Cansei de ser trouxa: saiba o que é a responsabilidade afetiva nas relações
A cena é bem comum: você conhece uma pessoa bacana, com várias coisas em comum, procura sinais de que ela possa ter as mesmas intenções que você. Até que, quando menos se espera, ela diz que não quer aquilo no momento, ou que “você entendeu tudo errado” sobre as intenções dela. Ou simplesmente some sem dar explicações. Já ouviu falar em ghosting? Pois é...
Quem nunca se sentiu iludido por algum parceiro em potencial, o famoso “ser feito de trouxa”?
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Justamente para evitar situações como essa, tem se falado na internet sobre o conceito de responsabilidade afetiva: quando o casal deixa claro, logo de início, o que espera da relação para que o outro não crie expectativas exageradas ou espere algo que não vá acontecer. Desta forma, as chances de sair magoado de uma relação nova - caso ela dê errado - são menores.
“Se a gente for parar para pensar, é um nome novo pra assertividade, que é deixar claro o que você precisa do outro”, pensa Giovanna Lucchesi, psicóloga e terapeuta de casais do InPaSex - Instituto Paulista de Sexualidade, de São Paulo (SP).
“Hoje, as pessoas quando começam a se envolver, têm a tendência de entender melhor o que o outro quer nesta relação, acho que algumas discussões até sobre igualdade de gênero e sobre relações de qualidade fazem com que a gente tenha mais essa discussão sobre responsabilidade afetiva.”
Relacionamento sem casamento
Danielle Bevilaqua, psicóloga e terapeuta de casais de São Bernardo do Campo (SP), acredita que a maior liberdade e novos tipos de dinâmicas de relacionamentos fazem com que se discuta mais o que as pessoas esperam de seus parceiros.
“Antigamente, as pessoas já se relacionavam com o objetivo de casar, então já deixavam claro suas intenções”, diz.
“Hoje as mulheres se dão o direito de escolher quem querem e para o que querem. E como existe muito mais liberdade, algumas pessoas acabam se perdendo nisso, esquecem o comprometimento com o outro. Quando a gente fala de responsabilidade afetiva, a gente fala de comprometimento.”
Comprometimento não significa, necessariamente, assumir um namoro ou pedir em casamento, mas se preocupar com os sentimentos de quem está envolvido.
E, contrariando o senso comum de que mulheres gostam de “discutir a relação”, não são só elas que estão cobrando este comprometimento de seus parceiros ou parceiras.
“O que eu observo são muitos adultos jovens, entre 20 e 30 anos de idade, homens e mulheres, procurando relações assim: mais explícito no que se quer da outra pessoa. A gente tem uma tendência de pensar que isso é uma exigência mais feminina, mas isso é um viés de estereótipo de gênero”, afirma Lucchesi.
Será que me iludi mesmo?
Bevilaqua explica que, quando estamos procurando alguém, há dois tipo de sedução que, quando dão errado, nos levam a acreditar que fomos iludidos: quando uma das partes só conquista outra pessoa por diversão, sem pensar no que o outro sente; e quando os dois até estão a fim de prosseguir com a relação (independentemente de ser um namoro firme ou só sexo casual), mas um deles acaba percebendo que não era bem isso que queria, por isso decide terminar tudo.
“Não há problema entre sexo casual ou qualquer outra coisa desde que os dois realmente queiram. Mas se isso não for conversado e acordado, alguém do casal pode sair ferido”, explica a terapeuta.
Lucchesi explica que isso ocorre porque normalmente deixamos nossas expectativas falarem mais alto, ocupando o espaço que deveria ser do diálogo com o outro. “Claro que, quando a gente se envolve e se apaixona, a gente faz algumas projeções e acaba às vezes querendo encontrar sinais para provar que o outro está disponível. Isso pode acontecer”, avalia.
Conversa e autoconhecimento são a chave da responsabilidade afetiva
Antes mesmo de procurar novos relacionamentos, Lucchesi acredita que o primeiro passo para lidar com a responsabilidade afetiva é ser franco consigo mesmo e fazer uma autoanálise: o que realmente procuro em um novo encontro?
“Devemos reconhecer nossos limites enquanto indivíduos: antes de entrar em uma relação, precisamos identificar em nós mesmos e passar ao outro o que a gente realmente quer, seja numa amizade ou numa relação afetivo-erótica”, afirma.
O próximo passo é saber se comunicar com os outros. Bevilaqua explica: “conversar a respeito do que gosta, do que quer, do que sente e determinar a disponibilidade emocional da pessoa naquele momento do relacionamento. Isso facilita o processo de empatia, para que todos os envolvidos se sintam à vontade para se pôr no lugar do outro e não ferir os sentimentos de ninguém”.
E os casais que já estão juntos há algum tempo?
E não só relações novas podem se beneficiar, mas casais cujo relacionamento está desgastado têm muito a ganhar trabalhando a responsabilidade afetiva com o parceiro.
“Pode acontecer de a pessoa estar se apaixonando no começo, e depois perder a paixão e se descomprometer. Então ela não consegue mais estar com o outro, mas não fala sobre isso e empurra a situação com a barriga até que tudo termine”, diz Bevilaqua.
“Se a gente pensa num casal de longo prazo, o envolvimento provavelmente está desgastado porque a comunicação e a expressão das emoções e necessidades não têm mais espaço. Esta é uma grande dificuldade que os casais têm de entender. Necessidades presentes no início do relacionamento vão mudando, mas isso não significa que é falta de amor”, conta Lucchesi.
São estas características que precisam ser trabalhadas entre parceiros de longa data para que a comunicação volte a ser constante na relação.
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