acabei colocando o coletor também porque ia ficar muitas horas fora. Foi a melhor coisa que eu fiz: o coletor transbordou um pouco e a calcinha segurou a onda. Eu tirei o primeiro e fiquei só com ela o restante da noite. Adorei a experiência e confirmei o que já pensava: não volto para absorventes descartáveis nunca mais.
Luciana Bugni, editora de Universa
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